Vandson Lima e Fabio Murakawa | Valor Econômico
BRASÍLIA - "Queremos nos sentar na mesa dos grandes partidos em 2019. Ser protagonistas também". Presidente do DEM, o senador Agripino Maia (RN) viu seu partido reduzido a um quase nanico após 16 anos de 'pregação no deserto', na oposição a Luiz Inácio Lula da Silva e governos petistas.
Mas esse tempo, acredita, passou. A turbulência que levou ao impeachment de Dilma Rousseff e, na sequência, à cadeia Eduardo Cunha (PMDB), colocando inesperadamente Rodrigo Maia (DEM-RJ) em condições de ser o segundo homem mais poderoso da República, à frente da Câmara dos Deputados, dará à sigla condições de voltar à roda dos grandes após as eleições de 2018.
No planejamento do DEM, que realiza sua convenção nacional na quinta-feira, o "protagonismo" de Maia levará o partido a absorver egressos, entre outros, do PMDB, PSB, PSD e Solidariedade e contar com até 45 deputados após a janela partidária de abril - hoje são 29. É este número que a legenda quer manter após o teste nas urnas, em outubro, para ficar entre as cinco maiores legendas da Casa.
Líder do DEM na Câmara, o deputado Efraim Filho atesta que "Rodrigo Maia é o grande articulador do partido". "O eixo de poder que ele representa hoje aproximou várias legendas. É o novo 'player' na política nacional", diz. "Não necessariamente será candidato [a presidente]. Mas se não for ele, passará por ele", garante.
Parlamentares atestam ao Valor que trabalham com a tese de lançar Maia como presidenciável na convenção, mesmo que apenas como um artifício para negociar espaço para a sigla na disputa eleitoral do próximo ano. Pesa contra a estrela em ascensão do DEM, contudo, os dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Apelidado de "Botafogo" nas planilhas do setor de propinas da Odebrecht, Maia e o pai, Cesar Maia, são investigados por suposto recebimento de contribuições para campanhas, via caixa dois. Eles negam.
Em 2014, o DEM chegou a 1/5 do tamanho que tivera em seu auge, como PFL, no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (de 105 deputados, em 1998, para 21 deputados há três anos). Para quem só teve dois candidatos a governos em 2014 (Bahia e Acre, ambos derrotados), a estimativa para 2018 é ambiciosa. Ter por volta de 12 candidaturas minimamente competitivas. Três delas com boas chances de êxito: ACM Neto na Bahia; e os senadores Davi Alcolumbre no Amapá; e Ronaldo Caiado em Goiás. "Eles são hoje ponteiros nas pesquisas", lembra o presidente do partido. Além disso, há outras com potencial de crescimento, como do ministro da Educação Mendonça Filho em Pernambuco; Cesar Maia no Rio; Alberto Fraga em Brasília; e o recém-filiado Mauro Mendes no Mato Grosso.
É com esse horizonte que o partido vai negociar seu espaço na disputa presidencial, em que pretende estimular uma "candidatura de centro". "Queremos protagonismo visível, para na hora certa nos apresentarmos para negociar", diz Agripino.
A conformação política atual, de um 'semi-presidencialismo' que quase equipara o poder do chefe da Câmara ao do mandatário do Palácio do Planalto, explica segundo seus pares porque Maia não mira, até o momento, o Executivo. "Hoje, com esse regime de proeminência do legislativo, o presidente da Câmara tem um poder muito grande. Rodrigo quer se manter lá", avalia Agripino.
A possibilidade de construção de uma candidatura majoritária com o PMDB de Temer e o chamado Centrão da Câmara, que orbita em torno de Maia, existe, mas dependerá do êxito do governo na recuperação econômica. "É preciso esperar que a economia dê sinais mais robustos de melhora, para que aí o governo seja um ator importante na identificação dessa candidatura que dará continuidade às reformas", aponta Agripino.
O discurso entusiasta do reformismo, no entanto, é direcionamento, não obrigação. "Até por conta de sua formulação programática, o DEM reúne um contingente expressivo pró-reforma da Previdência. Mas fique claro, não vamos tutelar, obrigar ninguém [a votar a favor]", esclarece Agripino.
A cada vez mais consolidada candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ao Planalto pelo PSDB, não empolga o DEM, ao menos por ora. "O centro precisa encontrar um candidato de unidade. Não é que não seja o Alckmin. Ainda não está identificado", diz Agripino. Efraim é mais direto: "Não é momento de caminhar a reboque do PSDB", diz.
Para antagonizar com o discurso de assistência aos mais pobres de Lula - em especial no Nordeste, onde o petista tem altos índices de intenção de voto -, o DEM quer apostar no diálogo com o setor produtivo, como o agronegócio. "Em Salvador, ACM Neto é o prefeito mais bem avaliado do Brasil e se reelegeu com o maior índice, mesmo tendo o PT no governo da Bahia [com Rui Costa]. Não é um drama, não é um problema antagonizar com Lula", acredita Efraim.
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