- Folha de S. Paulo
Ainda que inconclusiva, literatura sobre condicionantes do voto dá pistas sobre a eleição
“Se todos os economistas fossem enfileirados, eles não chegariam enfim a uma conclusão”, diz a frase sarcástica atribuída a George Bernard Shaw.
Se todos os estudos de politólogos sobre os determinantes do voto brasileiro fossem empilhados, esse monte de indefinições acadêmicas nos deixaria com uma pilha ainda maior de dúvidas sobre como pensar a eleição. Ainda assim, essa literatura dá pistas para especulação menos desordenada sobre a disputa para presidente.
Uma hipótese que serve para delimitar as possibilidades dos candidatos é a de que extremistas teriam pouco apreço do eleitor. Sempre nuvem em movimento, a definição de extremismo ficou mais atrapalhada. A aparição de Jair Bolsonaro (PSL) deslocou para o que ora se chama de “centro” nomes como o de Geraldo Alckmin (PSDB). Mas passemos.
De fato, centro-esquerda e centro-direita dominaram as eleições de 1994 a 2014. Não foi assim justamente na eleição que é prima desta de 2018, a de 1989.
O que então passava por extremo, a salada liberal de Fernando Collor (PRN) e a feijoada esquerdista de Lula da Silva (PT), foi ao segundo turno. Porém, fizeram juntos apenas 48% dos votos válidos no primeiro turno. Nas demais eleições, tucanos e petistas tiveram no primeiro turno pelo menos 70% dos votos (2002) ou até 90% (2006).
Fragmentação de candidaturas e crise político-econômica talvez favoreçam extremos, que, porém, levam poucos ou menos votos. Ponto para Bolsonaro e para o duo Lula-Haddad (PT) se, e somente se, 2018 for dublê de 1989.
Proximidade com o governo é relevante, sujeita a restrições tais como a situação social e econômica. Nesse caso, o governismo é pestilencial e não tem representantes. Dos candidatos mais importantes, Geraldo Alckmin (PSDB) corre risco de ser associado ao programa temeriano.
Note-se que também está em julgamento o sistema político, mais do que um governo. Por motivos diferentes, Bolsonaro, Lula-Haddad, Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) podem se valer de seu oposicionismo.
Recursos materiais e políticos pesam: dinheiro, tempo de propaganda, tamanho da coalizão, máquina política e apoio informal de centros de poder. Nesse quesito, fantasias e alegorias, Alckmin vence com folga. Faltam enredo e evolução (estratégia e mensagem eleitoral).
Preferências partidárias têm alguma relevância. Apenas o PT tem adesão considerável, um quarto da torcida. Caso cumprissem suas juras de amor, os autodeclarados petistas levariam seu candidato ao segundo turno.
Convém que campanhas presidenciais e eleições majoritárias em geral sejam inclusivas. Isto é, não causem repulsa a parcelas relevantes do eleitorado (campanhas de eleições proporcionais, de deputados, podem se dirigir a nichos e regiões). Bolsonaro insulta eleitores de tipo variado; sua taxa de rejeição é a que mais cresce; já é a maior.
Atributos e símbolos do candidato contam: experiência e preparo, honestidade e credibilidade, esperança que inspira. A imagem depende de histórico, mastigado por uma boa estratégia de campanha, e de contexto. Vago, mas talvez decisivo em uma eleição apertada em um país de política gelatinosa.
Alckmin e Ciro seriam os “experientes”. Bolsonaro, Marina e Ciro não se molharam na Lava Jato. Lula-Haddad soa a mistura de esperança e experiência de dias melhores. Mas sempre se pode bater essa salada de frutas de atributos para fazer uma vitamina de alguma outra candidatura.
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