Editoriais / Opiniões
Privatizar é bom
Folha de S. Paulo
Cumpre desfazer falsas noções sobre o
bem-sucedido programa de desestatização
O enriquecimento dos povos depende da
produtividade do trabalho. Quanto mais bens e serviços produzidos por hora
trabalhada, mais próspera será a sociedade.
A fórmula historicamente mais eficaz de
impulsionar a produtividade é deixar a tarefa de empreender a indivíduos
livremente associados em organizações privadas, as quais competem entre si para
obter o maior lucro possível.
Aos governos cumpre zelar pelos bens
públicos —saúde, educação, renda mínima, segurança, infraestrutura, isonomia e
competição— seja diretamente, seja por intermédio de operadores privados
devidamente monitorados e fiscalizados por agências reguladoras.
Se o mercado funcionar adequadamente,
haverá mais bem-estar material a ser partilhado pelo Estado. Se o setor público
for eficiente nas suas tarefas precípuas, indivíduos instruídos, a despeito de
sua origem familiar, catapultarão a produtividade, e as desigualdades serão
reduzidas. Os dois polos completam uma engrenagem que se autoalimenta rumo ao
progresso.
Cerca de três décadas depois de iniciado o bem-sucedido processo de venda de empresas estatais e concessões de serviços públicos, no entanto, o tema ainda suscita controvérsias na sociedade brasileira.
Esta Folha publica a partir de
hoje um retrato dos avanços obtidos em diversas áreas no período. O progresso é
assoberbante em áreas como telecomunicações, energia, aeroportos e estradas.
Por isso, não deixa de ser surpreendente observar ainda tamanha resistência à
necessária continuidade desse programa.
Além das pressões corporativistas que ainda
encontram abrigo, talvez se possa atribuir a má vontade de parte da sociedade à
falsa ideia, muito disseminada pelos estatistas, de que privatizações destroem
o patrimônio público.
Ora, empresas mal geridas e deficitárias
nas mãos dos governos é que acarretam prejuízos recorrentes para os
contribuintes, além de entregarem péssimos serviços.
Além disso, vender um patrimônio físico,
como uma empresa, não significa desaparecer com ele, mas transformá-lo em
recursos financeiros que poderão ter usos mais condignos com o papel do Estado
—e, nas concessões, nem mesmo há transferência de patrimônio.
É justamente a reorientação do papel do
Estado que permanece uma tarefa inconclusa no Brasil. Os recursos materiais e
humanos do poder público precisam ser desmobilizados e assestados na direção de
prover serviços essenciais de boa qualidade, em especial para a metade mais
pobre da população, que depende disso para ter condições equânimes de competir
no mercado de trabalho.
Mais uma vez se observou o problema de
sustentar monopólios estatais na pressão sobre a Petrobras para reduzir os
preços dos combustíveis. O uso político da empresa é um desserviço à sociedade,
porque abala os seus investimentos e, consequentemente, a sua produção e a
transferência de impostos e dividendos ao Tesouro.
Embora muito já tenha sido feito para
reduzir apadrinhamentos nas estatais, a porosidade persiste. Intromissões
nefastas tendem a se repetir a cada quatro anos e, no meio-tempo, será erodida
a capacidade produtiva da petroleira e de outras empresas menos vistosas.
O maior ganho das privatizações está em
desobstruir o caminho para a elevação da eficiência e dos investimentos. Ao
contrário do que pregam as velhas e fracassadas doutrinas intervencionistas,
ainda em voga no petismo e em parte do bolsonarismo, é falso o argumento de que
há inúmeros negócios estratégicos que deveriam ser empreendidos pelo governo.
No caso da energia elétrica, setor da
recém-privatizada Eletrobras, novas tecnologias permitem a geração com recursos
privados a partir de múltiplas fontes, em escalas também variadas, flexíveis
para atender demandas específicas.
Muito mais importante para o setor público
é dedicar-se a desenhar regras e instrumentos de regulação dos mercados que
assegurem equilíbrio de interesses entre governo, empresas e usuários, com
políticas públicas bem definidas em prol da competição e dos ganhos de
produtividade.
No caso de bancos, mais estratégico do que
ter agências em cada município é assegurar a conectividade da população, o que
dá acesso a todos os serviços. Não é proibido que se subsidiem segmentos
desfavorecidos, mas o método mais democrático e transparente de fazê-lo é por
meio dos orçamentos dos governos, a serem debatidos e votados nas Casas
legislativas.
Este jornal defende a inclusão da Petrobras
no programa de desestatização. Nesse caso, o mais crítico será assegurar a concorrência
na produção, no refino e na distribuição de combustíveis, bem como um ambiente
de incentivos à progressiva descarbonização.
Aprofundar a atuação do Estado nas áreas em
que só ele pode fazer a diferença e afastá-lo das atividades produtivas, em que
o setor privado se sai melhor, não deveria ser questão de ideologia, mas uma
demonstração de compromisso com o conforto e o bem-estar das gerações de
futuros brasileiros.
Muito a fazer após o Bicentenário
O Estado de S. Paulo
Memória da Independência é ocasião para reconhecer o muito que se fez, o muito que falta fazer e o muito que precisa ser reconstruído. Princípios valiosos de civilidade foram perdidos
Muito se fez desde 1822 – em especial, a
abolição da escravatura, a proclamação da República e a instauração do Estado
Democrático de Direito –, mas é inegável que ainda há muito a ser feito para
uma efetiva independência, para uma efetiva cidadania. Além disso, é de justiça
reconhecer que o País chega ao seu Bicentenário da Independência com problemas,
entraves e desigualdades que há muito tempo deveriam ter sido resolvidos.
Fez-se muito nesses 200 anos, mas é inegável o atraso em diversos temas, a
exigir um corajoso e responsável enfrentamento.
Ainda que cada época histórica tenha seus
desafios específicos, alguns problemas de fundo, estruturais, se perpetuam,
numa perversa reprodução de violência, injustiça, desigualdade e
subdesenvolvimento. Para fazer frente a essa situação – que não é um dado
inexorável da natureza, mas resultado de nossas ações e omissões enquanto
sociedade –, destacam-se quatro frentes.
Em primeiro lugar está o desafio de prover
educação de qualidade para todas as nossas crianças e jovens. Não há igualdade,
não há democracia, não há cidadania onde parte da população é privada, desde
cedo, de condições mínimas de desenvolvimento humano e profissional. Conforme
diversas avaliações constatam, os níveis de aprendizado no País são muito insatisfatórios.
Ou seja, continua havendo uma reprodução de injustiças nas novas gerações, o
que terá impacto por longas décadas. É urgente reverter esse quadro, aplicando
experiências positivas que têm sido desenvolvidas no campo da educação. Há
políticas públicas educacionais transformadoras.
A segunda frente refere-se ao
desenvolvimento econômico. Para melhorar as condições sociais do País – o que
envolve, por exemplo, formar melhor os professores, pagar-lhes um salário digno
e melhorar o atendimento público de saúde –, é necessário ter crescimento
econômico. Não há almoço grátis. É imprescindível que o Brasil seja capaz de
produzir mais riqueza, em um ritmo muito mais acelerado do que os atuais
níveis, próximos da mediocridade. Nessa empreitada, não existe fórmula mágica.
Não há voluntarismo estatal que dê conta de assegurar as condições para o
desenvolvimento econômico. O caminho é realizar as reformas estruturais, como a
tributária – sempre adiada.
Junto a mudanças legislativas de fundo, é
preciso remover os pequenos e não tão pequenos entraves que prejudicam a
inovação, o ambiente de negócios e a própria imagem do País mundo afora. Nessa
seara, tem também especial importância a previsibilidade das decisões
judiciais, provendo uma mínima segurança jurídica.
Outra frente, em relação à qual houve um
especial atraso nesses 200 anos, se refere ao cumprimento da lei e ao respeito
às instituições. A República foi proclamada no final do século 19, mas ainda
falta muito para que esteja firmemente instalada. No papel, todos estão abaixo
da lei. No entanto, ainda há muita gente que se considera e age como se
estivesse acima da lei – e o pior é que muitas vezes essas pessoas, inclusive
autoridades, ficam totalmente impunes. Nos últimos anos, viu-se uma virulenta e
difamatória campanha contra o Judiciário e o Legislativo, num ataque direto
contra os fundamentos da República. Não raro, supostos defensores da liberdade
e da democracia pedem o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal
(STF).
Por último, mas não menos importante – de
certa forma, ele reúne todos os outros –, está o desafio de uma nova
compreensão da cidadania e da democracia. É preciso restaurar o tecido social.
Quem diverge política ou ideologicamente não é um inimigo a ser abatido. A
democracia não é um sistema de imposição de uma vontade da maioria sobre a vida
da minoria, tampouco o contrário. É um regime de convivência plural, de
resolução pacífica dos conflitos, de organização da vida social a partir do
diálogo, de livre circulação de ideias e propostas.
O Brasil é um país a ser construído. Mas é
também um país a ser reconstruído. Ao longo do caminho, princípios valiosos de
civilidade foram perdidos.
Dois inconsequentes e uma eleição
O Estado de S. Paulo
Nem Lula nem Bolsonaro estão preocupados com responsáveis políticas para acabar com a extrema pobreza. Ambos posam de garantidores de dívida bilionária que não será paga por eles
O presidente Jair Bolsonaro e o Congresso
Nacional, com honrosas exceções, achincalharam a Constituição e a Lei Eleitoral
para forjar um “estado de emergência” e criar um punhado de benefícios sociais
às vésperas da eleição. O objetivo era óbvio. Desde a origem, saltava aos olhos
a natureza oportunista desse derrame de recursos públicos em ano eleitoral,
principalmente o aumento temporário de R$ 200 nas parcelas do Auxílio Brasil.
Ninguém de boa-fé contesta a necessidade de
o Estado prover condições mínimas de subsistência para nossos concidadãos que
foram lançados na pobreza extrema nos últimos anos. Milhões de brasileiros
passam fome todos os dias e isso é absolutamente inaceitável em qualquer país
decente. A questão central sempre foi a definição das políticas públicas para
acabar com a miséria de forma responsável e, sobretudo, sustentada.
O improviso do pacote de benesses no ano
eleitoral, combinado com indecência e pouco-caso com a ordem jurídica do País,
fica ainda mais explícito às vésperas do encaminhamento da Proposta de Lei
Orçamentária Anual (Ploa) 2023 pelo Poder Executivo.
A poucos dias do fim do prazo para envio da
Ploa 2023 ao Congresso Nacional, o Palácio do Planalto ainda não faz ideia de
como bancar o Auxílio Brasil no valor de R$ 600 a partir de janeiro. A lei que
instituiu o benefício permanente (Lei n.º 14.342/2022) estabelece o valor de R$
400. O pagamento das parcelas adicionais de R$ 200, autorizado pela promulgação
da chamada PEC Kamikaze – também conhecida como PEC Eleitoral –, só está
garantido até o fim deste ano. A Ploa 2023, portanto, prevê que o Auxílio
Brasil será pago no valor de R$ 400 a partir do dia 1.º de janeiro.
Com aquela desfaçatez característica,
Bolsonaro qualifica como fake news as justas ponderações sobre a
incerteza da manutenção do pagamento do Auxílio Brasil no valor atual. Mas, de
fato, nada garante que os beneficiários continuarão a receber R$ 600 no ano que
vem. A menos que se tome como garantia apenas a palavra do ministro-chefe da
Casa Civil, Ciro Nogueira.
Há poucos dias, o ministro afirmou no
Twitter que os que “torcem pelo pior” tomarão um “banho de água fria”, pois,
“no dia seguinte à vitória do presidente Jair Bolsonaro nas eleições”, Ciro
Nogueira estará “com o Congresso tratando das medidas” que o governo “pretende
aprovar” para garantir o pagamento dos R$ 600 do Auxílio Brasil em 2023.
Ora, não se trata de “torcer pelo pior”. É
uma questão aritmética: até este momento não há recursos para cumprir as
promessas de Bolsonaro e Ciro Nogueira. Já se viu do que o atual governo e seus
operadores políticos são capazes para aprovar benefícios populistas, em
detrimento da saúde das contas públicas; logo, não se descarta que o “banho de
água fria” nos realistas, prometido pelo ministro da Casa Civil, venha na forma
de uma nova manobra orçamentária contrária às regras fiscais e à Constituição.
Para quem dá calote em precatórios e admite que o teto de gastos é “retrátil”,
como fez este governo, limites fiscais não existem.
Já o petista Lula da Silva, líder das
pesquisas de intenção de voto, garantiu que o Auxílio Brasil de R$ 600 vai
continuar no ano que vem, caso ele seja eleito, mas tampouco indicou de onde
pretende tirar o dinheiro para isso. Sempre que fala do assunto, diz que esse
tipo de gasto é “investimento”.
Sem uma nesga de compromisso com a
transparência e com a responsabilidade, atributos de um bom administrador
público, Lula anda pedindo que os eleitores simplesmente “olhem para o passado”
e confiem que, do futuro, cuida ele. Dado o histórico do petista, isso soa
quase como uma ameaça.
Em recente entrevista à imprensa
estrangeira, Lula voltou a afirmar que “o teto de gastos parece coisa para
garantir os interesses do sistema financeiro”. Em encontro com empresários do
setor de construção civil, o petista disse também que “não tem medo de dívida
do Estado” e que “dinheiro público bom é dinheiro em obra”.
E assim, com dois inconsequentes na
liderança da corrida presidencial, o País flerta perigosamente com mais um
desastre.
Saneamento desafia o próximo governo
O Estado de S. Paulo
Universalização até 2033 exigirá decisões responsáveis desde o início do novo governo e recorde de investimentos
Quando o próximo governo tomar posse, ainda
restarão 11 anos para o País cumprir a meta de universalização dos serviços de
abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos fixada pelo Novo
Marco Legal do Saneamento (Lei 14.026/20). O prazo pode parecer longo. Mas as
necessidades que se acumularam nos últimos anos, por falta de investimentos no
volume necessário ou por problemas regulatórios que inibiram a entrada de
capital privado no setor, o tornam exíguo. As carências aumentaram em tal
velocidade que, se o novo governo, desde seu primeiro dia, não der a devida
atenção ao saneamento básico, milhões de brasileiros continuarão condenados a
conviver com más condições de habitação e saúde que afetarão seu desenvolvimento
e até o crescimento do País.
Nos próximos quatro anos, os investimentos
indispensáveis para que seja possível cumprir a meta de universalização em 2033
somam R$ 308 bilhões, valor
estimado pela Associação e pelo Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas
de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon Sindcon). Até 2033, os
investimentos previstos alcançam R$ 893 bilhões. Atingir esse nível de
investimentos exigirá grandes esforços de todos os agentes, públicos e
privados, que atuam no setor. Em média, serão necessários investimentos
superiores a R$ 77 bilhões por ano entre 2023 e 2026. Entre 2016 e 2020, porém,
os investimentos anuais nunca chegaram a R$ 20 bilhões. O fato de, nesse
período, o setor privado ter respondido por apenas pouco mais de 20% do valor
investido mostra que há um grande espaço para sua participação nos próximos
anos.
A Lei de Saneamento Básico (Lei
11.445/2007) instituiu princípios para a prestação de serviços. O Plano
Nacional de Saneamento, de 2013, fixou metas de universalização, mas o baixo
volume de investimentos nos anos seguintes mostrou a necessidade de
estabelecimento de novas regras para estimular a entrada de capitais privados.
Isso foi feito por meio do Novo Marco Legal do Saneamento, de 2020.
Os desafios, porém, continuam imensos. Para
alertar o presidente da República a ser eleito em outubro a respeito da
gravidade do problema, as duas entidades empresariais elaboraram uma agenda
para a universalização dos serviços de saneamento básico no prazo previsto na
lei.
Compromisso com a meta de universalização,
respeito à legislação aprovada até agora, incentivo à participação mais intensa
da iniciativa privada nos programas de saneamento básico, maior coordenação
entre as diferentes esferas de governo para permitir a aceleração da execução
dos programas e fortalecimento do apoio dos bancos públicos a programas na área
estão entre os objetivos propostos pelas empresas do setor.
Dados de 2020 mostram que 84% da população
tem acesso a abastecimento de água, mas as redes de esgotos atendem apenas 55%
da população, com disparidade regional muito acentuada. No Norte o índice é de
13,1% e no Nordeste, de 30,3%. A distância até a universalização é muito
grande. E as exigências para superá-la são imensas.
Vacinação em queda traz risco de volta da
pólio
O Globo
Casos surgem na Ucrânia, Israel e Estados
Unidos; Brasil fica aquém da meta e entra na lista de atenção
Os fatos justificam a preocupação com a
queda da vacinação no mundo. Doenças outrora erradicadas, como sarampo ou
poliomielite, têm ressurgido em vários países. No último caso notável, um jovem
de 20 anos de Nova York foi diagnosticado com o vírus da pólio em junho,
sugerindo contágio já disseminado na população. A pólio também fez vítimas
recentes na Ucrânia, em Israel e noutros países. O vírus foi detectado em amostras
de esgoto londrino, nova-iorquino e de outras cidades.
O Brasil é considerado livre da doença
desde 1994. Porém, com apenas 69,4% das crianças imunizadas em 2021, voltou ao
grupo de risco. É uma situação trágica, pois o país já foi exemplo mundial na
imunização contra a poliomielite, que costumava ser acompanhada de perto pelo
próprio criador da vacina, Albert Sabin. Em 1986, o governo criou o personagem
Zé Gotinha para mobilizar a população. A campanha nacional contra a pólio
começou no início de agosto. O último dia 20, um sábado, foi o “Dia D” da
vacinação, mas, sem maior comunicação, nos primeiros 20 dias da campanha apenas
5% da meta havia sido atingida.
Não tardará muito a acontecer com a pólio o
que já aconteceu com o sarampo. Depois de receber da Organização Pan-Americana
de Saúde (Opas) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) a certificação de país
livre da doença, a cobertura vacinal caiu, o Brasil enfrentou um surto em 2018
e volta a contar as vítimas do sarampo em suas estatísticas de mortalidade.
A cobertura da segunda dose da vacina
tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), oferecida gratuitamente no
SUS e inscrita no Calendário Nacional de Vacinação, caiu de 93,1% do
público-alvo em 2019 para 71,5% em 2021, segundo o Fundo das Nações Unidas para
a Infância (Unicef). O recomendado para atingir um patamar que garante a
imunidade coletiva é no mínimo 95%. O atual governo teve mais de três anos e
meio para mudar esse quadro e quase nada fez, como revela a adesão pífia às
campanhas.
Pelos dados do Unicef, no mundo todo 25
milhões de crianças não foram imunizadas como deveriam em 2021, 2 milhões a
mais que em 2020 e 6 milhões a mais que em 2019. Mais de 60% delas estão em dez
países, entre eles o Brasil (os demais são Nigéria, Índia, Indonésia, Etiópia,
Filipinas, Congo, Paquistão, Angola e Mianmar).
A queda na cobertura vacinal foi causada em
parte pela pandemia da Covid-19, que atraiu a atenção dos sistemas de Saúde e
manteve a população em casa. Com as quarentenas, calendários de vacinação foram
prejudicados, reduzindo a proteção contra doenças graves. Um exemplo foi a
queda na cobertura mundial assegurada pelas três doses da vacina contra
difteria, tétano e coqueluche, a tríplice bacteriana, de 86% em 2019 para 81%
no ano passado. Unicef e OMS estimam que em 112 países houve estagnação ou
declínio da proteção contra as três doenças.
Há, ainda, o agravante nada desprezível do
movimento antivacina, atuante nas redes sociais e impulsionado pela pandemia,
que trouxe as vacinas para o centro do noticiário. No Brasil, ele recebeu o
reforço do negacionismo do presidente Jair Bolsonaro, que retardou a vacinação
contra a Covid-19 e tem sido negligente quando se trata de imunizar a
população.
O relaxamento das medidas de prevenção
contra a Covid-19 aumentou a circulação nas cidades e as viagens nacionais e
internacionais. Há, portanto, maior risco de contaminação para os não
imunizados, entre os quais as crianças são as mais indefesas. O Brasil, em ano
eleitoral, tem a oportunidade de tratar da questão na campanha, para que o
Programa Nacional de Imunizações (PNI), trunfo histórico na saúde pública do
país, atinja seus objetivos.
Jovens contemporâneos adotam costumes e
valores conservadores
O Globo
Pesquisa constatou que geração Z prefere
casar de papel passado, quer ter casa própria e constituir família
Os jovens da geração Z, hoje com idade
entre 18 e 25 anos, têm uma cabeça e aspirações muito diferentes das que
normalmente estão associadas a essa faixa etária, revela uma pesquisa da
consultoria HSR Specialist Researchers realizada com mil pessoas nas principais
capitais brasileiras. É perceptível entre eles uma mentalidade mais
conservadora, sobretudo nos valores e nos costumes.
O amor continua a ser um sentimento
valorizado. A diferença é que o jovem quer casa própria (72% dos entrevistados
na pesquisa), quer casar de papel passado (57%) e construir uma família. Nada
de sexo livre ou vida tribal. Nada dos ideais propagados pela geração de
Woodstock, o célebre festival de rock realizado em 1969 numa fazenda no estado
de Nova York. Os representantes dessa geração, que difundia as bases de um novo
mundo de amor livre e vida comunitária regida pela “Era de Aquário”, são hoje
chamados pejorativamente de “boomers”. Estão por fora.
Na geração Z, apenas 19% dizem que não se
casariam legalmente. É menos que os 23% da geração Y (entre 26 e 40 anos de
idade), embora patamar similar ao alcançado na geração X (entre 41 e 60 anos).
É verdade que a relação poliamorosa, propagada por Woodstock, atrai 8% da
geração Z, índice mais elevado em todas as gerações pesquisadas. Mesmo assim, o
que era revolucionário nos costumes dos anos 1960 e 70 continua a ser hoje uma
minoria quase imperceptível.
Aquela época também propagou o sonho da
vida no campo, embalado pelo movimento hippie. A cidade só trazia frustrações e
reprovação ao estilo de vida preconizado pelos jovens. Nos Estados Unidos, as
furiosas manifestações contra a guerra no Vietnã não surtiram efeito. No
Brasil, o AI-5 estrangulou os últimos espaços de liberdade e aumentou a
violência na repressão política. A busca por uma vida alternativa cresceu, pois
nas grandes cidades a atmosfera se tornou irrespirável. As comunidades hippies
tentavam viver do trabalho artesanal. Algumas resistem até hoje.
Mas o mundo e o país mudaram, deixando para trás o sonho da vida comunitária e da casa no campo. A pesquisa da HSR constatou que 85% dos jovens da geração Z querem viver nas capitais. A opção “cidade no interior” ainda é escolhida por 60% da geração “baby boomer”, os que têm mais de 60 anos. Nessa geração, 27% preferem um arranjo familiar em que cada um more em sua casa, provavelmente por já ter passado por um casamento. No fundo, ao contrário do que acontecia nos anos 1960 e 70, o jovem atual parece pensar muito parecido com seus pais da geração X, nascidos naquele período.
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