sexta-feira, 28 de julho de 2017

Queda do juro é esperança para reanimar a economia – Editorial | Valor Econômico

Apesar de amplamente esperada, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), anunciada quarta-feira, de reduzir em 1 ponto a taxa básica de juros, para 9,25% ao ano, foi comemorada por marcar o estímulo mais poderoso disponível no momento para a recuperação da economia. Foi o sétimo corte em sequência e o terceiro de 1 ponto, levando a Selic para o nível mais baixo em quase quatro anos. A surpresa ficou por conta da sinalização de que mais um corte de 1 ponto deve vir pela frente, na reunião do início de setembro.

O comunicado divulgado pelo Copom reforçou a previsão de que o juro básico poderá estar abaixo de 8% no fim do ano, desencadeando uma onda de revisão de projeções e reposicionamento do mercado. O Comitê argumentou que o aumento da incerteza em relação à implementação das reformas e ajustes teve até agora impacto limitado. Notou ainda que o cenário internacional continua favorável e tem mantido o apetite pelos mercados emergentes, em que pese a sinalização dada pelo Fed nesta semana de que está pronto para começar a reduzir sua carteira de ativos, dando início à reversão do afrouxamento monetário.

A indicação mais forte das intenções do Copom, porém, foram evidenciadas por suas projeções para a inflação que, levando em consideração as trajetórias esperadas para os juros e câmbio expressas na pesquisa Focus, recuaram para 3,6% em 2017 e 4,3% para 2018. Ou seja, a inflação ficaria abaixo do centro da meta, caso o juro atinja 8% no fim do ano e se mantenha nesse patamar em 2018. Em outras palavras, há mais espaço para flexibilização monetária diante do comportamento esperado para a inflação. Há inclusive a avaliação de que um alívio monetário maior do que o previsto poderá ser implementado, resultando na prática em estímulo à economia (Valor27/7).

Apesar de pontuar que o aumento da incerteza em relação ao progresso das reformas e ajustes não mostrou efeito inflacionário nem desinflacionário, o Copom retoma que a queda do juro estrutural continua ponto relevante e dependente desses avanços, notadamente nas esferas fiscais e creditícias. Na prática, a avaliação dos membros do Copom é que a crise política ainda não alterou de forma substancial o cenário, apesar da tensão reinante e seus reflexos negativos na atividade econômica.

A referência à esperada reforma creditícia é a primeira feita em comentário do Copom e foi interpretada como citação à Medida Provisória (MP) 777, que cria a Taxa de Longo Prazo (TLP) em substituição à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), utilizada na correção dos financiamentos feitos pelo BNDES. A mudança no cálculo da taxa, que passará a acompanhar os juros de mercado para títulos do governo, tem o objetivo de acabar com os subsídios embutidos nas linhas do banco ao longo do tempo, que vem onerando o Tesouro, e nivelar com o mercado o custo dessas operações. O Banco Central argumenta que o fato de um volume apreciável de crédito ser corrigido por juros artificialmente mais baixos do que os de mercado amortece a política monetária. Espera-se que, com a TLP, pequenos movimentos na taxa básica de juros terão maior impacto sobre o custo do dinheiro para a economia como um todo e, portanto, sobre a atividade e a inflação.

Dados divulgados ontem pelo Banco Central mostram que praticamente metade do estoque de financiamentos na economia brasileira, ou R$ 1,546 trilhão do total de R$ 3,078 trilhões do fim de junho, é o chamado crédito direcionado, movido a taxas mais baixas, com funding definido pelo governo, que engloba principalmente as operações do BNDES, mas também os empréstimo imobiliário e o rural. O crédito livre, lastreado em fundos captados junto aos investidores pelos bancos, é corrigido pelos juros de mercado, e somava R$ 1,531 trilhão no fim de junho. No acumulado em 12 meses, enquanto o crédito direcionado recuou 0,9%; o livre teve queda de 2,4%.

Ao final da reunião do Copom, alguns bancos anunciaram a redução dos juros de algumas linhas de crédito. Mas, levando-se em conta a taxa média cobrada pelo crédito, que inclui operações com empresas e famílias, a taxa direcionada e de mercado, que estava em 28,8% ao ano em junho, houve uma queda de apenas 3,7 pontos em comparação com os 32,5% de junho de 2016. Já a taxa Selic, que está em um patamar inferior, caiu nada menos do 5 pontos dos 14,25% de julho do ano passado para 9,25% anunciados ontem.

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