• Para eles, Dilma foi mais agressiva, mas não levou vantagem sobre Marina
Alexandre Rodrigues e Rafaela Marinho – O Globo
Em terceiro lugar na última pesquisa do Datafolha, que apontou Marina Silva (PSB) e Dilma Rousseff (PT) empatadas em primeiro lugar na corrida presidencial, o candidato do PSDB, Aécio Neves, não conseguiu usar o debate na TV ontem para reverter o momento frágil de sua candidatura. Terá de buscar uma nova estratégia para atrair a atenção dos eleitores nos próximos embates. A avaliação é de analistas políticos ouvidos pelo GLOBO após a exibição do programa do SBT/UOL/"Folha de S.Paulo".
- As pesquisas ficaram claramente refletidas no debate, com uma polarização entre Dilma e Marina. Aécio virou uma escada para que Dilma ou Marina falassem - avaliou a cientista política Christiane Romeo, professora do Ibmec-RJ. - Ele teve bons momentos, mas nada suficiente para disputar o protagonismo. Diferenciou-se pouco dos outros candidatos, que também miraram mais em Dilma e Marina. Aécio parecia não ter entrado na campanha ainda ou não ter entendido bem o novo cenário.
Para o cientista político Fernando Abrúcio, da FGV-SP, o debate teve uma dinâmica diferente da do embate da TV Bandeirantes, na semana passada, antes do Datafolha. Segundo ele, não há dúvidas de que o tucano ganhou pouco com sua participação e vai precisar encontrar uma forma de atingir Marina para buscar uma vaga no segundo turno. Por enquanto, avalia, ainda não conseguiu encarnar um personagem para isso, talvez temeroso de afastar os eleitores dela, caso chegue ao segundo turno.
Mais cobranças a Marina
Segundo Abrúcio, não só a polarização mudou, mas Marina foi mais cobrada. Por isso, avalia, os ganhos dela não ficaram tão claros quanto no debate anterior. Ontem, ela teve contradições apontadas até pelo Pastor Everaldo (PSC), que se dirige ao eleitorado evangélico.
- Não há ganhadores num debate, mas quem se beneficia dele. Aécio não se beneficiou. Ele ficou de lado, meio patinho feio. O debate ficou todo no governo Dilma e na figura de Marina, que só foi atacada de forma mais incisiva por ele no final. Aécio foi o menos perguntado entre os três principais candidatos. Pode até ser uma vantagem ficar mais protegido, mas é perigoso na condição dele. Se não fala, não fica mais conhecido - disse Abrúcio.
Para Sonia Fleury, professora de ciência política da Ebape-FGV, no Rio, o debate foi contaminado pela divulgação recente da queda do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, deixando pouco tempo para temas que interessam mais ao eleitor, como saúde e educação. A discussão da mobilidade, por exemplo, acabou na superficialidade da troca de acusações entre Dilma e Aécio. Apesar dos dados desfavoráveis, Sonia avalia que a presidente conseguiu passar segurança na defesa do governo.
- Dilma conseguiu se comunicar melhor do que no debate anterior. Passou conhecimento sem citar tantos dados de difícil compreensão. Foi menos professoral e até um pouco emocional - analisou a professora da FGV.
Ricardo Ismael, cientista político da PUC-RJ, também viu mudança de postura em Dilma, que "agora precisa atacar para não perder". Para ele, a presidente foi mais agressiva.
- Ela partiu para cima, mas não levou vantagem porque Marina conseguiu neutralizar as acusações da presidente. E Marina também atacou Dilma, mostrando que não tem medo do confronto - avaliou Ismael, que acredita na continuidade do crescimento da candidata do PSB nas próximas pesquisas. - Se o debate tinha a chance de evitar esse crescimento, isso não aconteceu. Nem Dilma nem Aécio conseguiram colocar uma questão que abalasse profundamente Marina.
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