Novos trechos de uma tradução forjada para incriminar tucanos levam partido a aumentar a pressão contra o ministro da Justiça
Divergências aumentam pressão sobre Cardozo
Paulo de Tarso Lyra
Novas divergências entre o texto em inglês escrito provavelmente pelo ex-diretor da Siemens no Brasil Ernesto Rheinheimer e encaminhado ao ombudsman da empresa na Alemanha e uma versão do mesmo documento em português — ambos produzidos em junho de 2008 — acirraram ainda mais o ânimo da oposição e aumentaram a pressão do PSDB sobre o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Na edição de ontem, o Correio mostrou que o documento em português no qual é feita a denúncia da existência de um cartel dos trens em São Paulo inclui trechos indicando o pagamento de suborno a políticos do PSDB, conteúdo inexistente na versão em inglês. Mas as diferenças não param por aí.
Em pontos do documento em português, nomes inexistentes na outra versão acabaram incluídos, bem como relações profissionais entre os suspeitos de participar do cartel são criadas. A versão brasileira também detalha percentuais de pagamento de propina, inclusive descrevendo minúcias de descontos de cheques e investigações da Polícia Federal sobre executivos de empresas multinacionais.
Um dos citados em versões contraditórias é o ex-diretor da MGE Ronaldo Moriyama. Em ambos os documentos, ele é qualificado como um “executivo agressivo” . Na carta em inglês, aparece como o responsável pelo pagamento de propinas a autoridades governamentais para auferir lucros em seus projetos empresariais. O detalhamento aparece em português: “Ele é conhecido no mercado ferroviário por sua agressividade quando se fala em subornar o pessoal do Metrô de São Paulo e CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos)”.
A versão brasileira da denúncia é infinitamente mais rica e detalhada que a mesma reclamação direcionada à matriz alemã. No texto em português, explicita-se que a MGE pagava propina de 5% à diretoria da CPTM. No original, existe apenas a referência a propinas destinadas a “autoridades governamentais”.
Além disso, é citado que os saques das propinas era feito em diversos cheques de valores inferiores a R$ 10 mil, “evitando, dessa forma, o registro da operação pelo banco e comunicação ao Banco Central”. Nada disso é mencionado no texto encaminhado aos alemães. Por fim, é dito que Ronaldo Moriyama “foi pego recentemente (início de maio) numa operação da Polícia Federal, na qual foi preso num hotel cinco estrelas com um gerente do banco suíço Credit Suisse”.
Críticas
Tantas incongruências enervaram os tucanos. “Como a denúncia encaminhada às mãos do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, menciona uma operação da Polícia Federal (a prisão de Moriyama em um hotel do Rio de Janeiro)? Se o texto em inglês omite essa parte, como um executivo tem acesso a algo que, em tese, deveria correr em segredo de Justiça?”, questionou o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), um dos vice-líderes do partido na Câmara. “O ministro tem que explicar as disparidades nas traduções feitas de um mesmo documento, explicando a inclusão de trechos, a omissão de fatos e a criação de relações inexistentes na versão original”, prosseguiu Macris.
Procurado pelo Correio, o ministro da Justiça considerou risível a crítica feita pelos tucanos apontando eventuais diferenças de tradução. “Não é uma tradução mal-feita. São dois documentos distintos, escritos possivelmente pela mesma pessoa, com vários pontos em comum, outros divergentes, mas endereçados a destinários diferentes”, afirmou o ministro.
Embora no dossiê entregue em suas mãos pelo deputado estadual Simão Pedro (PT-SP), secretário de Serviços do prefeito Fernando Haddad, apareça no índice “tradução de carta do inglês para o português”, ele nega que se trate disso. “Por que alguém, em sã consciência, forjaria uma tradução e entregaria ao ministro da Justiça as versões em inglês e português para serem investigadas pela Polícia Federal?”, questionou ele.
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário