- O Globo
A candidata Marina Silva atravessa talvez o melhor momento de sua campanha, apesar de ter passado a ser o alvo dos adversários. Acontece que é muito difícil atacá-la por seus supostos defeitos, como tomar decisões com base na religião, e ela pode prometer tudo, como qualquer candidato de oposição faz. O fato de estar em ascensão nas pesquisas permite a Marina posar de vítima quando lhe interessa, e partir para o ataque quando e como quiser.
A presidente Dilma bem que tentou mostrar que as promessas de Marina não fecham as contas, mas para quem está à frente de um governo desastroso não é tarefa banal ensinar como as coisas devem ser feitas. Quando tentou mostrar que as promessas não cabiam no Orçamento do país, a presidente Dilma teve que ouvir que o corte de desperdícios e a racionalização dos gastos públicos dariam conta do recado.
A questão do petróleo, que poderia ser para Dilma o que foram as privatizações para o presidente Lula na disputa pela reeleição em 2006, é de difícil exploração desta vez, pois a situação caótica da empresa brasileira, com perda de valor na Bolsa, diretores presos e várias acusações de corrupção, não permite à presidente mostrar o erro da falta de prioridade que o programa de Marina dá ao pré-sal.
Também o abuso do uso político do pré-sal e da autossuficiência brasileira do petróleo, desmentida pela conta de importação, não permite a Dilma reagir com o rigor que deveria merecer o assunto. Os especialistas apontam que o programa da Marina tem nitidamente preconceito em relação ao petróleo e gás natural, o que, para o consultor Adriano Pires, um dos assessores do candidato do PSDB, é "uma visão míope e que poderá trazer grandes prejuízos ao país".
Marina até que corrigiu o rumo de seu discurso falando que o pré-sal deverá ser usado para desenvolvimento de novas tecnologias, mas colocou de lado, e a presidente Dilma não rebateu, os royalties para estados e municípios e a geração de empregos. Não fica claro na proposta de Marina se teremos continuidade nos leilões de petróleo, e sob que marco regulatório, mas o governo petista também perdeu um tempo enorme sem realizar leilões de blocos de petróleo.
Na realidade, diz Adriano Pires, o pré-sal é um bem necessário e qualquer país gostaria de ter reservas de petróleo como as brasileiras. O pré-sal e as fontes renováveis não são excludentes, mas nos governos petistas caímos no erro de dar destaque absoluto ao petróleo, tudo pré-sal, inclusive estimulando o uso de automóveis, dando subsídios às montadoras e controlando o preço da gasolina para conter a inflação, o que foi criticado por Marina no debate de ontem.
Mas se não for pressionada, podemos trocar de erro, dando prioridade para as energias renováveis e execrando o petróleo e o gás natural. A presidente Dilma ainda tentou vender a ideia de que investiu em alternativas energéticas como a eólica, afirmando que somos hoje o segundo país do mundo mais preparado para aproveitá-la, mas Marina nem deu bola.
O fato é que, como ressalta Adriano Pires, as energias renováveis não terão condições de sozinhas garantirem a segurança energética do país. E até o momento ninguém acusou Marina pela redução da capacidade das usinas hidrelétricas, pelo fato de as novas serem a fio de água, sem os grandes reservatórios que prejudicariam o meio ambiente, segundo critério imposto por Marina quando no Ministério do Meio Ambiente.
Isso obriga necessariamente a construção de térmicas, já que eólicas e solares são energias intermitentes. O segundo motivo pelo qual as energias alternativas não podem ter prioridade hoje é preço. As fontes renováveis de energia ainda são mais caras e, portanto, a sua entrada de maneira consistente tem de ser feita através de programas que não penalizam o consumidor nem tirem a competitividade da indústria, nem criem dificuldades e problemas na operação do sistema elétrico.
Mas nada disso foi discutido nos debates até o momento, e tudo indica que não será pois Marina paira acima dessas dúvidas técnicas, vendendo sonhos e vontade de mudança. Justamente o que 80% dos eleitores querem. Ela polarizou o debate com a presidente Dilma, como apontam as pesquisas, e deixou o candidato do PSDB em segundo plano.
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