Há agora, no PT e no Palácio do Planalto, dois tipos contrastantes de avaliações e recomendações sobre a postura pública do partido a respeito do relacionamento com os principais condenados políticos do mensalão – José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha. De um lado, ações e propostas voltadas a um for-te e agressivo papel do comando do partido, especialmente de Lula, em defesa dos condenados, bem como de contestação ao resultado do julgamento e à aplicação das penas. Umas e outras vinculadas ao objetivo de conversão deles de políticos presos por corrupção em presos políticos vitimas de um julgamento arbitrário e injusto. O desempenho desse papel – favorecido inicialmente pela cobrança de tratamento especial a Genoino em face do seu problema de saúde – propiciaria uma reversão da péssima imagem e do isolamento político dos mensaleiros petistas, que teriam sido resultantes em grande medida do distanciamento do partido em relação a eles.
O desencadeamento de tais ações e recomendações incluiu dois fatos significativos: a ida ao presídio da Papuda (em completo desrespeito às regras penitenciárias), de delegações sucessivas de solidariedade aos petistas presos, e entrevistas à imprensa, em suas celas, com outro desrespeito do gênero, de Genoino e José Dirceu. Este – numa entrevista ao Estadão, de domingo último, intitulada “Dirceu pressiona Lula a defender petistas presos” – cobrou manifestações claras e incisivas do ex-presidente em apoio aos condenados do mensalão: “E o Lula não vai falar nada?”. A reportagem contém críticas anteriores do entrevistado ao que teriam constituído omissões do ex-presidente diante do processo do mensalão, entre as quais a de não ter barrado a CPI dos Correios, que deu origem à ação penal 470. Recorde-se que, informado da entrevista, Lula aceitou a cobrança fazendo declaração à imprensa de que “o rigor da lei só vale para o PT”.
É, porém, bem distinta destas a avaliação predominante no Palácio do Planalto sobre uma nova postura de engajamento ostensivo do PT com os condenados do mensalão, diferente da de cuidadoso distanciamento mantido ao longo do processo (reafirmado no recente congresso do partido através da exclusão de José Dirceu, Genoino e João Paulo do diretório nacional do partido). Tal avaliação, revelada pelo jornalista Fernando Rodrigues, descrê da possibilidade de reversão da imagem dos mensaleiros na opinião pública e foi desdobrada em advertência de que uma ostensiva vinculação do partido a eles poderá comprometer a campanha reeleitoral da presidente Dilma (diversamente dos efeitos pequenos ou irrelevantes que o mensalão teve em eleições anteriores, o que foi favoreci-do com o descarte do tema pela direção do PT).
Um terceiro tipo de avaliação sobre os petistas presos foi explicitado por antiga liderança importante do partido, o ex-governador gaúcho Olívio Dutra: “Não é o passado que está em jogo, mas o presente, e eles se conduziram mal. Eu não os considero presos políticos. Foram julgados e estão cumprindo penas por condutas políticas”.
Os imperativos da privatização e do aumento dos juros básicos.
O sucesso das concessões dos aeroportos do Galeão e de Confins – creditado a uma reorientação final das regras dos leilões em favor das maiores construtoras brasileiras e de operadoras internacionais de grande porte, re-orientação, atribuída à influência do novo titular da secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco – esse sucesso compensou parte da forte queda de credibilidade do governo Dilma junto aos investidores domésticos e externos. Tal reorientação, embora torne mais difícil ou pouco crível a repetição do uso pelo PT na próxima campanha eleitoral dos ataques às “privatizações tucanas”, renovou o potencial de negócios empresariais nas áreas de infraestrutura. Cuja concretização tem sido obstruída pelo excesso de intervencionismo estatal, o que a presidente vai sendo forçada a entender.
Outro imperativo colocado pela economia é a elevação da taxa de juros básicos que pode voltar hoje aos 10% e ir além no começo do próximo ano, em resposta do BC à persistência da pressão inflacionária. Como se recorda, a queda artificial da taxa Selic para até 7% em 2012 foi des-tacada como relevante feito do governo, contraposto aos juros altos dos mandatos de FHC e preparatório da campanha pela reeleição da presidente Dilma. Essa redução se baseava na aposta populista de que as desonerações tributárias seletivas promovidos pelo Palácio do Planalto seriam suficientes para o controle da inflação.
Jarbas de Holanda é jornalista
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