Novo ministro da Defesa precisa ser civil
O Globo
Principal desafio será desvincular as
Forças Armadas do papel político adquirido sob Bolsonaro
O próximo ministro da Defesa será um civil,
segundo anúncio do governo de transição. É uma decisão correta, um primeiro
passo para a necessária revisão do papel das Forças Armadas na política depois
do caótico governo Jair Bolsonaro. Um nome reconhecido por todos, pelo
estamento militar inclusive, terá oportunidade de recompor a relação entre a
caserna e a sociedade.
A Defesa precisará de um bom comunicador
para lembrar à opinião pública que Forças Armadas não são sinônimo de
bolsonarismo. É fato que boa parte dos militares torce o nariz para Luiz Inácio
Lula da Silva, mas a ampla maioria são profissionais cientes de suas missões
constitucionais e comprometidos com projetos estratégicos para o país. O que
mais querem é sair do turbilhão político a que foram lançados por Bolsonaro e
seguir com suas vidas.
Como o aparelhamento do Estado por militares foi gigantesco, muitos certamente mudarão de endereço profissional a partir de janeiro. É preciso toda a cautela para que o desaparelhamento não seja interpretado como revanchismo. É importante que os próprios militares compreendam que a intromissão em todo tipo de atividade só contribuiu para deteriorar a imagem das Forças Armadas. Basta lembrar a absurda fiscalização das urnas eletrônicas, um episódio vergonhoso.
É essencial também, para regulamentar a
participação deles no governo, a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição
(PEC) que veta a militares da ativa exercer cargos de natureza civil no
governo. É provável que as corporações da caserna sejam contra, argumentando
que diplomatas e outras categorias do serviço público não estão sujeitas às
mesmas regras. Será preciso lembrá-las que, passadas as eleições, a extrema
direita não foi “abraçar” o Palácio do Itamaraty pedindo um golpe de Estado.
As Forças Armadas precisam afastar sua
imagem desse grupo radical e resgatar seu papel mais importante: proteção do
território e garantia da soberania. Se alguém ainda duvidava da necessidade de
preparo contra ameaças externas, a guerra na Ucrânia serve de alerta. O novo
governo precisará analisar com atenção projetos que não são estratégicos
somente para as Forças Armadas, mas para o país.
Na Marinha, o que merece mais atenção é o
submarino nuclear. Quando pronto, será uma enorme vantagem no Oceano Atlântico.
Além de orçamento, o novo governo precisará buscar parcerias com outros países
para resolver desafios tecnológicos. Outras necessidades são submarinos
convencionais e navios de superfície. No Exército, força em que também existe a
necessidade de modernização, a meta é a defesa cibernética, além do sistema de
proteção e vigilância da fronteira. Na Aeronáutica, o desafio é aeroespacial,
sem esquecer os programas de caças e do avião multipropósito.
Todos esses projetos demandam verbas
bilionárias, que necessitam de aprovação do Congresso e destinação orçamentária
transparente, num momento de crise fiscal aguda. O novo ministro da Defesa
precisará, portanto, ter capacidade para explicar aos congressistas a
importância estratégica de cada um. Nada disso se compara, contudo, ao dever de
desvincular as Forças Armadas do papel político adquirido sob Bolsonaro. Um bom
começo seria obter delas o repúdio firme e contundente ao circo golpista que
ainda persiste diante dos quartéis.
‘Revogaço’ de decretos armamentistas de Bolsonaro é medida necessária
O Globo
Senador eleito Flávio Dino propôs política
mais dura com clubes de tiro e com atiradores amadores
O senador eleito Flávio Dino (PSB-MA),
cotado para ocupar o Ministério da Justiça no governo que assumirá em janeiro,
confirmou nesta semana o “revogaço” dos decretos armamentistas do governo Jair
Bolsonaro. “Existe direito adquirido a faroeste? Não. Existe direito adquirido
a andar com fuzil, metralhadora? Não também”, afirmou. “Então é possível que
haja um efeito imediato nos arsenais já existentes? É possível.”
Ele defendeu ainda uma regulação mais dura
dos clubes de tiro e das armas registradas por quem se identifica como
Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC). “Vai haver fechamento
generalizado de clubes de tiro? Não”, disse. “Mas não pode ser algo
descontrolado, não pode ser liberou geral, porque todos os dias os senhores
noticiam tiros em lares, em vizinhança, em bares e restaurantes de pessoas(...)
[com] registro de CAC.”
São todas medidas bem-vindas. A facilidade
para comprar todo tipo de arma trouxe riscos maiores para a população e se
tornou um meio usado pelo crime organizado para se armar. Logo que assumiu,
Bolsonaro passou a suspender os controles. Chegou a editar mais de 40
portarias, decretos e resoluções, beneficiando os CACs. A venda de armas então
explodiu. No governo Bolsonaro, os registros de CAC triplicaram em relação ao
período de 15 anos anteriores, desde a aprovação do Estatuto do Desarmamento.
Em agosto, os 674 mil CACs detinham 1
milhão de armas, o triplo do arsenal anterior a Bolsonaro. Cada CAC pode
comprar até 60 armas, 30 delas de uso restrito como fuzis. Para não falar na
liberdade de comprar quantidades absurdas de munição. São cada vez mais comuns as
apreensões de armas de CACs desviadas para organizações criminosas.
O “revogaço” dos decretos e normas
armamentistas não pode se esgotar em si. É preciso saber o que fazer no momento
seguinte. Suspensa a concessão dos registros, é essencial seguir a sugestão de
Dino e fazer um pente-fino para recolher as armas de grosso calibre. Não se
sabe nem sequer a dimensão desse arsenal em mãos de particulares, pois, de
janeiro a julho, foram fiscalizados apenas 2,68% dos CACs, segundo o Instituto Igarapé.
Sempre haverá o risco de essas armas irem para a ilegalidade.
O culto à arma da extrema direita bolsonarista tem como inspiração os Estados Unidos, onde o direito individual à posse de arma é uma tradição arraigada desde os tempos de colônia, garantida na Constituição. É comprovada a relação entre a facilidade de acesso a armas e os massacres que volta e meia abalam os americanos, em escolas ou locais públicos. A taxa de homicídios americana é a mais elevada entre os países desenvolvidos. O Brasil não precisa piorar ainda mais a sua. A revogação de decretos e atos bolsonaristas a favor das armas é uma medida em prol da segurança pública, da paz e contra a violência.
Chance aproveitada
Folha de S. Paulo
Lula tira partido da expectativa favorável
e faz discurso bem preparado na COP27
Recebido com grande expectativa positiva, o
presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), soube aproveitar sua
passagem pela 27ª Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, no
Egito, para a tarefa de recompor a imagem e a relevância perdidas pelo Brasil
na arena ambiental.
Na quarta (16), em meio a uma agenda
repleta de encontros, Lula proferiu
um discurso bem formulado, que teve o papel tanto de um cartão de
visitas da nova gestão como de uma lista de promessas a serem cobradas no
futuro.
O presidente eleito contava com o momento e
o público perfeitos para se contrapor ao desastre bolsonarista na área
climática —e ele o fez num pronunciamento meticulosamente preparado, que
contemplou os principais nós do debate global e num tom, a uma só vez,
contundente e conciliador.
No pronunciamento, o petista buscou, em
contraste evidente com Jair Bolsonaro (PL), enfatizar a necessidade de
aprofundar o multilateralismo para lidar com um problema que, em última
instância, se afigura planetário.
Ao mesmo tempo em que frisou que o
aquecimento em curso afeta a todos, soube também reconhecer que suas consequências
recaem com maior intensidade sobre as populações mais vulneráveis.
Evitou ainda incorrer em falsos dilemas.
Defendeu que o agronegócio e a preservação ambiental devem caminhar juntos, que
aceitar a cooperação internacional não implica abdicar da soberania e que é
possível gerar riqueza explorando a biodiversidade amazônica sem que isso
termine por prejudicar nosso patrimônio natural.
No campo das promessas, Lula se comprometeu
a fazer da questão climática um eixo de seu mandato e assumiu a inglória missão
de acabar com o desmate até 2030.
Para tanto, apontou a necessidade de
fortalecer os órgãos de fiscalização esvaziados por Bolsonaro e impor novamente
a lei na Amazônia. Por fim, confirmou a criação do Ministério dos Povos
Originários, cujo papel, além do simbolismo, ainda não parece claro.
O discurso, como seria de esperar, foi bem
recebido mundo afora. Mas o país só será capaz de reassumir o
protagonismo ambicionado se Lula conseguir colocar suas palavras em prática.
Apesar do passado de realizações que o
petista tem para ostentar, não faltaram contradições e recuos em seus dois
governos, simbolizados na saída conflituosa de Marina Silva (Rede) do
Ministério do Meio Ambiente, em 2008.
Agora, reconciliado com Marina, Lula tem uma tarefa mais difícil do que há duas décadas. Precisará enfrentar no Congresso as pressões de uma bancada ruralista fortalecida, bem como um cenário de banditismo na Amazônia. A seu favor, será facílimo desenvolver políticas e obter resultados melhores que os de Bolsonaro.
Agressão recorrente
Folha de S. Paulo
Caráter contínuo da violência contra
mulheres exige ações de proteção antecipada
Uma a cada três mulheres que sofreram
violência com arma de fogo no Brasil já havia passado por agressões anteriores.
Dito de outro modo, 31% desses
casos de violência registrados pelas redes de atendimento em saúde apontam para
ciclos de abusos contínuos.
O levantamento é do Instituto Sou da Paz,
com base em informações do Sistema de Informações sobre Mortalidade e do
Sistema Nacional de Vigilância de Agravos de Notificação, ambos do Ministério
da Saúde, referentes ao período entre 2012 e 2020 —último ano com os dados
disponibilizados pelo governo federal.
O caráter reiterado é próprio do abuso
contra as mulheres no Brasil e no mundo. Para se chegar ao extremo com o uso de
arma de fogo, antes as vítimas passaram por outros tipos de violência física e
sexual, além da psicológica, moral e patrimonial —descritas na
Lei Maria da Penha, de 2006.
Os números atestam o crescimento da chamada
violência de repetição contra mulheres no país. Em 2012, 23% dos casos com
armas de fogo estavam ligados a agressões anteriores. Em 2018, a cifra passou a
26% e, em 2020, 31%.
O aspecto familiar contribui para a
repetição da violência, que ocorre longe das vistas do público: 27% das mortes
de mulheres com arma de fogo ocorreram dentro de casa (no caso de homens, são
11%).
Assim, onde mães e esposas deveriam se
sentir protegidas é justamente onde se encontram mais vulneráveis: 72% dos
casos de agressão armada associados à violência de repetição ocorreram dentro
da residência da mulher.
Quando é levado em consideração o fator
racial, nota-se que 7 em cada 10 mulheres assassinadas a tiros são negras
—sendo que 45% morrem na rua e um quarto em casa, mostrando que esse estrato é
mais vulnerável também fora do ambiente doméstico.
Para reverter esse quadro deplorável, é
preciso aplicar a lei, que já prevê medidas protetivas e apreensão da arma de
fogo do agressor.
Mas também é fundamental que a violência de repetição seja identificada com agilidade —a partir de protocolos que meçam riscos caso a caso— na rede de atendimento básico, como hospitais e postos de saúde, e que haja compartilhamento de dados com os órgãos de segurança e de assistência social.
A realidade chegou para Lula
O Estado de S. Paulo
Enfrentar desafios do País requer mais que boa intenção. Carta de economistas alerta: ignorar relação entre responsabilidade fiscal e social prejudica quem mais precisa de apoio
Em uma didática carta ao presidente eleito,
os economistas Arminio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan explicaram as razões
pelas quais Luiz Inácio Lula da Silva precisa abandonar o discurso que opõe
responsabilidade fiscal e social e que trata o mercado financeiro como inimigo
de seu governo. A carta, publicada pela Folha, traz um diagnóstico sucinto
sobre os desafios estruturais da economia e uma reflexão sobre o quanto medidas
bem-intencionadas têm o poder de agravá-los, como a Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) da Transição.
A exemplo da administração atual, a equipe
de Luiz Inácio Lula da Silva manteve a prática de criar exceções ao teto de
gastos para ampliar despesas que não cabem no Orçamento. Era algo esperado,
dado que a proposta fictícia enviada por Jair Bolsonaro ao Congresso se mostrou
incapaz de garantir recursos para o piso de R$ 600 do Auxílio Brasil, uma
promessa assumida, diga-se de passagem, por todos os candidatos. Violá-lo
novamente era algo que não surpreendia ninguém. Até as pedras sabem que o
governo Bolsonaro rompeu o teto ao menos cinco vezes, estratégia que autorizou
quase R$ 800 bilhões em gastos acima dos limites do dispositivo em quatro anos,
segundo mostrou o economista Bráulio Borges, do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/ Ibre), à BBC Brasil.
A existência e o propósito da PEC já
estavam assimilados, assim como uma licença para gastar de até R$ 100 bilhões
para recompor verbas de programas prioritários. Não são essas, portanto, as
razões que motivam críticas qualificadas à PEC da Transição, mas o fato de que
ela se propõe a extrapolar limites além do necessário e do próprio período de
transição que a batizou. Ela simplesmente retira toda a verba do Bolsa Família
do teto por tempo indeterminado e, como não indica cortes de outras despesas
nem cria novas fontes de receitas, deve ampliar o déficit para mais de R$ 260
bilhões em 2023.
O rombo, por sua vez, será financiado com
emissão de dívida pública a uma taxa de juros de 13,75% ao ano. Isso tende a retroalimentar
uma inflação já elevada e que hoje é combatida por um Banco Central com
autonomia formal para retomar os aumentos da Selic se achar necessário. Um
aperto monetário adicional derrubaria qualquer perspectiva futura de
investimentos, crescimento econômico e geração de empregos e renda – objetivos
defendidos por Lula em todos os seus discursos.
O problema não está no que a PEC traz, mas
precisamente no que ela não diz, o que conduz ao ponto fulcral e grande ausente
na proposta: não há nenhuma pista sobre qual será a nova âncora fiscal a
substituir o teto de gastos. Isso sinaliza uma trajetória ascendente para a
dívida pública no médio prazo e um futuro nebuloso para a economia brasileira,
e é isso que explica a péssima reação do mercado aos seus termos, bem como a
carta do trio de economistas que apoiaram a candidatura de Lula em nome da
democracia.
Não se imaginava que o governo eleito
tivesse, em 20 dias, uma fórmula pronta para a nova âncora fiscal. O que se
esperava eram gestos que representassem um mínimo de comedimento e algum
comprometimento com a credibilidade fiscal, o oposto do que a PEC da Transição
simboliza. Em se tratando de um país que depende de crédito e que não tem
histórico de bom devedor, é impossível fazer tudo ao mesmo tempo sem pressionar
a inflação e os juros, fatores que prejudicam, sobretudo, os mais pobres.
Mesmo desmoralizado, o teto obrigou a
sociedade a fazer escolhas e, se hoje falta dinheiro para a área social, é
porque os representantes da sociedade, equivocadamente, não lhe dão a
relevância que ela merece – afinal, muitas outras despesas contam com verbas
asseguradas, entre elas as secretas emendas de relator. Como destacam os
economistas, essa é a realidade que precisa ser encarada com transparência e
coragem por parte da equipe de transição, do Legislativo e, sobretudo, de um
presidente que diz ter como prioridade zero acabar com a fome no País. Cumprir
esse nobre objetivo social é impossível sem “a tal da responsabilidade fiscal”.
A ameaça dos navios fantasmas
O Estado de S. Paulo
Acidente com navio abandonado no Rio de Janeiro alerta para a urgência de eliminar os lixões portuários
É um problema no mundo todo, que todo mundo
tenta ignorar: nas zonas portuárias, dezenas de carcaças de embarcações
abandonadas se acumulam por anos a fio em verdadeiros cemitérios flutuantes. É
preciso que uma delas se desgarre e vague à deriva como um zumbi, ameaçando a
sociedade e a natureza, para que as autoridades despertem para as ameaças à
sociedade e à natureza oferecidas por todas as outras.
Foi o que aconteceu na segunda-feira à
noite no Rio de Janeiro, quando a âncora apodrecida de um graneleiro de 200
metros atracado havia seis anos na Baía de Guanabara cedeu aos ventos, que o
arrastaram até colidir com a Ponte Rio-Niterói. Felizmente não houve vítimas, e
a ponte não foi danificada. Beirute não teve tanta sorte. Foi a carga de um
navio abandonado – 2,7 mil toneladas de nitrato de amônia estocadas de
improviso – que explodiu em 2020, deixando 218 mortos, 7 mil feridos, 300 mil
desabrigados e US$ 15 bilhões em danos.
Navios fantasmas oferecem riscos severos
aos ecossistemas, ao tráfico marítimo e às pessoas que vivem e trabalham no
entorno. Deles podem se desgarrar destroços e vazar substâncias tóxicas nos
oceanos, enseadas e baías. Em tese, as empresas proprietárias são responsáveis
por sua remoção, mas muitas não podem ser encontradas ou foram dissolvidas. O
passivo passa a ser dos portos e dos Estados onde os barcos estão sucateados.
Para a Baía de Guanabara, não há um levantamento preciso. A Capitania dos
Portos contabilizou ao menos 78 embarcações. Em 2016, o Instituto do Ambiente
do Rio de Janeiro estimou até 200 peças de lixo náutico.
A prevenção exige mais empenho das
autoridades, encabeçadas pela Marinha, na fiscalização dos registros, seguros,
manutenção e carga dos navios aportados no País. Quando isso não acontece e os
navios são abandonados, os riscos, e os custos para minimizá-los, aumentam.
Alguns poucos desses cadáveres podem ser
convertidos em museus, outros, em recifes artificiais. A opção mais comum é o
desmantelamento e o aproveitamento de seus componentes. A convenção para a
reciclagem de navios da Organização Internacional Marítima oferece orientações
valiosas que poderiam ser aproveitadas para atualizar os regulamentos
brasileiros. Segundo ela, agindo-se oportuna e conscienciosamente, virtualmente
todas as partes dos navios – o aço dos cascos, os geradores, as baterias –
podem ser reaproveitadas.
Em 2021, o Cluster Tecnológico Naval do Rio de Janeiro criou um
grupo de trabalho intersetorial de reciclagem naval que desenvolveu três
produtos, visando a proporcionar mais segurança jurídica, técnica e financeira
a empreendedores e investidores: um Guia do Empreendedor, uma Proposta
de Anteprojeto de Lei e uma Cartilha do Conselho de Supervisão
Técnica. O grupo estima que nos próximos 10 anos o Brasil será o terceiro maior
mercado de descomissionamento offshore do mundo.
O alerta da Baía de Guanabara não pode ser
ignorado. Quanto mais o tempo passa, mais o risco aumenta. Antes que cemitérios
fantasmagóricos, as baías portuárias estão se tornando bombas-relógio. Beirute
que o diga.
O mapa econômico depois da pandemia
O Estado de S. Paulo
Novo estudo do IBGE mostra que o peso de SP na economia brasileira continua a diminuir, enquanto Estados com forte produção agropecuária apresentam resultados melhores
A pandemia mudou a classificação dos Estados
brasileiros. Ruim para todos, a pandemia afetou de maneira diferente a economia
de cada um deles, acentuou algumas tendências, modificou outras e alterou o
peso de várias Unidades da Federação na composição da economia brasileira. O
novo Brasil que vinha se desenhando desde o início do século foi, como o resto
do mundo, duramente afetado pela covid-19. Em 2020, o PIB brasileiro diminuiu 3,3%, de acordo com novo estudo do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Das 27
Unidades da Federação, 24 registraram queda de seu produto. Apenas 2 Estados,
Mato Grosso do Sul e Roraima, cresceram e 1, Mato Grosso, não cresceu nem
encolheu.
Mas, entre os que viram sua economia
encolher, uns sentiram mais os efeitos das medidas necessárias para conter o
avanço da pandemia. A economia do Estado de São Paulo, por exemplo, diminuiu
3,5%, mais do que a média nacional. Por isso, o peso da economia paulista no
PIB brasileiro, que vem diminuindo há anos, encolheu mais. São Paulo continua a
ser, por grande margem, a maior Unidade da Federação em termos de produção, mas
sua participação, que era de 34,9% do PIB nacional em 2002, ficou em 31,2% em
2020 (em 2019, tinha sido de 31,8%).
A explicação para isso está no efeito da
pandemia sobre os três grandes grupos de atividades econômicas aferidos pelo
IBGE. Entre 2019 e 2020, a produção da indústria brasileira diminuiu 3,0% e o
volume do setor de serviços ficou 3,7% menor. A agropecuária, de sua parte,
teve crescimento de 4,2%.
Dos serviços, segundo o IBGE, o de
alojamento e alimentação teve redução de 27,0% em 2020 na comparação com o ano
anterior. Os serviços domésticos, de sua parte, diminuíram 23,3%. Estes são alguns
dos efeitos mais notáveis das restrições à circulação de pessoas para conter a
disseminação da covid-19. O setor de serviços é o de maior peso na economia
brasileira, com participação de 70,9% no PIB em 2020 (tinha sido de 73,3% no
ano anterior). Em São Paulo, essa participação é ainda maior, de 77%, daí o
Estado ter sido mais duramente afetado pelo desempenho desse setor.
O fato de a agropecuária ter crescido em
ritmo apreciável em 2020, em razão do aumento da produção, sobretudo, de soja,
milho e café, além da pecuária, beneficiou Estados do Centro-Oeste. O
crescimento do PIB estadual de Mato Grosso Sul é o exemplo mais claro desse
efeito. Já no Rio Grande do Sul, onde a agropecuária tem grande peso, a
produção foi afetada pela seca.
Como ocorre com o PIB do Estado de São
Paulo, a produção somada de Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande
do Sul também vem perdendo participação no PIB brasileiro. Por isso, o peso das
demais 22 Unidades da Federação vem crescendo, e em 2020 chegou a 37,3% do PIB
nacional, ante 36% em 2019 e 31,9% em 2002. É uma indicação de um país menos
desigual do ponto de vista da produção.
É notável o desempenho de Mato Grosso neste
século. Entre 2002 e 2020, o PIB estadual cresceu 130,4%, o que fez sua
participação no PIB nacional passar de 1,3% para 2,3%. O PIB de São Paulo
aumentou 39,0% nesse período. Entre 2019 e 2020, Mato Grosso passou da 13.ª
para a 12.ª posição entre as maiores economias estaduais, superando o Ceará.
Quanto ao PIB por habitante, o estudo do
IBGE mostra uma notável diferença entre os Estados. Os mais bem classificados
são os das Regiões Sudeste e Centro-Oeste. O Distrito Federal é a Unidade da
Federação com o maior PIB per capita do País (R$ 87.016,26), bem maior do que a
média nacional (R$ 33.935,76). Em seguida vêm São Paulo (R$ 51.364,73) e Mato
Grosso (R$ 50.663,19). Concentração de funcionários públicos, com renda média
superior à da população, desenvolvimento econômico acentuado e forte produção
agropecuária explicam cada um desses resultados.
No outro extremo, está o Maranhão, com PIB
per capita de R$ 15.027,69 em 2020. Corresponde a apenas 17,3% do resultado do
Distrito Federal. Esse número parece sintetizar as disparidades regionais,
sociais e econômicas do País.
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