Bendine recebeu dinheiro da Odebrecht perto de devolução de recursos desviados na Petrobrás; Moro pede bloqueio de R$ 3 mi
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Julia Affonso Fausto Macedo, O Estado de S. Paulo
Trinta dias antes de celebrar a recuperação de R$ 139 milhões desviados da Petrobrás em um evento ao lado do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o ex-presidente da estatal Aldemir Bendine recebeu, segundo o Ministério Público Federal, a terceira parcela de R$ 1 milhão de propina paga pela Odebrecht de um total de R$ 3 milhões.
Considerado um marco no combate à corrupção que atingiu a estatal petrolífera, o evento em clima solene foi realizado em 31 de julho de 2015 na sede da PGR, em Brasília. Bendine foi presidente da Petrobrás entre 6 de fevereiro de 2015 e 30 de maio de 2016. Na planilha de propinas da empreiteira Odebrecht, ele era identificado pela alcunha de “Cobra”, nome que batizou a 42.ª da Lava Jato.
Segundo a investigação que culminou com a prisão de Bendine, os R$ 3 milhões foram repassados em três entregas em espécie, no valor de R$ 1 milhão cada, em São Paulo. Esses pagamentos foram realizados no ano de 2015, nas datas de 17 de junho – dois dias antes da prisão de Marcelo Odebrecht –, 24 de junho e 1.º de julho, pelo Setor de Operações Estruturadas – o departamento de propina da empresa. O encontro com Janot ocorreu 30 dias depois do pagamento da última parcela de propina da Odebrecht a Bendine.
Na ocasião, Bendine anunciou que a estatal havia tornado mais rigoroso o processo de gestão de fornecedores. O então presidente da Petrobrás, que chegou à estatal com a missão de implementar um modelo exemplar de governança, afirmou que a corrupção era “uma prática individual, mas cabia às empresas criar mecanismos para impedir danos à reputação”.
Dos R$ 139 milhões recuperados pela Lava Jato para a Petrobrás, R$ 69 milhões foram devolvidos pelo ex-gerente executivo Pedro José Barusco Filho e R$ 70 milhões devolvidos pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa.
“Fornecedores que falharem nessas condições serão excluídos de cadastro”, afirmou, à época, Bendine. E ainda lançou um desafio aos corruptos. “Não aceitaremos passivamente o papel de vítima. Fomos vítimas de pessoas que usaram seus cargos para obter benefícios.”
“A orientação que eu recebi da presidente Dilma é clara: não hesitaremos em defender os interesses da companhia diante dos malfeitos e buscaremos sem descanso a reparação integral por todos eles”, disse Bendine, na ocasião.
Bloqueio.
Após decretar a prisão de Bendine, o juiz federal Sérgio Moro decretou o bloqueio de até R$ 3 milhões do expresidente do Banco do Brasil e da Petrobrás Aldemir Bendine, de seus supostos operadores de propina André Gustavo Vieira da Silva e de Antonio Carlos Vieira da Silva Júnior e da empresa MP Marketing, Planejamento Institucional e Sistema de Informação Ltda.
A empresa é controlada por André Gustavo. Segundo a Lava Jato, a empresa é “de fachada” e “o quadro de empregados da empresa durante toda sua existência foi absolutamente exíguo ou nulo”. “Apesar de sustentar que os R$ 3 milhões pagos em São Paulo são lícitos e se referem à consultoria (...) a empresa MP Marketing de André Gustavo claramente não tem atividade e foi criada apenas para emissão de notas relacionadas a contratos fictícios de recursos de origem criminosa”, disse a força-tarefa da Lava Jato.
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