O Estado de S. Paulo
‘Maracanã’ e ‘Vila Belmiro’ batizam reuniões
da articulação política, mas governo precisa ter mais jogo
A polarização que domina o cenário político
fez uma curva na Praça dos Três Poderes e desembarcou no Palácio do Planalto.
Na noite de ontem, após o Congresso derrubar o veto do presidente Lula ao
projeto que restringe a “saidinha” de presos, a derrota da articulação do
governo ficou evidente.
Dias antes, ao olhar atentamente para o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, Lula havia estranhado as madeixas do auxiliar. “Padilha, você pintou o cabelo?”, perguntou Lula. “Só se for de branco, presidente”, respondeu ele.
Depois do revés de ontem, os cabelos de
Padilha devem ter ficado ainda mais grisalhos. Desde novembro do ano passado, o
ministro não troca palavra com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O
resultado não tardou. O governo não tem maioria no Congresso e, a cada votação,
vira refém do fisiologismo e/ou da pauta de costumes.
Na tentativa de descontrair o ambiente sempre
tenso, a equipe de Padilha fez uma enquete enquanto as negociações com o
Congresso ainda rolavam. No último dia 15, ao entrar na reunião do “Maracanã”,
o ministro presenciou uma votação em tempo real. A pergunta era: “Quem está
gostando desse novo cabelo sem corte do Padilha?”
Na temporada de Fla-Flu político, a divisão
ficou escancarada no “Maracanã”. Por uma margem mínima de votos, no entanto, o
layout de fios mais compridos e desalinhados foi reprovado. “Até aqui tem
polarização, meu Deus do céu?”, perguntou o ministro aos assessores.
“Maracanã”, no caso, não é o estádio de
futebol do Rio, mas, sim, o nome dado à reunião de todos os funcionários e
secretários com Padilha, às segundas, terças e quartas-feiras, para a
distribuição de tarefas.
Às quintas é a vez do encontro com o time da
“Vila Belmiro”. O colóquio foi batizado com o nome do estádio do Santos por
abrigar menos gente. Ali a discussão é sobre o jogo da política, mas o governo
está levando bola nas costas.
Padilha não consegue esconder nem as
olheiras, que ganhou por passar noites em reuniões com deputados e senadores.
Mas nem assim fez acordo com Lira, líder do Centrão.
Fernando Haddad, por sua vez, também admitiu
que tem perdido o sono. “Desde o episódio do Rio Grande do Sul, eu durmo
menos”, contou o ministro da Fazenda, no dia 22, à Comissão de Finanças da
Câmara.
As brigas com o PT e com o Banco Central não
abalam Haddad, mas a tragédia e suas consequências, sim. Para socorrer o
governo, o titular da Fazenda entrou com tudo na polarização e, após ser
cobrado por Lula a ler menos e negociar mais, vestiu o figurino de Flávio Dino,
hoje ministro do STF. Durma-se com um barulho desses...
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