Dizem que, aqui nos trópicos, temos memória
curta. Daqui a pouco, o processo eleitoral de 2022 será coisa do passado e esqueceremos
o aprendizado.
Vamos falar um pouco sobre nosso sistema
eleitoral.
Comecemos pelas vitórias consolidadas.
O primeiro grande acerto foi a introdução do processo de votação em dois turnos. O segundo turno permite um ajuste na escolha da população, dando ao governo eleito maior legitimidade a partir da obtenção do apoio da maioria absoluta dos eleitores. É o melhor antidoto contra os questionamentos vividos por Getúlio Vargas e JK.
O segundo avanço é o incontestável e seguro
sistema eletrônico de votação e apuração. Foi introduzido no Brasil um sistema
eficaz, com resultados rápidos e imune a fraudes.
A terceira mudança positiva, mais recente,
foi a introdução do fim das coligações e da cláusula de desempenho partidário.
A experiência demonstra que as novas regras ajudam a fortalecer, dar maior
nitidez e diminuir a pulverização da representação parlamentar, contribuindo
para que o relacionamento entre Executivo e Legislativo se dê com maior
funcionalidade e transparência.
Dito isto, aponto um primeiro aspecto que
merece ser repensado: a coincidência entre eleições nacionais e estaduais. A
polarização nacional tende a sugar todas as energias e impedir uma avaliação
mais profunda da realidade concreta e das particularidades do quadro político em
cada unidade da federação.
Mas o problema central é o sistema
eleitoral para a eleição dos deputados, sua relativa desconexão com a
majoritária e o voto nominal proporcional sem qualquer tipo de regionalização
do voto. O eleitor não consegue comparar e avaliar os candidatos, não
compreende o cálculo que leva à ocupação das vagas e não estabelece vínculos
permanentes com o seu candidato. Por isso, recorrentemente, 70% dos brasileiros,
um ano após as eleições, não sabe citar sequer o nome do candidato em quem
votou. Minas Gerais, por exemplo, teve 1.094 candidatos a deputado federal
disputando votos num território do tamanho da França ou da Espanha. Como o
eleitor pode fazer uma escolha de qualidade? Por que ele não esquece o nome dos
candidatos à presidente, governador ou prefeito e rapidamente esquece o do seu
deputado? Como comparar e escolher entre milhares de candidatos que ele sequer
conhece?
Cabe lembrar que as democracias maduras utilizam o voto distrital ou a lista partidária. A Alemanha, no pós guerra, criou o sistema misto, que combina qualidades e atenua defeitos dos dois modelos clássicos. Nenhum sistema de representação é perfeito. Mas o nosso é certamente um dos piores do mundo. Por consequência, temos um sistema caríssimo, que não estabelece laços sólidos entre representantes e representados, dificulta a configuração de maioria e minoria e enfraquece os partidos, já que a competição é transferida para dentro dos partidos, minando a solidariedade partidária, o que não ocorre no distrital ou na lista. Isto merece uma reflexão profunda, embora, por experiência pessoal, saiba que a maioria não quer mudar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário