Folha de S. Paulo
Estética de campanha invade espaço reservado
a pronunciamentos oficiais urgentes ou relevantes
O novo mago da propaganda oficial teve uma
ideia: transformar
em horário eleitoral o espaço reservado a comunicados urgentes e/ou relevantes em
cadeia nacional de rádio e televisão.
O modelo já havia sido testado no ano passado, naquele anúncio do ministro Fernando Haddad (PT) em que os alhos do pacote fiscal se misturavam aos bugalhos da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000. Choveram críticas à forma e, sobretudo, ao contraditório conteúdo, mas Sidônio Palmeira pelo visto achou que valia a pena apostar na estética de campanha. O plano agora, ao que se diz, é o presidente da República se utilizar desse formato a cada 15 dias para divulgar maravilhas.
No primeiro episódio da série estrelada por
Luiz Inácio da Silva (PT) foram requentados dois programas (Pé-de-Meia e Farmácia
Popular) já de pleno conhecimento do público.
Ignorados ali os quesitos de relevância e
urgência, os mesmos exigidos —e quase nunca observados— para a edição de
medidas provisórias, mas esta é uma outra história também relacionada à prática
de insubmissão a normas. No contexto em tela, o risco de o projeto de
comunicação seguir no modo eleição é que dê margem a contestações sobre
campanha antecipada e o caso ir parar nos tribunais, gerando mais polêmicas a
serem turbinadas pela oposição.
Na concepção do ministro Sidônio, Lula é o
melhor garoto-propaganda de si. Por isso precisa falar mais e o tempo todo.
Ora, à exceção de períodos em que precisou se recolher para cuidar da saúde, o
presidente não fez outra coisa a não ser falar pelos cotovelos. Frequentemente
criando situações confusas, quando não constrangedoras.
Não se espera que Lula se retraia. Dialogar
com a população é imprescindível. É imperioso, porém, que o chefe da nação não
faça uso indevido de suas prerrogativas momentâneas para favorecer e dar voz
ao candidato
de amanhã.
O governo se queixa da falta de percepção
correta por parte da sociedade. Talvez falte perceber que ela não gosta do que
vê.
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