Valor Econômico
Copom vem chamando atenção, ao longo deste
ano, sobre o risco de alavancagem do BNDES no crédito direcionado, tal como no
segundo mandato de Lula
Segundo o Relatório Trimestral de Inflação divulgado ontem pelo Banco Central, a projeção de crescimento modesto do estoque de crédito para o ano que vem passou de 8,5% para 8,8%, comparado ao aumento de cerca de 6,8% este ano. Os prognósticos são de uma inflexão na tendência de desaceleração do crédito livre para pessoas físicas, que deve crescer mais de 7% no próximo ano, taxa que é, porém, bastante inferior ao aumento do crédito para as pessoas físicas nos anos de 2021 e 2022, quando houve um acréscimo de 23% e de 17,5%, respectivamente.
Já a aceleração do crédito livre para as
empresas tende a ser bem expressiva, de 7%, se comparada à performance deste
ano, quando o crescimento deverá se situar em algo em torno de 1,5%. Também
ficará substancialmente abaixo do desempenho dos anos de 2021 e 2022, quando as
taxas de acréscimo foram de cerca de 17% e de 11,9%. Mas o crescimento do ano
que vem estará refletindo a flexibilização da política monetária, com redução
da taxa básica de juros (Selic) e a dissipação dos impactos de eventos que envolveram
nomes conhecidos de empresas, como o das Americanas e da Light.
É importante que se diga, porém, que as
captações feitas pelas empresas no mercado de capitais voltaram a crescer.
Depois de passado o período de maior incerteza associado a pedidos de
recuperação judicial feitos por empresas de grande porte no início do ano, o
volume de financiamento captado pelas companhias no mercado de capitais
doméstico voltou a crescer no último trimestre. Os recursos captados em
debêntures e notas promissórias atingiram R$ 87 bilhões no trimestre encerrado
em outubro, com acréscimo de 70% ante o volume captado entre maio e julho
(variação da série corrigida pelo IPCA com ajuste sazonal).
Para o próximo exercício, projeta-se que o
crédito direcionado cresça a taxas equivalentes às deste ano, tanto para as
pessoas físicas quanto para as jurídicas. Ou seja, entre 9% e 10%,
respectivamente, para as empresas e para as pessoas físicas. Assim como no
relatório de inflação anterior, divulgado em setembro, a perspectiva de
aceleração nominal do crédito e de queda da inflação sugerem crescimento real
mais vigoroso do saldo de crédito no próximo ano do que em 2023.
Para 2023, a revisão do comportamento do
mercado de crédito aponta um recuo de 7,3% para 6,8% do saldo do estoque de
crédito. Houve recuo, também, na projeção de crescimento do segmento livre para
pessoas físicas, de 9,0% para 7,5%, enquanto foi mantida em 1,5% a estimativa
de aumento do crédito livre para as pessoas jurídicas.
No segmento do crédito direcionado, o
acréscimo do saldo para as pessoas físicas foi ajustado de 11% para 10%, em uma
desaceleração do financiamento para a aquisição de imóveis. Já o setor rural
foi responsável pelo aumento de 7% para 9% do crédito para o plantio da nova
safra.
Na ata da mais recente reunião do Comitê de
Política Monetária (Copom), divulgada nesta semana, o comitê reiterou a visão
de que “o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal,
o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da
dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia,
com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e,
consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”.
Trata-se de um alerta que o Copom vem
fazendo, ao longo deste ano, quanto ao risco de uma alavancagem do BNDES no
crédito direcionado, tal como aconteceu no segundo mandato de Luiz Inácio Lula
da Silva (2007-2010), quando o banco de desenvolvimento resolveu fazer política
industrial de escolha dos campeões nacionais, dando crédito farto a juros
subsidiados. Principalmente agora que o BNDES ostenta excelentes indicadores de
Basileia, deixados pela gestão passada.
O banco também está com o caixa recheado,
depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) o autorizou a devolver em oito
parcelas, até 2030, os cerca de R$ 23 bilhões que deveria pagar para o Tesouro
Nacional, no dia 30 de novembro último, relativos a empréstimo que a União fez
ao BNDES no valor de R$ 441 bilhões, entre 2008 e 2014, para que a instituição
aumentasse a sua carteira de empréstimos em TJLP (juros subsidiados), hoje
substituída pela TLP (Taxa de Longo Prazo).
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