Aldemir Bendine é preso sob a suspeita de receber R$ 3 milhões em propina da Odebrecht quando ocupava a presidência da estatal e já em fase adiantada da operação
Julia Affonso Fausto Macedo, O Estado de S. Paulo.
Em sua 42.ª fase, a Lava Jato alcançou o topo do comando da Petrobrás. Aldemir Bendine, ex-presidente da estatal e do Banco do Brasil, foi preso sob acusação de ter recebido R$ 3 milhões de propina da Odebrecht. Segundo a Procuradoria, os pagamentos foram feitos em 2015. Bendine, homem de confiança do ex-presidente Lula, foi escolhido pela então presidente Dilma Rousseff para “blindar” a petroleira após escândalos de corrupção.
O ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobrás Aldemir Bendine foi preso ontem em nova fase da Lava Jato, a Operação Cobra. Ele é acusado de receber R$ 3 milhões em dinheiro como forma de propina paga pela Odebrecht. Segundo a procuradoria, os pagamentos ilícitos foram feitos em 2015, quando a Lava Jato já havia completado um ano e estava em fase avançada na investigação no combate a crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Em sua 42.ª fase, a operação alcançou o topo do comando da principal estatal do País. Homem de confiança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bendine se tornou presidente do Banco do Brasil em abril de 2009 e assumiu o comando da Petrobrás em fevereiro de 2015 após nomeação da presidente cassada Dilma Rousseff.
Bendine havia assumido a estatal justamente com a missão de “blindar” a empresa após os escândalos de corrupção que já faziam a petroleira contabilizar perdas financeiras. A fase ostensiva da investigação foi deflagrada em março de 2014.
O ponto de partida das investigações foram as delações da Odebrecht e de outro executivo do grupo, Fernando Reis. Além de Bendine, foram presos os irmãos Antonio Carlos e André Gustavo Vieira, apontados como “profissionais da lavagem de dinheiro” e operadores de Bendine.
O ex-presidente da Petrobrás foi preso um dia antes de embarcar para Portugal. Ele estava na casa de sua filha em Sorocaba (SP) e foi levado para Curitiba de carro, sob escolta da Polícia Federal. O prazo da prisão temporária estipulado pelo juiz Sérgio Moro foi de cinco dias. O advogado de Bendine, Pierpaolo Bottini, disse que a prisão foi “desnecessária” De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, Bendine pediu propina ao empreiteiro Marcelo Odebrecht, dono da construtora, “na véspera” de assumir a presidência da Petrobrás.
Dívida. O achaque, segundo aponta a investigação, começou quando ele ainda comandava o Banco do Brasil. Em meados de 2014, ele teria solicitado R$ 17 milhões de propina para alongar uma dívida que a Odebrecht Agroindustrial tinha com a instituição financeira.
Em depoimento, Marcelo Odebrecht e o executivo Fernando Reis disseram que se recusaram na época a pagar a propina. No entanto, ainda segundo os delatores, quando estava prestes a assumir a Petrobrás, Bendine e seus operadores financeiros voltaram a pedir dinheiro aos executivos para não atrapalhar os interesses da Odebrecht na estatal.
De acordo com a força-tarefa, os executivos da Odebrecht, desta vez, aceitaram a solicitação e fizeram pagamentos de R$ 3 milhões em espécie, em três parcelas de R$ 1 milhão repassadas em São Paulo. O acordo foi firmado em uma residência do Lago Sul, em Brasília.
Segundo os investigadores, Bendine recolheu Imposto de Renda sobre a propina de R$ 3 milhões que recebeu da Odebrecht para tentar despistar a Lava Jato. A estratégia, apontada pela procuradoria, era dar um caráter formal a uma suposta “consultoria” prestada, em 2015, por Bendine e pelo publicitário André Gustavo Vieira. O pagamento de tributos foi realizado em março e abril deste ano.
“É incrível topar com evidências de que, após a Lava Jato estar em estágio avançado, os criminosos tiveram a audácia de prosseguir despojando a Petrobrás”, disse o procurador da República Athayde Ribeiro Costa.
Ao detalhar a 42.ª fase da Lava Jato, a força-tarefa disse que, com base nas delações do grupo J&F, Bendine estava tentando uma colocação na Vale por meio de pagamento de propina a um parlamentar federal.
‘Audácia’ “É incrível topar com evidências de que, após a Lava Jato estar em estágio avançado, os criminosos tiveram a audácia de prosseguir despojando a Petrobrás.” Athayde Ribeiro Costa
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