quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Empobrecimento e efeito político - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Dureza maior não é a pobreza; é o empobrecimento. Quando a percepção de empobrecimento atinge em cheio as classes médias, como agora, o custo político é inevitável. É o que ajuda a explicar o disparo na reprovação do governo Lula, como mostram as pesquisas.

A cavalgada dos preços da alimentação, de 1,68% em apenas um mês e meio é o primeiro choque sobre o orçamento doméstico. Tão ou mais decepcionantes são as respostas das autoridades para o aumento da carestia: que o consumidor troque carne por ovo, cujos preços logo em seguida disparam; café, por chá; troque laranja por limão; cenoura por abobrinha ou pepino; alface, por chicória... Ou então, vêm as tentativas inúteis de importar o que ficou caro demais; e, mais decepcionante, a chamada de varejistas e de atacadistas para maneirar nos efeitos da lei da oferta e da procura, como se tivessem perdido o controle das maquininhas de etiquetar preços.

Energia elétrica não dá para substituir. Foi o que subiu 16,3% apenas em fevereiro. Mensalidade escolar também não tem substituto. Os reajustes do início do ano puxaram em fevereiro o item Educação em 4,78%.

O encarecimento da condução e da gasolina torpedeia ainda mais a lista das despesas domésticas. O presidente Lula botou a culpa nos postos de gasolina, sem levar em conta que a carga maior veio com o aumento dos impostos.

E tem a alta do dólar, que cortou o sonho das viagens.

Mais os juros. Cobrir a conta mensal do cartão de crédito com outro cartão de crédito é truque de futuro quebrado. Os jornais noticiam que os bancos vêm retomando os imóveis e os veículos financiados, porque muitos compradores não honraram a prestação mensal.

A resposta do governo não passa de paliativos: é um pezinho de meia aqui, um saque extra do Fundo de Garantia ali, que não recompõem o poder aquisitivo. Pior, concorrem para o aumento artificial da demanda e da inflação que, em seguida, exigirá maior carga de juros, poder aquisitivo ainda mais murcho e maior corrosão potencial da aprovação no governo.

A mãe do empobrecimento da população a gente sabe qual é: a excessiva complacência do governo com as despesas públicas e a iminente esticada da dívida bruta para acima dos 80% do PIB e daí para sabe-se lá para onde.

Com a popularidade despencando, o governo Lula se sente ainda menos interessado em investir na austeridade. Tenta deter a derrocada com distribuição de peixes em vez de varas de pescar. E cumpre a nova regra do manual do secretário de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, que é colocar o presidente Lula nas rádios e na TV para despachar suas gracinhas. 

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