Cristian Klein | Valor Econômico
RIO - Era para ser um debate sobre o livro que retrata o período no qual o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira, 86 anos, liderou a equipe econômica do governo Collor, entre maio de 1991 e outubro de 1992 - grupo que já trazia futuros formuladores e condutores do Plano Real, alguns dos quais presentes no pré-lançamento feito ontem, na Casa das Garças, centro de pensamento ligado aos tucanos, no Rio. Mas os 17 meses de ontem deram lugar às inquietações sobre os próximos meses de incerteza que o país vai atravessar antes e depois das eleições presidenciais de 2018. Um dos integrantes da mesa, o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, mostrou-se preocupado em relação à possibilidade de o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, concorrer ao Planalto. Para Arminio, a candidatura Meirelles pode retirar o "espaço de manobra" para que haja um diálogo entre governo e outros atores políticos e econômicos.
"Eu tenho um pouco de medo da candidatura. O conjunto da obra é muito bom. [Mas] Me assusta isso, o que não é pouco", disse Arminio, que comparou o ano de 2018 a outros períodos de transição, como o que viveu durante a passagem do governo Fernando Henrique Cardoso para o de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.
"Pode ser necessário alguém ali com espaço para dialogar com todo mundo, para procurar construir pontes, equilibrar um pouco uma discussão que hoje está difícil de ser a respeito das reais necessidades do país. É questão de um espaço de manobra que o líder da equipe econômica talvez fizesse por bem preservar", defendeu.
"Corremos o risco de ter candidatos oferecendo o seguinte cardápio: vamos fazer o ajuste ou vamos ser felizes? Esse cardápio não existe. [O que existe é] vamos fazer o ajuste e ser felizes, ou vamos, provavelmente, viver uma crise ainda maior do que a que vivemos recentemente", disse o ex-presidente do BC.
Ao Valor, no fim do debate, Arminio afirmou que se preocupa com a candidatura Meirelles mais pelo lado da "governabilidade econômica" do país do que pelo potencial de tirar votos do pré-candidato do PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e dividir o atual bloco governista. "Será que é um bloco?", questionou. Ao permanecer no ministério, Meirelles "teria mais facilidade para pilotar uma crise que por ventura venha a ocorrer".
A situação de Meirelles seria muito diferente da de FHC, quando o tucano, então ministro da Fazenda, se tornou presidenciável depois do Plano Real. "Fernando Henrique já estava lá e pilotou o plano que foi um sucesso estrondoso; depois veio a candidatura. Ela nasceu espontaneamente. Agora está um pouco cedo para comemorar, a economia está no buraco ainda, o investimento está paralisado, falta muito", disse.
Para Arminio, talvez não seja tão grave Meirelles "fazer esse balão de ensaio" da candidatura uma vez que teria que se desincompatibilizar seis meses antes da eleição de outubro. Mas ele "tem um papel de coordenador-geral que bem ou mal está dando sustentação a essa transição difícil".
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