Editoriais / Opiniões
Agenda ambiental desafiará novos
congressistas
O Globo
Retrocesso do governo Bolsonaro impõe
urgência na revisão de projetos nocivos ao meio ambiente
Marcado pela polarização entre a direita
bolsonarista e a esquerda liderada pelo PT, o Congresso que assume em 1º de
fevereiro de 2023 será acompanhado com especial atenção pelos ambientalistas.
Espera-se uma relação tensa entre os dois blocos em torno de projetos-chave
para o meio ambiente, já bastante castigado nos quase quatro anos do governo
Bolsonaro.
A eleição para a Câmara da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede-SP) e de seu sucessor na gestão Bolsonaro, Ricardo Salles (PL-SP), é garantia de duros embates no plenário. Certamente será lembrado que Salles cumpriu com eficiência a determinação do Planalto para desmontar o arcabouço de fiscalização ambiental, assentado no Ibama e no ICMBio. Está aí a maior causa do crescimento recorde da devastação na Amazônia e da invasão de terras públicas e indígenas por garimpeiros. Marina, que se demitiu no segundo governo Lula por não sentir apoio para endurecer as medidas de proteção, reconciliou-se com o ex-presidente e será ardorosa defensora de seu trabalho. Seu período na pasta marca a maior queda do desmatamento na região.
Caso o ex-presidente Lula vença Bolsonaro
no segundo turno, ambientalistas estão convencidos de que haverá uma corrida no
Congresso para aprovar em regime de urgência projetos nocivos. Um deles foi
apelidado PL da Grilagem, já aprovado na Câmara e remetido ao Senado. Originado
de uma Medida Provisória assinada por Bolsonaro, visa a facilitar a
regularização de propriedades em terras da União. Em outras palavras, legaliza
invasões. Levantamento do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, da Universidade
Federal do Pará, e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) estima
que mais de 14 milhões de hectares dos 50 milhões de hectares de terras
públicas na região estão registrados como propriedades particulares. Uma
votação em rolo compressor no Senado poderá subtrair da União quase 30% das
reservas.
Outra preocupação, além de mudanças que
enfraqueçam o Código Florestal, é o projeto que regulamenta o uso de defensivos
agrícolas ou pesticidas, alcunhado Lei dos Agrotóxicos. Aprovado no Senado e
alterado na Câmara, ele precisa voltar aos senadores. Eles serão pressionados a
reinstaurar no texto da lei o Ibama e a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) como órgãos fiscalizadores desses produtos, omitidos por uma
barbeiragem. É o que precisa ser feito, em defesa da saúde da população.
Uma terceira proposta no radar das
entidades de defesa do meio ambiente é a Lei Geral de Licenciamento Ambiental,
aprovada na Câmara e em tramitação no Senado. O texto derruba várias exigências
para atividades sensíveis, como mineração ou exploração de atividades às
margens de rios. Cria a figura da “mineração artesanal”, capaz de legalizar
qualquer garimpo. A liberação de estudos e relatórios de impactos ambientais
para uma série de obras, prevista no texto, precisa ser revista. Não dá para aceitar
projetos como a Rodovia Manaus-Porto Velho, asfaltada sem nenhum cuidado e
transformada numa ponta de lança aguda para mais desmatamento na Amazônia.
Brasileiro precisa transformar a
solidariedade em filantropia
O Globo
País que foi exemplo de doações na pandemia
tem de se aproximar do país que é celeiro de milionários
Nos cinco anos encerrados em 2020, o Brasil
foi um dos países em que os cidadãos mais fizeram doações, de acordo com o
Ranking Global da Solidariedade elaborado pela entidade britânica Charities Aid
Foundation (CAF). Ao mesmo tempo, a expectativa no setor financeiro, pelas
projeções do banco Credit Suisse, é que os brasileiros milionários, aqueles com
pelo menos US$ 1 milhão em sua carteira de investimento, mais que dobrem entre
2021 e 2026, passando de 266 mil para 572 mil afortunados. O país teria muito a
ganhar se o Brasil das fortunas e o Brasil da solidariedade se aproximassem.
O sentimento de solidariedade ganhou vulto
com a pandemia. De acordo com o ranking da CAF, 55% da população mundial, ou
mais de 3 bilhões de pessoas, ajudou pelo menos um desconhecido. Em países como
Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Holanda, sempre bem situados no ranking,
houve queda acentuada de pontuação, provavelmente porque os riscos impostos
pela Covid-19 e pelas quarentenas inibiram as doações. No Brasil, aconteceu o contrário.
No ranking de 2022, o país deu um salto da 54ª para a 18ª posição, entre 119
países (a Indonésia lidera a lista). Na avaliação específica do quesito “apoio
a desconhecidos”, o Brasil passou do 36º para o 11º lugar em apenas 12 meses.
A tradição de ajudar a quem precisa está
ligada por aqui ao assistencialismo de Estado, promovido por políticos
populistas e oportunistas. Costuma haver ondas de doação e mobilização na
sociedade em grandes desastres naturais ou catástrofes como a pandemia. Mas
ainda falta disseminar a cultura de retribuição à sociedade por parte dos
afortunados, em reconhecimento pelo apoio — e pela sorte — que muitos tiveram
em sua ascensão pessoal.
É o que acontece nos Estados Unidos, onde
as famílias conhecidas pelo patrimônio são doadoras frequentes de universidades,
museus, hospitais, laboratórios de pesquisas e todo tipo de instituição que
preste serviços relevantes à sociedade. Não faz muito tempo, a Universidade
Harvard lançou uma campanha para arrecadar US$ 6,5 bilhões em cinco anos para
seu fundo mantenedor. No final, recebeu US$ 9,6 bilhões, recorde em doações no
ensino superior americano. As doações não vêm apenas dos bilionários, mas de
todos aqueles que, bem de vida, têm em si o sentimento genuíno de retribuição.
No ano passado, as doações nos Estados Unidos somaram US$ 485 bilhões, 4% a mais que os R$ 466 bilhões verificados em 2020. O tratamento tributário especial a beneméritos e filantropos americanos não é suficiente para explicar as doações de ordem pessoal ou a criação de fundações e institutos em que famílias repartem sua fortuna com a sociedade. O que existe é um sentido de solidariedade ainda incipiente no Brasil. É justamente ele que precisa ser incentivado e fortalecido pelas novas gerações de milionários.
Disputa renhida
Folha de S. Paulo
Lula e Bolsonaro partem para o vale-tudo no
2º turno, em vez de debater ideias
As primeiras pesquisas realizadas após o
primeiro turno da eleição presidencial apontam um acirramento da disputa
travada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), que voltarão
a se enfrentar nas urnas no dia 30.
Segundo o
Datafolha, o ex-presidente chegou ao fim da última semana com 49%
das intenções de voto e o atual mandatário atingiu 44%. Outros 6% disseram que
votarão em branco ou nulo, e 2% se declararam indecisos.
Considerados apenas os votos válidos, Lula
teria 53% e Bolsonaro estaria com 47%. Os números indicam que ambos ganharam
votos desde o primeiro turno, mas a vantagem que o líder petista ostentava na
etapa inicial da corrida ao Palácio do Planalto encolheu.
Nas três semanas que restam até a decisão,
estará em disputa um contingente reduzido do eleitorado. Somados os que cogitam
rever a primeira opção e os que ainda não se definiram por nenhum dos dois
candidatos, o grupo representa menos de 10% do total de votos.
Considerando a margem estreita que separa
os dois adversários e a evidência de que muitos votantes deixam a decisão para
última hora, muito pode acontecer. Segundo o Datafolha, no primeiro turno 10% fizeram
sua escolha na véspera ou no dia da votação.
Entre os eleitores que preferiram os outros
dois postulantes que se sobressaíram no primeiro turno, Simone Tebet (MDB) e
Ciro Gomes (PDT), muitos estão indecisos. Somente um terço declara voto em
Lula, a despeito dos apoios que ele recebeu de ambos.
Os levantamentos mostram que o líder
petista mantém grande vantagem entre as mulheres e os eleitores de baixa renda
e no Nordeste, a região que mais contribuiu para sustentar sua candidatura até
aqui.
Bolsonaro, por sua vez, viu a avaliação de
seu governo melhorar e conseguiu equilibrar o jogo no Sudeste. Os dois
adversários se encontram empatados na região mais populosa do país, indica o
Datafolha.
Ambos continuam enfrentando taxas de
rejeição elevadas, o que contribui para estreitar ainda mais suas possibilidades
de avanço no segundo turno. Segundo o instituto, 51% dizem que não votariam de
jeito nenhum em Bolsonaro, e 46% repudiam Lula.
Lamentavelmente, os dois partiram para o
vale-tudo na última semana, na tentativa de desgastar ainda mais a imagem do adversário
com vídeos antigos e ataques pessoais. Bolsonaro voltou a fustigar o Supremo
Tribunal Federal, num esforço para mobilizar os seguidores mais radicais.
Trunfos pessoais e defeitos dos candidatos
são bastante conhecidos do eleitorado, mas sabe-se quase nada sobre seus planos
para enfrentar os desafios à espera do próximo governo. Os debates do segundo
turno oferecerão mais uma chance para que deem ao eleitor as respostas que ele
merece.
Luta em comum
Folha de S. Paulo
Com 3 premiados, Nobel da Paz ilumina
resistência da sociedade a Putin e aliados
O Nobel da
Paz teve três premiados neste ano, mas o objetivo de seu comitê foi
um só —laurear a resistência em prol da liberdade.
O ativista Ales Bialiatski, da Belarus, o
Memorial, grupo de direitos humanos da Rússia, e o Centro para Liberdades Civis
da Ucrânia dividiram o Prêmio Nobel da Paz de 2022. Trata-se de um recado claro
contra o autoritarismo na região.
Os organizadores do Nobel escaparam da
tentação de condecorar o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, evitando o
risco de polêmicas à frente com a escolha de um governante —como ocorreu na
premiação do americano Barack Obama, em 2009.
O Nobel segue a tradição de conferir foco
ao papel da sociedade civil na promoção da paz, com destaque óbvio para os
diretamente afetados pela guerra na Ucrânia.
O Memorial, grupo de direitos humanos mais
antigo da Rússia, com mais de três décadas de atuação, chegou a ter seu
fechamento ordenado em 2021 pela Suprema Corte do país, aliada a Vladimir
Putin, e hoje enfrenta perseguição judicial e política.
A entidade foi designada como "agente
estrangeiro", rótulo criado pela autocracia russa em 2012 para
deslegitimar organizações da sociedade civil que recebem financiamento de fora.
Ela atua especialmente na preservação da memória de milhões de russos
perseguidos e mortos durante a era stalinista na antiga União Soviética.
Já o Centro para Liberdades Civis da
Ucrânia, fundado em 2007 e liderado por mulheres, tem se dedicado a monitorar
desaparecimentos forçados no contexto da invasão russa ao território ucraniano.
O ditador de Belarus, Alexander Lukashenko,
aliado de Putin e reeleito em 2020 num pleito com indícios de fraudes, também ficou
sob o holofote internacional com a premiação de Bialiatski, 60, que se encontra
preso pela ditadura.
O laureado é o diretor da principal
organização de direitos humanos do país, a Viasna (primavera). Ao premiá-lo, o
comitê norueguês honra presos políticos e manifestantes reprimidos com
violência, incluindo tortura, na esteira de protestos ocorridos em 2020.
Com a feliz opção de valorizar a força da sociedade civil, o Nobel ressalta a importância da memória e da exposição de violações como forma de encerrá-las.
E o lavajatismo chegou lá
O Estado de S. Paulo
Em respeito à natureza da operação e a seus resultados, a Lava Jato não deve ser usada em questões político-eleitorais. O combate à corrupção não deve ter preferência partidária
A Operação Lava Jato foi promovida por três
instituições de Estado: a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a
Justiça Federal. Nenhuma das três instituições tem competência para fazer
política partidária ou para atuar politicamente no País. O papel delas, cada
uma dentro do seu âmbito, é contribuir para a vigência e a aplicação do
Direito. Dessa forma, a Lava Jato, em respeito à própria natureza da operação e
a seus resultados, não deve ser usada ou estar envolvida em questões
político-eleitorais. Seu âmbito é outro.
No entanto, neste ano, as duas mais
conhecidas figuras da Lava Jato, o ex-juiz Sérgio Moro e o ex-procurador Deltan
Dallagnol, promoveram suas candidaturas ao Senado e à Câmara dos Deputados,
respectivamente, usando como trunfo eleitoral a operação. Aproveitaram-se de
uma atuação do Estado, bancada com o dinheiro de todos os brasileiros, para
fazer política partidária. O ex-magistrado da 13.ª Vara Federal de Curitiba
ainda valeu-se do prestígio da Lava Jato para promover a campanha da mulher,
Rosângela Moro, a uma vaga na Câmara.
A contradição é notória. Uma operação
estatal cujo objetivo era apurar diferentes modalidades de desvio de recursos
públicos para fins particulares – pessoais ou partidários – tornou-se ela mesma
instrumento para promover objetivos particulares: a eleição de ex-funcionários
públicos e seus parentes. No entanto, parece que os eleitores não viram maiores
problemas no uso eleitoreiro da Lava Jato. No Paraná, Sérgio Moro elegeu-se
senador com 1.953.159 votos (33,5% dos votos válidos) e Deltan Dallagnol foi o
candidato a deputado federal mais votado no Estado, com 344.917 votos. Em São
Paulo, Rosângela Moro recebeu 217.170 votos, conquistando uma vaga na Câmara.
Os três foram eleitos com o mesmo mote: dar
continuidade à Lava Jato no Congresso. E, como se pôde ver no dia 2 de outubro,
isso conta com intenso apelo popular. Ou seja, foi uma boa tática eleitoral. De
toda forma, como a própria Operação Lava Jato mostrou ao País, a régua na
República não deve ser a aprovação popular, e sim a lei. A transformação da
Lava Jato num projeto político-partidário representa um significativo
retrocesso institucional, como se os órgãos de Estado que a promoveram tivessem
um lado político. É, por exemplo, um enorme dano à imagem do Poder Judiciário
que um ex-juiz faça campanha eleitoral dizendo que ele sempre teve por inimigo
um determinado partido político. Ao atuar assim, ele desprestigia não apenas
seu trabalho como juiz, mas a própria Justiça, que deve ser sempre imparcial
politicamente.
Todo esse quadro fica ainda mais confuso
quando, valendo-se da bandeira do combate à corrupção para angariar votos,
Sérgio Moro e Deltan Dallagnol falaram na campanha eleitoral apenas e tão
somente da corrupção nos governos petistas. Essa seletividade de tratamento
ficou ainda mais notória quando recentemente o ex-juiz e o ex-promotor pediram
voto para Jair Bolsonaro no segundo turno.
Durante a Operação Lava Jato, Sérgio Moro e
Deltan Dallagnol ficaram conhecidos por serem exímios descobridores de indícios
de lavagem de dinheiro. Agora, no entanto, parecem adotar outros padrões de
exigência, apoiando à Presidência da República um candidato que nunca
esclareceu a fonte de R$ 25,6 milhões em dinheiro vivo, usados por sua família
na compra de 51 imóveis – indício nada desprezível de lavagem de dinheiro.
No caso do ex-juiz, o apoio à reeleição do
presidente é ainda mais constrangedor. Em abril de 2020, ao anunciar sua
demissão do Ministério da Justiça, Sérgio Moro acusou Jair Bolsonaro de tentar
interferir na Polícia Federal, coisa que, “a despeito de todos os problemas de
corrupção dos governos anteriores”, disse o ex-juiz, não tinha acontecido
durante a Lava Jato. Bem ao seu estilo, Bolsonaro respondeu: “Sérgio Moro, além
de traíra, é mentiroso”. São esses dois personagens grotescos que agora se
abraçam no palanque.
O combate à corrupção, como causa nobre que
é, merecia heróis melhores que esses.
Dilemas do ensino superior a distância
O Estado de S. Paulo
Apenas 2,3% dos cursos de EAD no País atingiram a nota máxima no Enade em 2021, ante 6,2% dos cursos presenciais; disparidade reforça necessidade de maior regulação pelo MEC
A educação a distância, conhecida pela
sigla EAD, cresce em ritmo acelerado no ensino superior brasileiro. O número
anual de ingressantes subiu 366% na última década, dando origem a um fato até
então inédito: em 2020, mais alunos se matricularam na EAD do que na modalidade
presencial. É nesse contexto que preocupam, e merecem redobrada atenção, os
recém-divulgados resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes
(Enade), que testa os conhecimentos de quem está concluindo a faculdade.
Em sua edição de 2021, o Enade mostrou que
universitários no ensino presencial tiveram melhor desempenho do que estudantes
matriculados na modalidade a distância. Apenas 2,3% dos cursos EAD atingiram a
nota máxima. Já entre cursos presenciais, esse porcentual atingiu 6,2%, ou
seja, quase o triplo.
A discrepância ficou evidente também na
ponta de baixo, quando se consideram as notas 1 e 2, as piores na escala de 1 a
5. Tais notas equivalem à reprovação e podem ensejar sanções regulatórias por
parte do Ministério da Educação (MEC), caso os respectivos cursos apresentem
mau desempenho em outros itens avaliados. Pois bem: perto de metade dos cursos
a distância (47,8%) recebeu notas 1 e 2, ante 30,9% dos cursos presenciais.
Os resultados do Enade 2021, referentes a
cursos de 30 áreas do conhecimento, não permitem afirmar peremptoriamente que a
modalidade de ensino superior presencial, por si só, seja melhor do que a de
ensino a distância. Afinal, há inúmeros outros fatores envolvidos. Mas é
inegável que o exame traz evidências que precisam ser consideradas pelo MEC na
hora de planejar e executar a regulação da EAD, assim como pelo Congresso
Nacional, considerando que o vertiginoso crescimento do ensino superior a
distância, mais cedo ou mais tarde, exigirá a aprovação de novas leis sobre o
tema.
No Brasil inteiro, como se sabe, o diploma
universitário abre caminho para melhorias salariais e de emprego, o que só faz
crescer a demanda por acesso à universidade. As instituições públicas, que
oferecem vagas gratuitas, dão conta de apenas uma reduzida parcela do alunado
que todo ano conclui o ensino médio. Assim, há espaço de sobra para as
instituições privadas. Prova disso é que mais de 70% dos universitários no País
estão matriculados em faculdades particulares.
Na lógica do mercado e em meio a uma
acirrada disputa para atrair alunos, o preço das mensalidades acaba sendo fator
decisivo. É aí que a EAD desponta como melhor ou única opção para vastos
segmentos da população. Vale lembrar o que ocorreu nos últimos anos, antes
mesmo da pandemia de covid-19: em 2015, refletindo a crise econômica nos
estertores do governo da então presidente Dilma Rousseff, houve queda, como um
todo, no número de ingressantes no ensino superior brasileiro. Dali em diante,
porém, já a partir de 2016, verificaram-se dois movimentos distintos: enquanto
o número de ingressantes na modalidade presencial diminuía, os cursos de EAD
não paravam de crescer.
Tamanho salto, por óbvio, precisa ser
acompanhado de medidas para garantir a qualidade do ensino: professores qualificados,
formação docente para atuar a distância e condições adequadas de trabalho. Em
paralelo, é indispensável assegurar que os alunos interajam com seus pares e
com os professores, a fim de que a experiência de estudar a distância resulte
efetivamente em aprendizagem, e não em atalho para a obtenção do diploma.
Vale repetir que a EAD, por si só, não é
necessariamente ruim. Longe disso. Tal modalidade é adotada em diversos países
e cumpre o importante papel de levar ensino superior a localidades onde não há
cursos presenciais. Sua maior flexibilidade de horários também permite que mais
gente possa estudar, assim como os custos operacionais mais baixos e os ganhos
de escala reduzem preços, diminuindo a barreira econômica para quem busca a
graduação. Mais do que nunca, é dever do MEC aperfeiçoar os mecanismos de
regulação para garantir a qualidade do ensino superior a distância.
O petróleo volta a assustar o mundo
O Estado de S. Paulo
Corte de produção da Opep traz riscos à economia mundial e pode travar manobras eleitorais de Bolsonaro
A indignada reação do governo
norte-americano à decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(Opep) de cortar sua produção em 2 milhões de barris por dia sintetiza a
extensão dos riscos e dos temores que oscilações nesse mercado tão sensível podem
gerar. Nem mesmo economias superpoderosas como a dos Estados Unidos, capazes de
determinar a preservação ou a mudança de rumos em diversos segmentos da
produção mundial, estão livres de sofrer consequências dessas oscilações, mesmo
dispondo de estoques estratégicos volumosos, que decerto serão mobilizados. O
que se poderá dizer de países menos poderosos e menos protegidos, como o
Brasil?
Assim que a Opep anunciou sua decisão ao
final da sua primeira reunião presencial em sua sede em Viena em dois anos, a
Casa Branca reagiu acusando a organização de ajudar a Rússia. Principal
fornecedora de petróleo e gás da Europa, a Rússia de Vladimir Putin invadiu a
Ucrânia em fevereiro, o que provocou uma aguda turbulência no mercado mundial
desses produtos, bem como no de alimentos e insumos para a agricultura.
O preço do petróleo chegou a se aproximar
de US$ 130 o barril, caiu em seguida para cerca de US$ 82 e tem subido nas
últimas semanas. Foi para evitar novas quedas que a Opep decidiu reduzir a
oferta do produto. Há cálculos de que, com essa decisão, o preço do barril, que
tem ficado pouco acima de US$ 90, alcance US$ 100 no fim do ano. Pressionadas
pela alta da inflação, as principais economias do planeta têm endurecido suas
políticas monetárias, o que reduziu expressivamente sua possibilidade de
crescimento. Nova alta do petróleo realimenta a alta de outros preços.
O presidente Jair Bolsonaro tem comemorado
a queda expressiva do preço dos combustíveis nos últimos meses, conseguida por
meio de fortes pressões do Palácio do Planalto sobre a diretoria da Petrobras.
O barateamento forçado da gasolina, do diesel e do gás de cozinha resultou em
deflação e certamente deu forças à campanha de Bolsonaro pela reeleição.
Não à toa, avolumam-se informações de que
Bolsonaro voltou a pressionar a diretoria da Petrobras, até com indicações de
que pode mudar sua composição, para que haja novas reduções dos preços dos
combustíveis antes do segundo turno da eleição presidencial. As recentes altas
do petróleo no mercado mundial e, agora, a decisão da Opep, porém, tornam menos
provável que a Petrobras, mais uma vez, se renda às pressões do governo. Seus
custos oscilam de acordo com as variações do preço mundial do petróleo.
Cálculos de instituições privadas indicam que, sem correção desde o início de
setembro, o preço da gasolina estava havia dias 9% abaixo da média mundial. Em
vez de cair, o preço precisa subir.
É nesse quadro que Bolsonaro dá início à campanha do segundo turno. Pode até conseguir dobrar a diretoria da Petrobras mais uma vez, mas, se conseguir, imporá à empresa, a seus acionistas e ao País perdas que, cedo ou tarde, terão de ser cobertas – provavelmente por muitos contribuintes que nem compram gasolina, pois não têm carro.
Mais um exemplo de descaso com a educação
Valor Econômico
Conta da falta de planejamento e prioridade
será cobrada a médio e longo prazos
Poucos setores do Estado foram tratados com
tamanho desdém pela administração Jair Bolsonaro (PL) como a educação. Saúde e
meio ambiente são fortes concorrentes, sim, uma constatação difícil de rebater
quando vêm à mente os números de vítimas da pandemia e do desmatamento.
O total de óbitos pelo coronavírus margeia,
tristemente, a casa dos 687 mil. Já a Amazônia continua sendo desmatada e
sofrendo com focos de incêndios em patamares alarmantes.
A educação, contudo, é um caso à parte. A
pasta tem seu quarto ministro em exercício desde que Jair Bolsonaro subiu a
rampa do Palácio do Planalto.
Excluindo o atual, que também terá
dificuldades de apresentar um balanço positivo ao fim do ano, os primeiros,
todos eles, saíram em meio a crises. Recapitulando: indicado por Olavo de
Carvalho, o primeiro foi Ricardo Vélez Rodríguez, que deixou o cargo
responsabilizado por uma administração marcada por polêmicas. Entre elas, um
pouco antes de sair, foi anunciar que planejava mudar a forma como o golpe de
1964 e a ditadura militar costumam ser retratados nos livros didáticos.
No lugar de Vélez, Bolsonaro colocou
Abraham Weintraub, que notabilizou-se como uma das figuras mais beligerantes do
governo. Sua permanência no cargo ficou insustentável depois de ele ser
gravado, durante uma reunião ministerial, referindo-se aos ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF) como “vagabundos”. Foi um momento bastante delicado no
relacionamento institucional entre os Poderes Executivo e Judiciário.
Exonerado Weintraub, a solução formulada no
Palácio do Planalto pouco durou. Antes de escolher Milton Ribeiro, Bolsonaro
escalou Carlos Alberto Decotelli para o comando do Ministério da Educação. No
entanto, Decotelli sequer sentou-se na cadeira de ministro, em razão do
constrangimento gerado por um conjunto de informações de seu currículo que
foram contestadas em reportagens publicadas pela imprensa.
Milton Ribeiro era membro da Comissão de
Ética Pública da Presidência da República. Chegou ao posto com credenciais
acadêmicas e evangélicas, e justamente por suas conexões com pastores acabou
tendo sua exoneração publicada no “Diário Oficial da União” em meio a acusações
de mau comportamento no cargo.
Em seu lugar, assumiu o posto de ministro
de Estado da Educação Victor Godoy. E coube a ele a missão de desarmar a mais
recente polêmica envolvendo uma das pastas mais estratégicas para qualquer
nação que pretenda minimamente fazer jus ao título de “país do futuro”. Isso
porque foi divulgado que, dos R$ 10,5 bilhões bloqueados pelo governo federal
neste ano, R$ 1,04 bilhão foi no orçamento do Ministério da Educação, de acordo
com informações divulgadas pelo Ministério da Economia.
Como era de se esperar, a medida gerou
forte repercussão negativa entre entidades representantes da educação pública.
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino
Superior (Andifes) alertou, por exemplo, que o novo bloqueio inviabilizaria o
funcionamento das universidades.
Também como previsto, a notícia ganhou
ainda mais alcance devido à campanha eleitoral. Nesse contexto, primeiro o
governo afirmou que os bloqueios poderiam ser revertidos, caso o próximo
Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias, que será
divulgado no mês que vem, apontasse “projeção de redução das primárias
obrigatórias”.
Na sequência, o próprio ministro da
Educação entrou em campo para reduzir os danos políticos causados pela
informação. Primeiro, ele disse que a medida não se tratava de um corte de
verbas, mas sim uma limitação de movimentação de recursos. Algo, segundo a
visão oficial, feito, usualmente, para respeitar a Lei de Responsabilidade
Fiscal (LRF). Ainda de acordo com o ministro, nos casos em que o limite de
gastos atrapalhasse o funcionamento das instituições de ensino, seus reitores
poderiam procurar o governo para que o pleito fosse encaminhado para a equipe
econômica.
Na sexta-feira, o ministro publicou um
vídeo afirmando que os recursos seriam prontamente desbloqueados. Trata-se de
mais um exemplo de falta de planejamento e prioridade. Essa conta será cobrada
a médio e longo prazos.
2 comentários:
"Retrocesso do governo Bolsonaro impõe urgência na revisão de projetos nocivos ao meio ambiente"
Retrocesso é pouco. Bozo apoiou atividades ilegais - cometeu crime, com garimpos e desmatamentos e paralisação de órgãos de controle, tudo fora da lei.
O boiadeiro Ricardo Salles foi acusado este ano de incentivar o tráfico internacional de madeira! Depois de ter sido CONDENADO pela Justiça paulista por CRIME AMBIENTAL, quando era Secretário do Meio Ambiente de SP! Foi o mais autêntico ministro do ZERO Ambiente!
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