A alta de 0,28% do IPCA em novembro provocou uma onda otimista nas estimativas para a inflação e, consequentemente, para os juros. O IPCA está acumulado em 2,5% no ano, o menor percentual desde 1998. A previsão agora é que o índice de preços feche 2017 em 2,8%. Se a expectativa se confirmar, será a primeira vez que ficará abaixo do piso da meta, obrigando o Banco Central (BC) a se justificar ao Ministério da Fazenda. Desde que o regime de metas de inflação foi adotado, em 1999, o BC teve que se explicar outras quatro vezes, mas todas porque extrapolou o teto.
O bom comportamento da inflação contagiou também as estimativas para os juros, que caíram para o patamar mais baixo da história na semana passada, depois que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa básica Selic em mais meio ponto, para 7% ao ano. Até então, o ponto mais baixo da Selic havia sido de 7,25%, para onde foi conduzida em 2012, em boa parte por imposição da então presidente Dilma Rousseff. Mas a inflação estava fora de controle naquela época e a Selic teve que voltar a subir, chegando ao pico de 14,25% em julho de 2015.
Somente mais de um ano depois, em outubro de 2016, já sob o governo Temer, e com Henrique Meirelles na Fazenda e Ilan Goldfajn no BC, foram reunidas as condições para se voltar a colocar a Selic em trajetória de baixa, desta vez de modo sustentável. O processo foi favorecido pela queda da inflação causada por uma safra agrícola excepcional, que reduziu muito os preços dos alimentos, e pela recessão que se prolongou por onze trimestres, durante os quais o Produto Interno Bruto (PIB) acumulou recuo de quase 9%. A economia voltou a mostrar sinais de recuperação neste ano, mas a inflação continuou bem comportada, mantendo aberto o caminho para reduzir os juros. Após dez cortes seguidos, que somaram 7,25 pontos, a Selic chega agora a 7% ao ano.
Os juros reais recuaram para o menor patamar em quatro anos. Como a inflação está excepcionalmente baixa, foi pequeno o progresso no ranking global, onde o Brasil caiu do terceiro para o quarto lugar em juro real, ficando atrás da Turquia, Rússia e Argentina.
Outra questão é o reflexo pouco significativo nas taxas do crédito. Os bancos dizem que estão repassando a redução do custo de captação propiciada pela queda da Selic para os juros dos empréstimos, mas o ritmo e a intensidade estão longe do ideal, apesar dos esforços do Banco Central com sua Agenda BC+. Inicialmente, os bancos justificaram que a inadimplência elevada não permitia maiores cortes do juro. Mas ela estabilizou nos últimos meses e, nem por isso houve uma redução relevante dos juros dos empréstimos. Dados do BC mostram que a taxa média do crédito caiu 6 pontos percentuais desde outubro de 2016, quando a Selic começou a ser diminuída, até outubro passado, saindo de 33,4% para 27,4%. O spread ficou praticamente inalterado, em 20,7 pontos atualmente em comparação com os 24 pontos percentuais de outubro de 2016.
A concentração bancária parece ser um dos empecilhos à redução do custo dos empréstimos. Quando a ex-presidente Dilma quis reduzir os juros do crédito usou os bancos públicos como instrumento de competição, com algum sucesso, embora isso tenha revertido em aumento da inadimplência para essas instituições financeiras. Dados do Banco Central mostram que os cinco grandes bancos de varejo respondiam por 86% do total de empréstimos concedidos pelo sistema. Os bancos rejeitam a acusação e justificam que o sistema é concentrado em vários países, o que também é verdade.
O comportamento mais recente da inflação já leva algumas instituições financeiras a preverem que a Selic vai cair mais um pouco no início de 2018, para 6,75% ou até 6,50%. A previsão para o final do próximo ano, porém, continua em 7%, de acordo com a pesquisa Focus, divulgada ontem. Fala-se até na volta dos juros ao patamar de dois dígitos em 2020. Contribuem para isso a incerteza com o ajuste fiscal, a perspectiva de turbulências com as eleições presidenciais, além do receio de uma eventual reversão das condições internacionais favoráveis aos mercados emergentes e um aperto da política monetária americana. A principal variável é a reforma da Previdência, que será decisiva para a redução dos juros. Nesse cenário pontuado pelas incertezas, pode-se compreender a cautela dos bancos em reduzir mais o custo do crédito.
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