terça-feira, 2 de setembro de 2014

Marina rebate Dilma e diz que programa do PT é conservador

• Presidente havia criticado mudanças em propostas do PSB à comunidade gay e defendeu criminalização da homofobia

• Ex-senadora afirma que petistas só perdem em "conservadorismo" para o pastor Everaldo, candidato pelo PSC

Marina Dias, Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - "O programa de Dilma Rousseff só não ganha em conservadorismo do programa do Pastor Everaldo". Foi assim que a candidata do PSB ao Palácio do Planalto, Marina Silva, reagiu em entrevista à Folha às críticas feitas pela presidente da República sobre seu recuo nas propostas para a comunidade gay.

A ex-senadora tem sido alvo de ataques dos adversários desde que divulgou errata do seu programa de governo, no sábado (30), eliminando algumas das principais bandeiras LGBT, como o comprometimento com a lei de identidade de gênero --que permite alteração de nome e sexo na documentação-- e articulação no Congresso para a aprovação de leis que criminalizam a homofobia e regulamentam o casamento gay.

As declarações de Marina foram dadas na noite desta segunda-feira (1), após debate promovido por Folha, UOL, SBT e Jovem Pan.

A referência de Marina ao candidato do PSC diz respeito à posição radical do pastor contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e em defesa da "família tradicional".

Durante o debate, Marina já havia sido confrontada sobre o tema pela candidata Luciana Genro (PSOL). "Não durou quatro tuítes sua política para casamento igualitário", disse Luciana em referência a críticas feitas pelo pastor Silas Malafaia na internet.

Marina afirmou que a mudança no programa ocorreu por "erro da equipe de campanha". "Defendemos as liberdades individuais", disse.

Momentos antes da manifestação de Marina à Folha, Dilma classificou em entrevista o recuo da pessebista como "uma ofensa ao Brasil".

"Não se deve mudar a proposta. O Brasil é uma sociedade que sempre foi tolerante com a diferença. A gente tem que criminalizar a homofobia", disse a presidente.

Apesar desse discurso, a petista cedeu, em vários momentos de seu governo, à pressão da bancada evangélica no Congresso. Entre os exemplos, está o engavetamento do projeto de distribuição de um kit anti-homofobia nas escolas públicas em 2011.

Coordenadora do programa de governo de Marina, Neca Setúbal afirmou que, mesmo com a retificação sobre a questão LGBT, as propostas da pessebista são as mais "avançadas e consistentes".

Desespero
Principais adversários de Marina na disputa presidencial, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) adotaram a estratégia de, nas palavras de aliados de ambos os candidatos, "desconstruir" a imagem da ex-senadora e colar nela a pecha de "conservadora".

"Obviamente que há um certo desespero de alguns partidos grandes, com muitas estruturas, porque a sociedade brasileira assumiu uma nova postura [para o voto] e não adianta ficar desqualificando os projetos dos concorrentes. Não estou preocupada com rótulos", disse a candidata do PSB.

Integrante da Assembleia de Deus, Marina disse ainda que usa o mesmo discurso diante de pastores, bispos e movimento LGBT. "Minha vida é que fala por mim".

Ela fez crítica velada a Dilma ao dizer que "tem gente que vai às igrejas evangélicas e faz um discurso e, depois, faz outro", em referência à incursão da petista à Assembleia de Deus, em agosto.

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