terça-feira, 2 de setembro de 2014

Sem perguntas a Aécio, Dilma e Marina polarizam debate

César Felício, Raphael Di Cunto e Luciano Máximo – Valor Econômico

SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff (PT) e a candidata presidencial Marina Silva (PSB) polarizaram o debate promovido ontem pela rede de televisão SBT, o jornal "Folha de S. Paulo", o portal UOL e a rádio Jovem Pan. Terceiro colocado nas pesquisas, o senador Aécio Neves (PSDB) não recebeu perguntas das suas duas principais oponentes.

Em sua primeira intervenção no debate, Dilma afirmou que as propostas de Marina envolverão um gasto de R$ 140 bilhões e perguntou à ex-ministra: "De onde sairá o dinheiro?". Minutos depois, a presidente insinuou que a adversária é ambígua sobre o que defende. " O maior risco que uma pessoa pode correr é não se comprometer com nada. Quem governa tem de dizer como deve ser feito", disse a presidente.

Em sua segunda oportunidade de perguntar, a presidente novamente atacou Marina pela mesma vertente: " Das 242 páginas de seu programa de governo só há uma linha sobre o Pré-sal. Porque este despreza por um programa que pode dar R$ 1 trilhão ao Brasil? O petróleo não pode ser demonizado".

Marina procurou desmentir que pretenda interromper a exploração de petróleo em novos campos e procurou desviar o foco para as denúncias de irregularidades na Petrobras. "O maior perigo para o Pré-sal é o que foi feito em seu governo com a Petrobras, que perdeu seu valor de mercado e está sendo usado para ancorar a política econômica. A Petrobras está pagando caro pelas escolhas que fez. Hoje estas escolhas estão sendo investigadas pela justiça", disse, em uma referência a aquisições feitas pela Petrobras no exterior.

A candidata do PSB também elegeu Dilma como alvo. Disse que a petista se elegeu prometendo crescimento, juros baixos e baixa inflação. "Hoje temos crescimento baixo, inflação alta e juros em alta. O que deu errado em seu governo?", indagou. "O que deu certo é que tiramos 32 milhões de pessoas da pobreza", retrucou a presidente, acusada por Marina de "jamais reconhecer um erro".

Marina justificou a sua proposta de instituir a independência formal do Banco Central em função de supostos desacertos na condução da economia. " Este governo com suas políticas erráticas fez com que se tornasse preciso assegurar a autonomia (do BC". Segundo afirmou Dilma durante o debate, um Banco Central independente "só levará a uma dificuldade maior de regulação do sistema financeiro, uma das razões para a crise econômica global".

Aécio Neves foi relegado a um segundo plano até mesmo no bloco do debate em que os jornalistas convidados faziam perguntas a um candidato e escolhiam outro para comentar as respostas. Marina Silva foi questionada por não revelar o nome das empresas que contrataram palestras suas nos últimos três anos e Dilma, escolhida para comentar, disse que faltava transparência para a candidata do PSB. Aécio foi escolhido para comentar uma pergunta destinada ao pastor Everaldo (PSC), que tem 1% nas pesquisas. Everaldo responde a um processo judicial por agressão a uma ex-companheira. Aécio lembrou que apoiou a aprovação da lei Maria da Penha, que combate a violência de gênero.

O tucano teve uma oportunidade de estabelecer um confronto direto com suas principais oponentes quando foi perguntado sobre escândalos de corrupção em que o PSDB foi protagonista, como o das supostas propinas de multinacionais a funcionários do governo de São Paulo e o esquema conhecido como "mensalão mineiro". " Vamos construir para o Brasil um novo ciclo de governança. O Brasil vai tirar suas grandes empresas das páginas policiais dos jornais e devolvê-las às páginas de economia", disse, já provocando Dilma, escolhida para comentar a resposta.

Mesmo ao responder a perguntas de outros candidatos, Aécio procurou questionar a presidente sobre a baixa execução do orçamento de investimentos para a segurança pública (apenas 13%, segundo o tucano) e o investimento pequeno que o governo federal teria feito em Minas Gerais.

Quando pôde perguntar diretamente a Dilma, levou a disputa para seu reduto político e terra natal da presidente: acusou Dilma de ter prejudicado a administração em Minas. A presidente respondeu que o tucano "tinha memória fraca" e que "talvez não tenha estudado direito a matéria, talvez não saiba que as obras de mobilidade urbana foram feitas com recursos federais".

Dilma disse ainda que o governo federal financiou a ampliação de vagas em quinze presídios no Estado. Com displicência que parecia estudada, chamou Belo Horizonte de "BH", apelido pela qual a capital mineira é coloquialmente conhecida no Estado. "Desafio mostrar uma obra federal que tenha andado em Minas Gerais", disse Aécio, que governou o Estado entre 2003 e 2010. Dilma e Aécio estão estatisticamente empatados nas pesquisas em Minas Gerais e o candidato apoiado pelo tucano ao governo local, João Pimenta da Veiga (PSDB), poderia perder hoje a eleição no primeiro turno para o petista Fernando Pimentel.

O tucano só atacou diretamente Marina Silva no momento de fazer suas considerações finais, no final do debate. "Marina defende hoje teses que combatia há muito pouco tempo", disse.

Marina foi questionada com maior vigor pela quinta colocada nas pesquisas de opinião, Luciana Genro (P-SOL), que apontou semelhanças entre seu programa e a política econômica que marcou o segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para perguntar se a candidata não seria "uma segunda via do PSDB?". Segundo Luciana, os economistas que assessoram Marina na elaboração do programa são tucanos.

A candidata do PSB acusou a adversária de dogmática, incapaz de reconhecer acertos em oponentes, e confirmou que irá reforçar o chamado "tripé" inaugurado no segundo mandato tucano: câmbio flutuante, uso da política de juros como contenção inflacionária e superávits fiscais. "Temos que escolher lado, não se pode fazer nova política cedendo a banqueiros e usineiros. Não durou 24 horas e quatro tuítes do Malafaia sua posição em favor do direito de gays, lésbicas e simpatizantes", disse Luciana. A candidata se referia à correção feita no programa de governo de Marina depois que o pastor Silas Malafaia, um dos pregadores evangélicas mais ativos na mídia, ter criticado a proposta de se permitir casamentos homossexuais e criminalizar a homofobia.

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