• Candidata é primeira opção e meio para tirar PT do poder
- Valor Econômico
A ideia da renúncia seguida do apoio a Marina Silva ronda o candidato Aécio Neves. Em áreas afins de sua campanha e do próprio PSDB, esta saída é vista como a melhor maneira de despachar o PT já no primeiro turno, sem correr o risco de uma eventual virada no segundo turno.
Aécio tem prazos. Assim como o PT, o candidato do PSDB apostou na polarização e se deu mal. O candidato do PSDB ainda acredita numa resposta positiva do eleitorado, em meados de setembro, quando avalia que sua propaganda eleitoral começará a apresentar resultados. De qualquer forma, o programa de Aécio, cada vez mais, fala para Minas Gerais.
Mal na disputa presidencial, Aécio também enfrenta problemas em Minas, onde seu candidato ao governo do Estado, Pimenta da Veiga, está comendo poeira no rastro de Fernando Pimentel, o único petista a liderar a corrida para o governo do Estado, nos quatro maiores colégios eleitorais. O próprio Aécio não tem o desempenho esperado em Minas. Em algum momento da campanha, o candidato terá de se concentrar na campanha mineira, de modo a assegurar sua base de regional de apoio para as próximas eleições.
Também não é certo, à esta altura, que se Aécio desistir e apoiar Marina a fatura será liquidada no primeiro turno. Hoje a presidente está consolidada no segundo turno, graças sobretudo ao forte apelo que seu nome mantém nas regiões Norte e Nordeste. O problema da presidente é que ela não amplia nem para o primeiro nem para o segundo turno, conforme demonstram as últimas pesquisas.
É improvável que Aécio aceite algum tipo de acordo com Marina já no primeiro turno, mas o simples fato de a proposta circular nas áreas afins ao candidato, eleitores fiéis que agora pensam no voto útil em Marina, dá uma ideia do tamanho do apoio que se delineia em torno da candidata do PSB. Na hora que o PT perder a eleição, a disponibilidade dos outros partidos para se aproximar é grande.
No segundo turno, a tendência do PSDB é apoiar Marina Silva e ajudá-la a governar, se ela for eleita, como apontam as pesquisas. Ao contrário do que aconteceu em 1992, quando era oposição e se recusou a compor com o governo Itamar Franco, o PT tem muitos interesses em jogo e deve pensar com mais receptividade a ideia de dar apoio congressual a Marina. O problema é que Marina se tornou a primeira opção ao PT. O mercado financeiro é parceiro de Marina porque não quer o PT no governo.
Nos cálculos dos políticos mais experientes, Marina não precisará compor com o PT. Ela pode fazer maioria tranquila com partidos médios e apoios nos maiores, mas, sobretudo, vai jogar luz sobre o Congresso. Pelo que se diz na campanha, Marina terá uma agenda dura, a fim de levar as pessoas da rua, os manifestantes de junho. É evidente que haverá gente no Congresso tentando esconder com mão de gato, mas será muito mais difícil com uma relação transparente.
Dilma, no momento, tem maioria instável no Congresso. Pode-se afirmar que Marina deve ter uma minoria estável. Ela também vai contar com o apoio da mais tradicional sigla brasileira, o PG, o Partido do Governo, aquele que está com qualquer que seja o presidente no Palácio do Planalto. Mas a candidata do PSB também quer inverter a lógica adotada pela presidente para a nomeação dos ministros.
Assim, não será o PSDB, por exemplo, que vai dizer "eu quero fulano". Marina vai escolher, até porque poderá dizer que não tem interesse na reeleição. É uma negociação que não está sobre a mesa. E quando fala que não quer disputar um segundo mandato, Marina Silva desarma os partidos e seus eventuais candidatos em relação a ela. Pode montar um ministério de melhor qualidade. Eduardo Campos, o candidato cuja morte virou de ponta cabeça a sucessão presidencial, era mais gestor e menos equipe. Marina, que o sucedeu, é menos gestora mas tem mais equipe.
O PSDB deve declarar apoio a Marina Silva no segundo turno da eleição, se as pesquisas atuais forem confirmadas em 5 de outubro. A dúvida no entorno da candidata do PSB é sobre o apoio do PT. Afinal, Lula é candidato declarado em 2018. O fato de Marina não querer disputar um novo mandato ajuda um entendimento, se houver convencimento de que ela não cederá a pressões para permanecer, caso faça um bom governo.
A situação do PT hoje é muito diferente daquela vivida quando o partido teve de decidir se apoiava ou não Itamar Franco, após o impeachment de Fernando Collor. Não se trata simplesmente de uma questão de manter cargos, isso também existe, mas de projetos e políticas em andamento que são muito caras ao partido. Diz um integrante da coordenação da campanha de Dilma: "Na época do governo Itamar nós éramos oposição. Agora, com um monte de gente no governo, nós vamos ficar".
Em meio ao pessimismo que se abateu sobre o PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que "ainda" é possível a presidente Dilma Rousseff conquistar a reeleição em outubro. Lula também é mais condescendente com a candidata do que muitos de seus companheiros de partido e da coordenação da campanha eleitoral da presidente.
Segundo Lula, há pelo menos três outros fatores, além da candidata, que jogam contra a presidente, nesta eleição. A primeira é a má avaliação que a população tem da classe política, o que acaba atingindo também quem está no poder, que de certa forma representa o status quo condenado pela maioria dos eleitores.
O segundo aspecto destacado por Lula, em conversas no Instituto Lula, é "o monte de rejeição" do PT, um partido cujos principais líderes estão presos, condenados que foram no julgamento do mensalão. Líderes, aliás, cuja experiência em campanhas eleitorais está fazendo falta agora ao PT, sobretudo em São Paulo
O terceiro aspecto é a "economia desandando", na prática já em recessão técnica. O ex-presidente achava que o PT poderia chegar à eleição com a situação econômica um pouco melhor. E o Volta, Lula? "Não tem jeito". É Dilma até o fim. Lula só gostaria que a candidata fosse um pouco mais afável.
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