Valor Econômico
Presidente da Abdib vê maluquice na avaliação que seus colegas da Faria Lima fazem do atual quadro econômico do país
Banqueiro por duas décadas, período no qual
presidiu o Fator, e agora à frente da Associação Brasileira da Infraestrutura e
Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini vê maluquice na avaliação que seus
colegas da Faria Lima fazem do atual quadro econômico. Sua visão é diferente.
Os projetos de transição energética, assim
como os das áreas de saneamento, rodovias e ferrovias, estão começando a puxar
a indústria, afirmou o executivo.
Setores como construção civil e fabricação de equipamentos de transmissão de energia estão “por aqui”, disse ele, colocando a mão acima da cabeça. “É um movimento forte”, assegurou. “Queremos transmitir o que de fato a realidade está mostrando.”
A entidade concorda com o chefe da Fazenda,
Fernando Haddad, quando ele diz que a economia está melhor do que é percebida.
Essa foi a tônica do discurso que o ministro fez no coquetel de abertura do
Fórum Abdib, no último dia 23.
Os sinais neste início de ano confirmam que
os investimentos em infraestrutura alcançarão recorde histórico em 2024,
afirmou Tadini. A projeção da Abdib é chegar a R$ 235 bilhões.
Esse resultado será majoritariamente amparado
em investimentos privados: 78%, calcula a entidade. Mas haverá uma participação
de 22% em recursos do Orçamento.
O impulso governamental, por meio de
programas como o Minha Casa Minha Vida e transferências de renda realizadas
neste início de ano, pagamento de precatórios e a antecipação do 13º dos
aposentados por exemplo, impulsionam o consumo, avaliou. A indústria, setor que
mais vem patinando, deverá se beneficiar disso.
Daí porque o executivo, que já integrou os
quadros da Secretaria do Tesouro Nacional, se exaspera com o atual nível da
taxa de juros reais, na casa dos 6,5%, e com a elevada preocupação do mercado
financeiro em relação ao resultado primário (diferença entre receitas e
despesas, sem considerar juros sobre a dívida).
São dois elementos que afetam negativamente a
infraestrutura. O primeiro, por elevar o custo de financiamento. O segundo, por
restringir investimentos públicos.
No ano passado, frisou, o Brasil gastou R$
820 bilhões em juros sobre a dívida pública.
“Se já tivéssemos juros menores há dois anos,
certamente já haveria uma folga de pelo menos R$ 400 bilhões”, disse,
referindo-se ao custo da dívida.
É um raciocínio polêmico. Quando apresenta
essa conta a integrantes do mercado, é tratado como se tivesse “parte com o
capeta”, contou.
Com esse alto custo de financiamento da
dívida, de pouco adianta o governo se esfalfar para equilibrar as contas ou
mesmo fechá-las com um saldo positivo de, por exemplo, R$ 100 bilhões. “Se você
cria R$ 700 bilhões de juros adicionais, a dívida não cai”, afirmou.
“Vocês são malucos”, disse, reproduzindo
conversas que tem com financistas. “Criam a ficção e trabalham em cima dela,
ficam em cima do primário quando o problema é o custo do giro da dívida.”
Da mesma forma, ele considera que, a esta
altura do campeonato, manter juros elevados para combater a inflação é “jogar
gasolina na fogueira”. O custo alto da dívida será pago por todos os
brasileiros, argumentou.
Tudo isso não significa, porém, que não haja
problemas nas contas públicas. O principal, na visão do executivo, é que 97% do
Orçamento federal está comprometido com despesas obrigatórias. Assim, o ajuste
sempre recai sobre os investimentos.
Ele defendeu acabar com as vinculações
orçamentárias, na mesma direção da proposta apresentada pela ministra do
Planejamento, Simone Tebet, em entrevista a este jornal. A seu ver, a
“gastança” está nos elevados gastos com benefícios previdenciários atrelados ao
salário mínimo que, a seu ver, não atendem aos que mais necessitam: os
informais. E nos comandos constitucionais que determinam gastos mínimos com
saúde e educação. Essas regras são campo fértil para despesas realizadas sem
critério, avaliou.
Existe uma diferença entre as despesas
correntes e as de investimento, destacou. As correntes, como salários e
benefícios, mantêm a estrutura da economia como está. Os investimentos criam
bases para o crescimento econômico futuro. “É essa a dinâmica que precisamos
mudar”, defendeu.
Dado que a dívida pública é usualmente medida
como proporção do PIB, um crescimento mais robusto faria a relação declinar.
Com isso, acomodaria as pressões sobre a busca do resultado primário.
É a visão no setor de infraestrutura e é
também o que se ouve na equipe de Haddad.
A percepção sobre a política econômica é ruim
porque há uma clara dissonância, dentro do próprio governo, sobre o rumo a ser
tomado.
Se por um lado Tebet propõe rever a dinâmica
de crescimento das despesas obrigatórias do governo, por outro o ministro da
Educação, Camilo Santana, afirma que trabalhará na direção oposta. A equipe
econômica busca o equilíbrio orçamentário, enquanto o restante da Esplanada
quer mais recursos.
Pode até ser um jogo combinado, pautado pelo
ambiente político difícil. Essa dicotomia, porém, tem custado caro.
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