quinta-feira, 21 de agosto de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Gastos fora da meta estimulam crise fiscal

O Globo

Crescimento da dívida pública é insustentável. Em breve, conta terá de ser paga por todos os brasileiros

Enquanto desfruta recuperação em seus índices de popularidade depois da reação ao tarifaço americano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua a estimular com o maior descaso uma crise fiscal da maior gravidade no futuro. No atual mandato, a dívida pública deverá crescer 10 pontos percentuais e chegar a 82% do Produto Interno Bruto (PIB) — ante média de 65% nos países emergentes. O governo insiste em dizer que cumpre as metas fiscais. Esquece, porém, que só tem conseguido atingi-las graças a artimanhas. A cada dificuldade, exclui gastos novos do cálculo (o padrão se repete com o socorro pelo tarifaço). A despesa não é computada, mas continua alimentando a dívida. Nas finanças públicas, narrativas fantasiosas não têm o condão de mudar a realidade.

Há mais coisas no ar, por Merval Pereira

O Globo

A missão do avião americano foi autorizada pelo governo brasileiro numa hora dessas?

Há um avião misterioso pousando em aeroportos brasileiros e navios rumo à costa da Venezuela, levantando todo tipo de teorias conspiratórias. Sendo Donald Trump presidente dos Estados Unidos, todas podem ser verdadeiras. Os Estados Unidos invadirão a Venezuela a pretexto de combater o governo de Nicolás Maduro, a quem acusam de chefiar cartel de narcotráfico? A missão do avião americano foi autorizada pelo governo brasileiro numa hora dessas? Faz parte de alguma negociação secreta ou demonstração de boa vontade brasileira?

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino não precisava transformar em decisão com efeito vinculante sua posição pessoal sobre a aplicação da Lei Magnitsky contra seu colega, o ministro Alexandre de Moraes, mesmo porque a causa de que era relator tratava de uma disputa judicial na Inglaterra. A decisão de Dino, embora pareça uma defesa da soberania, é inútil em relação à Lei Magnitsky, que não tem vigência no território brasileiro. Ela vale no exterior, para instituições financeiras que tenham relação comercial com Moraes.

Para salvar o Legislativo, por Fernando Haddad Moura

O Globo

Congresso transparente e eficiente não é só desejável, como possível e urgente. É condição para que a democracia funcione

A última pesquisa Datafolha traz um recado direto e preocupante aos que ocupam vagas no Legislativo brasileiro: quase 80% da população vê o Congresso como espaço dedicado à defesa de interesses próprios. A reprovação dos parlamentares segue uma tendência crescente. Não se trata de uma oscilação pontual de imagem, mas de uma crise persistente de representação e confiança pública.

O sentimento de desconfiança em relação à política institucional não é recente, mas seu agravamento exige mais que discursos simbólicos. Reverter esse desgaste passa por mudanças estruturais no funcionamento dos mandatos: mais foco estratégico, mais compromisso com entregas concretas e mais transparência sobre o que o Congresso efetivamente faz — e pode fazer — pela população.

Água no chope dos governadores da direita, por Julia Duailibi

O Globo

Estar abraçado a Bolsonaro hoje na guerra comercial é estar abraçado a uma campanha contra o Brasil, e isso tem custo eleitoral

Com o julgamento de Bolsonaro batendo à porta, governadores de oposição deixaram o constrangimento de lado e colocaram o bloco na rua em busca de um naco do legado eleitoral do ex-presidente. A conta foi simples: bater no governo e enaltecer Bolsonaro, por maior que fosse o exercício retórico de defendê-lo no caso do tarifaço.

Os números recentes da pesquisa Quaest, no entanto, jogaram água no chope dos governadores. Quem pensava que seria um domingo no parque apoiar Bolsonaro terá de recalibrar a rota. Pelo menos agora. A pesquisa mostra que seu caráter tóxico, agravado no tarifaço, pode ser um obstáculo aos governadores com ambições de disputar a Presidência pela direita. Em suma, não dá para levar só uma parte do pacote. Bajular Bolsonaro significa levar o pacote todo, incluindo uma bola de ferro que, hoje, vem dentro.

Alckmin diz que não vai desistir, por Míriam Leitão

O Globo

Vice-presidente disse que Brasil está sendo injustiçado e continuará tentando o diálogo com os Estados Unidos

Nossa vida ficou 6,4% melhor. Este é o percentual da exportação atingido pela decisão dos Estados Unidos de cobrar de todos os países a mesma alíquota nos produtos que contenham aço, cobre ou alumínio. Esta é a forma como o vice-presidente Geraldo Alckmin vê o trabalho de enfrentar o tarifaço americano. De grão em grão, partes das nossas vendas vão ficando nas exceções ou então no mesmo patamar dos outros países. “Não vamos desistir, vamos continuar negociando permanentemente”, diz Alckmin. As portas estão fechadas, as mesas vazias, mas ele repete o mantra, “negociar, negociar, negociar”.

O babaca que balança o pregão nacional, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Malafaia deu a definição mais precisa sobre o deputado que abalou o mercado

O Real recuperou parte da valorização que havia perdido ante o dólar, o Ibovespa voltou a subir e as ações dos bancos, com uma única exceção, o BTG, registraram uma tímida recuperação. O respiro veio junto com a reabertura de canais entre o sistema financeiro e o Supremo Tribunal Federal que, ao longo da escalada da terça-feira, pareciam incontornavelmente obstruídos.

A decisão do ministro Flávio Dino, que se limitou a reafirmar dispositivo vigente na legislação brasileira há décadas, o de que uma decisão estrangeira precisa ser ratificada por tribunal nacional para valer no país, foi protocolada no STF às 11h57 da segunda-feira. Houve algum nervosismo ao longo tarde, mas foi só na terça que o mercado financeiro, ante a perspectiva de um embate entre a toga e o pregão e de um relatório de banco aqui outro acolá, acordou.

Poucos podem poupar no Brasil, por Pedro Forquesato

Valor Econômico

Baixa poupança em muito precede o Estado de bem-estar social no Brasil

Em um artigo escrito para o Valor em 13 de agosto de 2025, “Poucos precisam poupar no Brasil”, o professor Nilson Teixeira, ainda que em um artigo no qual concordamos em vários pontos, infelizmente ajuda a perpetuar algumas visões equivocadas sobre o efeito de políticas de seguridade social na taxa de poupança geral da economia que é preciso que sejam desmitificadas.

Realmente, é um fato já bastante debatido que o Brasil poupa muito pouco em comparação a outros países em desenvolvimento, e que essa característica de nossa economia pode ajudar a explicar a incapacidade do país de manter uma taxa de crescimento do PIB que seja consistente com um movimento de “catching-up” em relação às economias desenvolvidas.

A direita em marcha, por William Waack

O Estado de S. Paulo

O grande jantar em Brasília na última terça feira talvez acabe valendo como a data formal para uma “largada” dos grupos de centro e centro-direita para as eleições de 2026. Afinal, quem podia ser considerado presidenciável por esse largo espectro compareceu (menos alguém com sobrenome Bolsonaro), além dos caciques de pelo menos seis partidos.

Daí para se falar de uma estratégia comum é hoje apenas desejo. Ficou explicitada a existência de pelo menos duas grandes linhas de ação, mutuamente excludentes. Ou esse grande espectro vai para o embate com Lula carregando apenas um nome “de união”, ou vai cada grupo de centro-direita com seu nome e tentaremos ser unidos e felizes num segundo turno.

O ‘patriotismo’ do Outro (sim, com ‘O’ maiúsculo), por Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

Os pecados destes ‘patriotas’ talvez sejam redimidos pelo ente que paira ‘acima de todos’, menos de Trump. Mas poderá a nação brasileira anistiá-los por antecipação?

Os “patriotas” das arruaças, do culto às armas e das camisetas amareladas ganharam votos gritando “Brasil acima de tudo” e “Deus acima de todos”. Dupla pobreza de espírito. O primeiro slogan nunca passou de um plágio de mau gosto do bordão nazista Deutschland über alles (“Alemanha acima de tudo”). Quanto a “Deus acima de todos”, bem, nenhuma novidade. O Altíssimo assim é chamado por habitar supostamente píncaros celestiais insuperáveis. Quanto ao mais, o dístico nunca parou de pé: Deus deveria ser posto acima do Brasil ou seria o contrário?

Com o tempo, ficou evidente que os tais “patriotas” eram na verdade estrangeirotas: patriotas do estrangeiro. Um deles, em 2017, numa excursão à Flórida, chegou a bater continência para uma bandeira dos Estados Unidos estampada numa tela eletrônica. Ao microfone, o voluntário da servidão incondicional confessou: “A minha continência à bandeira americana”. Em 2019, o mesmo personagem arriscou um “I l ove you” para Donald

Ainda as emendas parlamentares, por Roberto Macedo

O Estado de S. Paulo

São inconstitucionais principalmente porque criaram dois tipos de candidatos a parlamentar, com e sem emendas

Há muito tempo escrevo contra as emendas parlamentares, até aqui sem sucesso, mas não desisto, pois constituem uma grande distorção de nossa vida política, por terem grande influência eleitoral. Desta vez tive ajuda do meu amigo Vilmar Rocha, que por 20 anos foi deputado federal por Goiás e como tal participou na revisão constitucional de 1993. Orientou-me sobre o que está na Constituição sobre essas emendas. É advogado e foi professor de Direito na Universidade Federal de Goiás.

Na área federal, essas emendas são de vários tipos, cresceram muito nos últimos cinco anos e alcançam hoje cerca de R$ 50 bilhões por ano. Tenho visto notícias de que também chegaram aos Legislativos dos Estados e municípios. Meus argumentos são pela inconstitucionalidade dessas emendas em seu conjunto. A proliferação delas começou via Emenda Constitucional n.º 100, de 2019, que, entre outros aspectos, tornou obrigatória a execução de emendas de bancadas e individuais, dentro de certos limites. A quem quiser conhecer mais a história das emendas sugiro ir ao Google Chrome e procurar por “emendas constitucionais que permitiram as emendas parlamentares”.

Os bancos e a blindagem do Xandão, por Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Em sua longa volta para casa, o grego Ulisses passou por situações terríveis, relata Homero, em sua Odisseia. Lutou contra o gigante Ciclope, que tinha um só olho, no meio da testa; teve de se livrar das sereias traiçoeiras; enfrentou a feiticeira Circe, que transformou seus marinheiros em porcos; sofreu um naufrágio devastador; e teve de passar por Cila e Caribdis – dois rochedos no estreito de Messina, ambos tomados por monstros carniceiros. Quem escapa de Cila acaba trombando com Caribdis, cujas criaturas mataram seis marinheiros de Ulisses e por pouco não afundaram seu navio.

Setembro crítico para o Brasil, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Calendário do perigo tem julgamento de Bolsonaro e decisão do STF sobre sanções dos EUA

Por pelo menos um mês, haverá risco aumentado de que o ataque Trump-Bolsonaro contra a economia brasileira desvalorize o real, para começar. O risco de novas sanções está no calendário. Jair Bolsonaro será julgado em meados de setembro. O Supremo vai decidir a que problema estarão expostos os bancos que atuam no Brasil em caso de novos decretos americanos contra brasileiros.

dólar em queda pelo mundo e por aqui também tem sido um sedativo para as finanças, para a economia e, em alguma medida, até para a política do Brasil. Dólar mais barato atenua a inflação, anestesia humores ruins com o gasto público e diminui o amplificador das más notícias do Congresso para o governo. A carestia menor devolveria uns pontos de prestígio para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Brasília ferve a 40 graus, por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

CPI do INSS é aviso de que não haverá votação fácil nem para a pauta econômica

Menos de 15 dias após o motim bolsonarista no Congresso Nacional, a derrota do governo e a traição aos presidentes da Câmara e do Senado na escolha de oposicionistas para comandar a CPI do INSS aponta um segundo semestre de grande instabilidade política na véspera de ano eleitoral.

Brasília ferve com a articulação na CPI, que representa também um aviso de que não haverá maioria fácil para as votações.

Às voltas com o problema do tarifaço de Donald Trump, o governo Lula achou que a CPI estava dominada e agora terá que lidar com a pressão da oposição nessa frente de desgaste no momento em que buscava retomar as votações e enviar dois projetos para regular as big techs.

Grito de bolsalidade, mal-estar na incivilização, por Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

O movimento que embrutece, emburrece e empobrece

A bolsalidade se espraiou pela vida pública e privada. Ajudou a embrutecer pessoas doces e a emburrecer pessoas escolarizadas. Luta por empobrecer um país, por se apropriar da sua riqueza material e suprimir sua riqueza imaterial, aquela que faz pensar e sentir antes de falar e agir. Tenta perpetuar a soberania de hierarquias e subjugar uma sociedade diversa.

A bolsalidade empobrece um país enquanto enriquece suas forças coloniais, extrativistas e grileiras. Enquanto enfraquece o Estado, a legalidade, as políticas públicas e abre avenidas para o crime organizado e a corrupção. Enquanto esgarça argumentos e esvazia valores constitucionais.

Flávio Dino decidiu apenas o óbvio, por Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Leis de outro país não têm eficácia no Brasil se ofende a soberania nacional

Trocando o juridiquês por uma linguagem que humanos entendam, o que o ministro Flávio Dino decidiu é simples: no Brasil vale a lei brasileira, como nos EUA vale a lei americana. Em outras palavras: no Brasil, as pessoas —jurídicas ou físicas— estão sujeitas às normas adotadas pelo Legislativo e aplicadas pelo Judiciário das bandas de cá. Data vênia o alarde que causou, a decisão de Dino sobre leis e atos estrangeiros não tem absolutamente nada de novo, a rigor aplica-se às partes daquele caso, não a Moraes, e apenas repete o que a lei já diz.

Novos desafios à política exterior, por Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Estratégia externa requer cálculo fino, discreto profissionalismo e muita contenção na retórica

Os ferozes ataques desfechados por Donald Trump contra a democracia brasileira e o comércio bilateral do país com os Estados Unidos têm se revelado uma inesperada oportunidade de reafirmar alguns princípios que de há muito norteiam a política externa brasileira –e, com base neles, definir com a clareza possível estratégias globais e objetivos regionais.

As condições são especialmente delicadas por duas razões, pelo menos. Uma é a imprevisibilidade gerada pela conduta errática do truculento presidente norte-americano, que parece querer dar vida às representações mais caricatas do imperialismo que, ao tempo da Guerra Fria, inundavam os manuais do marxismo soviético e eram adotados, feito Bíblia, pelos simpatizantes da pátria do socialismo em toda parte. Com Trump, Tio Sam está de volta como farsa trágica.

Deus, pátria e família para palerma ver, por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Se as instituições se curvarem aos Bolsonaros, o Brasil pode reivindicar a 51ª estrela da bandeira americana

Os últimos acontecimentos deixam claro. Os Bolsonaros, pai e filhos, puseram as cartas na mesa e passaram a jogar aberto. Nem o slogan publicitário fascista "Deus, pátria e família", de que tanto se valeram, escapou. Já deve estar sendo aposentado tanto pelos pascácios, pessoas simplórias e bem intencionadas que acreditavam nele, quanto pelos espertos, que o usavam para tapear os ditos pascácios. Vejamos por quê.

Bolsonaros x Deus. Embora O invoquem o tempo todo, as verdadeiras relações entre Deus e os Bolsonaros são zero. Deus não admitiria entre os Seus um sujeito com a vulgaridade e falta de escrúpulos de Bolsonaro pai, defensor da tortura, dado a "pintar um clima" com vulneráveis e nitidamente hipócrita em suas atitudes diante da religião. Flávio Bolsonaro, por sua vez, comprador de mansões de R$ 6 milhões com dinheiro vivo oriundo de "rachadinhas", não passará pelo buraco da agulha.

Poesia | As sem-razões do amor, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Sinfonia do Rio de Janeiro de Billy Blanco e Tom Jobim - Arranjo e Regência Gilson Peranzzetta.