sexta-feira, 22 de agosto de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Bolsonaros só agem em benefício próprio, revela PF

O Globo

Mensagens deixam claro que objetivo de Eduardo e Jair é tão somente escapar da Justiça

São estarrecedoras as revelações do relatório da Polícia Federal (PF) que dão sustentação a mais um indiciamento de Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O documento expõe ações recentes de ambos para retaliar autoridades brasileiras responsáveis pelo julgamento da trama golpista marcado para setembro. Na forma e no conteúdo, as mensagens trocadas por pai e filho constituem um escândalo.

Em recados enviados na noite de 7 de julho, Eduardo deixa claro que sua única intenção é evitar a prisão do pai. Tudo gira em torno — e em benefício — da família Bolsonaro, a ponto de ele descrever como erro a anistia aos condenados por participar dos ataques violentos do 8 de Janeiro. “Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos EUA terá sido o post do Trump”, escreve. “Temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia OU enviar o pessoal que esteve no protesto que evoluiu para uma baderna para casa num semiaberto.”

E se nóis ganhá? Por José de Souza Martins

Valor Econômico

A crise econômica prevista abre brechas para o que não é econômico, mas combinação de irresponsabilidade social e política 

A língua brasileira, isto é, o português falado com sotaque nheengatu e impregnado de palavras do tupi antigo, contém segredos em que o que está sendo dito pode dizer mais do que se pensa. Na verdade, somos bilíngues. Escrevemos uma coisa e pensamos outra.

A linguagem oculta incertezas próprias da duplicidade. Além do que, as escravidões que tivemos e sua cultura da sujeição e do medo nos ensinaram mais a perguntar do que a afirmar.

Nós nos rebelamos nas insurreições sutis, a dos meandros. A língua brasileira, um tanto diversa da língua portuguesa, já é em si mesma uma rebelião: a rebelião das vogais contra as consoantes. Na palavra “ganhá”, na falta do erre do infinitivo, o ganhar não significa precisamente vencer um conflito, mas perdê-lo.

Em sua “Caderneta de campo”, na Guerra de Canudos, Euclides da Cunha anotou respostas de prisioneiros interrogados e degolados em seguida pelo Exército: “E eu sei?”. Ou: “Tem, não” — concordar para discordar.

Lula tripudia, mas o futuro é incerto, por Andrea Jubé

Valor Econômico

Duas questões exigirão atenção máxima dos governistas: o risco de vitimização de Bolsonaro e a CPMI do INSS

Com a política em chamas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tripudiou ontem, no interior paulista: “Um mandato do Lula incomodou muita gente, dois mandatos incomodaram muito mais, três mandatos muito, muito mais, imagina se tiver o quarto mandato”.

Lula faz graça quando todos estão doidos por uma certeza inapelável e fatal do destino do país após as eleições de 2026. Voltando no tempo, quando a Europa era um barril de pólvora em meados dos anos 30, a apreensão era tamanha que o então vice-cônsul em Hamburgo, Guimarães Rosa, decidiu consultar-se com Frau Heelst, a famosa horocopista de Hitler. Perguntou à astróloga se haveria guerra. Conto a resposta no final da coluna.

Eduardo Bolsonaro vendeu um terreno na lua para Trump, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Deputado deixa claro que apoio americano não terá continuidade se não tiver como efeito uma anistia que devolva seu pai ao jogo

As reiteradas vezes em que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) diz ao pai que a manutenção do apoio do governo americano ao bolsonarismo está condicionada a uma anistia ampla e irrestrita, sugere que o deputado vendeu, à Casa Branca, um terreno na lua: as medidas contra o Brasil seriam capazes de colocar o único aliado incondicional de Donald Trump na Presidência, a própria família.

Dois dias antes de anunciar o tarifaço, Trump publica mensagem acusando a “perseguição” ao ex-presidente Jair Bolsonaro e defendendo sua candidatura à Presidência da República, Eduardo Bolsonaro diz que caso viesse uma “anistia light”, ou seja, que não incluísse seu pai, esta mensagem seria a última ajuda do presidente americano: “Eles não irão mais ajudar”. As manifestações constam no relatório da Polícia Federal, no inquérito em que pai e filho são indiciados por suspeita de obstrução do julgamento da ação sobre tentativa de golpe de Estado.

Pesquisa Genial/Quaest mostra que Lula se beneficia da radicalização bolsonarista, por César Felício

Valor Econômico

Segundo levantamento de agosto, petista ganha no segundo turno em todos os cenários

pesquisa Genial/Quaest de intenção de voto na eleição presidencial de 2026 ajuda a explicar a quem beneficia, em um primeiro momento, a radicalização do país estimulada pela agressão externa protagonizada pelo americano Donald Trump. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganha no segundo turno em todos os cenários, mas avança mais contra as alternativas da oposição com o sobrenome Bolsonaro, todas indissociáveis do tarifaço.

De acordo com o levantamento divulgado na quinta-feira, Lula consegue 47%, ante 35% que preferem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível por decisão da justiça eleitoral, réu em ação penal por golpismo e indiciado na quarta-feira (20) pela Polícia Federal por coação à justiça.

O pedágio caro de Tarcísio, por Vera Magalhães

O Globo

Governador está disposto a cumprir périplo desgastante para receber a unção de Bolsonaro, embora ainda alimente dúvidas quanto à candidatura a presidente

Num vídeo que viralizou nas redes sociais, o PT paulista critica Tarcísio de Freitas pelo novo modelo de pedágios nas estradas de São Paulo. Com uma paródia de uma música infantil conhecida, a peça mostra uma montagem do governador dançando ao som de:

— Um, dois, três pedaginhos; quatro, cinco, seis pedaginhos, 150 ou mais.

Diante dos mais recentes desdobramentos das investigações sobre Jair e Eduardo Bolsonaro, acusados de tentar coagir ministros do Supremo Tribunal Federal e interferir no julgamento da trama golpista, fica evidente que pedágio caro, mesmo, é o que o republicano está disposto a pagar para receber a unção do ex-presidente como seu candidato à Presidência no ano que vem.

Ofendido por Eduardo, Tarcísio reagiu fazendo um desagravo à família e chamando de briga entre pai e filho conversas que evidenciam uma série de afrontas a decisões judiciais. Não é o primeiro sapo que ele engole sem fazer cara feia desde que começou a flertar mais abertamente com a candidatura. Até ser intermediário de uma tentativa de liberar o passaporte de Bolsonaro Tarcísio já aceitou.

Quadrilha, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Ofensiva contra STF é para salvar ex-presidente, não quem cometeu crimes em seu nome

Na “Quadrilha” de Drummond, João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria. Na quadrilha de Bolsonaro, Malafaia xingava Eduardo, que xingava Jair, que xingava os ministros do Supremo...

A investigação da Polícia Federal expôs as entranhas do clã às vésperas do julgamento pela tentativa de golpe. Além da baixaria e dos palavrões, o que emerge do inquérito é uma família em desespero, disposta a sabotar o país e os próprios aliados para tentar escapar da cadeia.

Algo à parte, por Pablo Ortellado

O Globo

É preciso separar a militância política da independência e do discernimento exigidos pela escrita

Nestes tempos difíceis, é preciso separar a militância política da independência e do discernimento exigidos pela escrita. É necessário separar essas duas dimensões da vida — a reflexão crítica e a política —, fazendo do trabalho do escritor algo à parte. Essa é a lição que George Orwell nos ensina em “Os escritores e o Leviatã”, um ensaio que precisa ser recuperado à luz dos desafios do tempo presente. Hoje, o exercício do pensamento exige enfrentar três desafios essenciais: uma Justiça fratricida, temas tabus e identidades hipertrofiadas.

Crise envolve militares, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Ao ‘adiar’ operações militares, governo Lula adia na prática as relações com os Estados Unidos

Por mais que as Forças Armadas e o Itamaraty tentem manter frieza e minimizar o envio de navios dos EUA à costa da Venezuela e de um avião branco, sem bandeira e com agentes da CIA, ao sul do Brasil, é claro que os movimentos de Donald Trump em direção ao mundo, à América Latina e diretamente à América do Sul e ao Brasil não são naturais nem tradicionais.

A última operação militar americana na região foi o Plano Colômbia, contra os cartéis colombianos, um quarto de século atrás. Com uma diferença crucial: foi uma ação combinada entre os governos dos EUA e da Colômbia, com apoio internacional, não de um governo contra o outro, como agora, o que afeta todos os países da região.

Trump bem na foto, mal no filme, por Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Quem olha para a foto vê o presidente Trump como grande vencedor. Impôs o tarifaço, com reações mínimas das vítimas globais; bem ou mal, estancou a imigração indesejada por ele; o Congresso faz as suas vontades, a começar pela aprovação da lei fiscal, a tal Big and Beautiful Bill; aos poucos, vai impondo seus pontos de vista ao Judiciário.

Até agora, as empresas prejudicadas vêm engolindo o tarifaço, quase sempre com casca e tudo. Nenhum agrupamento político global conseguiu uma ação conjunta capaz de reverter a atual política comercial dos Estados Unidos. País por país, bloco por bloco, vai prevalecendo o princípio do “meu pirão, primeiro” ou, então, o de que “nada é ruim o suficiente que não possa piorar”. Assim, Trump vai marcando um gol atrás do outro.

Bolsonaro e os R$ 44 milhões, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Dinheirama do capitão da extrema direita causa mais impressão do que conspiração relatada pela PF

Coação e obstrução de Justiça são palavras e ideias complicadas. No liquidificador da razão das redes sociais, podem virar um mingau de besteira lunática. Os indiciamentos de Jair Eduardo Bolsonaro por conspirarem contra o processo legal podem ser cozinhados como papa de narrativas. Além do mais, para quem não acompanha as minúcias do processo, podem parecer coisa velha (não são coisa velha).

No entanto, algo se move, um passinho adiante, embora um para frente e dois para trás seja uma dança recorrente na vida brasileira, em particular depois de 2013. A conspiração dos Bolsonaro para induzir Donald Trump a atacar o Brasil parece ter tirado uns pontos na votação de Bolsonaro nas preferências eleitorais, como indica a pesquisa Genial/Quaest. Pode piorar.

Presidentes na berlinda, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Perda do comando da CPI mista do INSS expõe erosão do capital de autoridade de Motta e Alcolumbre

Mais que um fiasco da base governista, a perda do comando da CPI mista do INSS foi uma derrota pessoal dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado.

Davi Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB) levaram um passa-moleque inédito e surpreendente para comandantes do Congresso eleitos há poucos meses em situação de quase unanimidade.

O debate sobre o Bolsa Família, por Bráulio Borges

Folha de S. Paulo

Programa é favorável para o bem-estar, mas deve sempre ser aprimorado e avaliado

Antes de falar sobre o tema que está no título deste artigo, acho que vale lembrar o leitor de que, dentre os economistas ortodoxos, eu sou considerado um heterodoxo, ao passo que, entre os heterodoxos, eu sou considerado um ortodoxo. Isso significa dizer que eu não faço parte de nenhum desses "times". Na verdade, o meu time é o das evidências: estou sempre tentando manter meu conhecimento atualizado à luz de novos estudos e dados.

Em várias colunas anteriores neste jornal, eu critiquei o teto de gastos criado em 2016, apontando que ele é muito superestimado pelos "ortodoxos", já que aquela regra fiscal não entregou melhoria do primário estrutural nem impediu a dívida pública/PIB (Produto Interno Bruto) de subir continuamente durante vários anos (só caiu em 2021/22 em razão do calote implícito gerado pela inflação de quase dois dígitos naquele biênio).

Alarmismo com ataque de Trump não está exagerado? Por Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Apesar de riscos, nervosismo politizado tende a inflar crise que pode se acomodar em patamares administráveis

A Casa Branca tem neste momento assuntos muito mais estratégicos e espinhosos a tratar em sua agenda externa, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, do que os destinos de Jair Bolsonaro. Ainda assim, a representação pseudo-diplomática em Brasília e funcionários da tropa de choque reacionária de Washington tentam sustentar a fervura da crise com o Brasil.

Contam para isso com a ajuda de políticos entreguistas brasileiros, liderados por Jair e seu filho Eduardo, e de vozes assustadas ou mal-intencionadas. Surfam ainda, paradoxalmente, em manifestações pouco hábeis de agentes do Estado, caso recente do insubmergível ministro Flávio Dino, do STF, que não se conteve e gerou frenesi no mercado financeiro com o seu dispensável recado aos bancos.

Há, por outro lado, sinais menos dramáticos em cena, como a abertura de uma fresta para a negociação de contestações levadas pelo Brasil à OMC. Causou alguma surpresa, uma vez que os americanos sabotam a organização. A resposta, porém, foi clara ao manifestar disponibilidade para marcar a data de uma conversa.

Mensagens desmoralizam Bolsonaro, mostram poder de Malafaia e reforçam dilema de Tarcísio, por Fábio Zanini

Folha de S. Paulo

Ex-presidente tem projeto de se martirizar colocado em xeque; porto seguro da reeleição se torna tentador para governador de SP

Os diálogos de Jair Bolsonaro com o filho Eduardo e o pastor Silas Malafaia revelados pela Polícia Federal dificilmente terão grande impacto no julgamento do ex-presidente pela trama golpista no Supremo Tribunal Federal, uma vez que ali há muito tempo a sensação é de jogo jogado, com uma pesada condenação.

Nesse sentido, uma eventual prisão preventiva do ex-presidente em regime fechado apenas anteciparia uma consequência previsível.

O verdadeiro efeito da exposição das conversas é outro, e não menos importante para Bolsonaro: a sua desmoralização política e pessoal.

A leitura das mensagens é uma experiência que pode ser feita à luz freudiana de uma relação turbulenta entre pai e filho ou pela do controle psicológico exercido por um líder religioso sobre uma figura acuada. Em nenhuma das situações, Bolsonaro se sai bem.

O personagem durão e contestador do sistema sofre profundos arranhões em sua imagem. A frase "VTNC seu ingrato do caralho" de um explosivo Eduardo tem tudo para se tornar mais uma a grudar no ex-presidente como um dia foram "dei uma fraquejada" ou "e daí?, eu não sou coveiro".

Poesia | Sentimento do tempo, de Paulo Mendes Campos

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Música | H. Villa-Lobos: Choros nº 10 “Rasga Coração” | Coro e Orq. Sinf. da UFRJ - Reg.: Roberto Duarte