Valor Econômico
Padilha pode se mostrar de reproduzir sucesso do Mais Médicos com o Mais Especialidades, mas sua saída do Palácio reproduz o que se vê no PT, a disputa pelo comando de 2026
Vencerá a eleição de 2026 quem for capaz de
convencer o eleitor que é capaz de lhe oferecer futuro. A definição, dada por
um colaborador de mais de uma década do presidente da República, impõe um
desafio a mais para a reforma ministerial iniciada nesta terça por Luiz Inácio
Lula da Silva: convencer o eleitor de que pretende lhe oferecer futuro
devolvendo a Saúde para um ministro que já a ocupou ou, missão impossível, com
o deputado José Guimarães (PT-CE) na Secretaria de Relações Institucionais.
Se Alexandre Padilha é o nome ideal para a Saúde por que não a ocupou desde janeiro de 2023? Porque Lula queria dar uma resposta ao negacionismo e conter o reinado do Centrão na Pasta com o currículo irrepreensível da então presidente da Fiocruz. Pela deselegância com a qual Nísia Trindade foi tirada do governo, o presidente sugere que a melhor maneira de encobrir um erro é cometendo outro.
A chance de Padilha em mostrar serviço está
baseada num sinal do passado, o sucesso do Mais Médicos, e num do futuro: o
ministro abdicará da reeleição à Câmara para ficar até o fim do governo.
Colaboradores de sua gestão pregressa na
Saúde exaltam um traço, até exaustivo, de sua passagem pela Pasta, que é a
disposição em reunir secretários para ouvir problemas e encaminhar soluções. Se
isso marcará uma mudança em relação à atual gestão, ainda não está claro como o
Mais Especialidades, anunciado em 2023 como prioridade deste governo, se
viabilizará.
O sucesso do Mais Médicos não é garantia de
êxito para seu sucedâneo. O programa foi implantado sobre uma estrada já
asfaltada pela municipalização da saúde e pela atenção primária, que hoje conta
com 52 mil equipes de saúde da família. O Mais Médicos identificou os gargalos
nessa estrutura em áreas remotas e os preencheu.
O Mais Especialidades se implanta sobre uma
estrada de terra. A atenção especializada requer uma articulação federativa
complexa para abrir o acesso da população de pequenos municípios a um
atendimento disponível apenas em centros maiores.
Se este é um problema que um gestor com mais
habilidade política é capaz de resolver, não está claro como o Mais
Especialidades contornará os percalços de seu precursor. Foi a partir da gestão
Padilha, no governo Dilma Rousseff, que petistas e médicos, por meio de
entidades que os representam como os conselhos regionais, tornaram-se água e
óleo.
Por um lado, os médicos nunca aceitaram o
Revalida e a vinda de médicos cubanos e, por outro, o governo se contentou com
a aprovação da ampla maioria da população ao programa. De lá pra cá esse
divórcio só aumentou com a adesão das entidades médicas ao bolsonarismo. Se é
verdade que, entre a aprovação popular e a das entidades, não parece haver
dúvida da opção a ser tomada, também parece claro que este rumo tende a
agudizar os conflitos na gestão do programa e esgarçar as relações com um setor
da sociedade já radicalizado contra o governo.
Se a escolha de Padilha para Saúde é uma
jogada de risco com possibilidade de ganhos, a eventual nomeação Guimarães para
a SRI é um jogo de perde-perde. Enturmado com a mesa da Câmara desde a gestão
Arthur Lira (PP-AL), Guimarães não tem entrada no Senado. Se já era difícil
para o parlamentar de uma Casa se impor sobre a outra, com o orçamento
impositivo ficou ainda mais difícil.
Além disso, fazer Guimarães ministro é um
meme pronto, o dos dólares na cueca. Vinte anos atrás, um assessor do deputado,
à época na Assembleia Legislativa do Ceará, foi preso no aeroporto de Congonhas
(SP) com US$ 100 mil na cueca e R$ 209 mil numa mala de mão. O Supremo Tribunal
Federal se declarou incompetente para julgar a ação e a remeteu à Justiça
Federal do Ceará, instância em que prescreveu.
A ida de Guimarães para a SRI, na verdade,
parece consolidar no Palácio do Planalto, um processo que já foi deflagrado no
PT. O de entronizar a luta interna como a baliza deste biênio. O que está em
disputa é quem comandará a sucessão. No PT, a mudança no estatuto possibilitou
a recondução da atual tesoureira da legenda, Gleide Andrade, limitando o
alcance das mudanças pretendidas pela gestão do favorito à presidência do
partido, o ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva. No governo, a chegada de
Guimarães, um dos parlamentares mais próximos da atual presidente do PT, Gleisi
Hoffmann (PT-PR), ao Palácio do Planalto, também reproduziria a mesma lógica.
Tanto o afastamento de Padilha do Palácio
quanto a chegada de Guimarães e a eventual escolha de Gleisi para a
Secretaria-Geral da Presidência também destravam os empecilhos a que o ministro
da Casa Civil pontifique no núcleo do poder. Ele ansiava por isso desde a
virada do ano. No dia 9 de janeiro, em entrevista à GloboNews, Rui Costa
acendeu o fogareiro dizendo que Lula faria reforma ministerial ainda naquele
mês. Quarenta e oito dias depois, Nísia é primeiro quitute da fritura. Pudera
ter saído tostada.
Esse poder tem sido capaz de salvaguardar o
PAC dos cortes, inclusive os contraproducentes. Os investimentos em energia
eólica e solar, que ultrapassaram em 25% a meta, geraram um excedente de
energia não remunerado cuja indenização pode cair na conta do consumidor. Todo
esse poder só não foi capaz de evitar que na Bahia, segundo a Genial/Quaest, a
aprovação do governo colhesse sua maior queda.
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