quarta-feira, 29 de maio de 2024

Bernardo Mello Franco - Pedagogia do cassetete

O Globo

O governador Tarcísio de Freitas sancionou a lei que institui as escolas cívico-militares em São Paulo. O programa virou bandeira eleitoral do bolsonarismo. Agora será implantado no estado mais rico e populoso do país.

O anúncio mobilizou a bancada da bala, que foi aplaudir o governador no Palácio dos Bandeirantes. O deputado Coronel Telhada definiu o aliado como “exemplo de homem público”. “A cada dia, nos faz mais felizes por sermos do seu time”, derramou-se. Tarcísio disse que os alunos vão “desenvolver o civismo” e “cantar o Hino Nacional”. Faltou explicar no que isso pode contribuir para melhorar o ensino.

Até aqui, o modelo só tem melhorado a vida de militares da reserva. Em São Paulo, policiais recrutados como inspetores receberão cerca de R$ 6.000, além da aposentadoria. Ganharão mais que o piso estadual dos professores, de R$ 4.580.

Em outros estados, escolas militarizadas têm sido palco de abusos e violência. No Distrito Federal, um aluno foi imobilizado com spray de pimenta e algemado após brigar com um colega. Em outro episódio, policiais apagaram um grafite em homenagem a Nelson Mandela, ícone da luta antirracista, e mandaram retirar cartazes sobre o Dia da Consciência Negra.

“Querem transformar escola em quartel e estudante em soldado”, critica a professora Catarina de Almeida Santos, que pesquisa o tema na Universidade de Brasília. “A vida militar é organizada pela hierarquia, e a escola deve ser um espaço de diálogo e respeito à diversidade. São valores diametralmente opostos”, resume.

A nova lei também entrou na mira de fundações privadas, que já estudam recorrer à Justiça. “É um retrocesso para as políticas educacionais e passa uma péssima mensagem para a sociedade”, diz Gabriel Salgado, gerente de educação do Instituto Alana. Ele afirma não haver evidência de que a militarização melhore o desempenho dos alunos. “O modelo ainda aumenta as desigualdades, porque tende a expulsar estudantes de grupos vulneráveis”.

Se não contribui com a aprendizagem, a pedagogia do cassetete pode render dividendos políticos. “A gente olha os alunos das escolas cívico-militares e vê que está diante de um novo Bolsonaro lá na frente”, exaltou Tarcísio, em discurso recente ao lado do padrinho.

 

2 comentários:

Daniel disse...

As ações do DESgoverno Bolsonaro na Educação foram trágicas! Os ministros eram canalhas como Abraham Weintraub, pastor Milton Ribeiro, um ex-militar que fraudava seu currículo dizendo ser pós-doutor quando nem doutorado tinha, etc. A MILITARIZAÇÃO da Educação foi iniciada e apontada como grande vantagem, sem qualquer comprovação disto. A MILITARIZAÇÃO da saúde durante a pandemia foi outra tragédia daquele DESgoverno CRIMINOSO.
O governador de SP e outros políticos bolsonaristas querem manter esta política absurda, gastando recursos públicos com militares que só atrapalham os processos educativos nas Escolas brasileiras.

ADEMAR AMANCIO disse...

Verdade.