O Estado de S. Paulo
Do ‘São Paulo na Direção Certa’ pode ser entendido que, nas circunstâncias atuais, na direção errada estaria o governo federal
Conforme este jornal noticiou no dia 23 do mês passado, o governador paulista, Tarcísio de Freitas, anunciou que adotará neste ano um plano intitulado “São Paulo na Direção Certa”. Segundo a reportagem, plano esse com “uma série de medidas com o objetivo de cortar despesas na máquina pública, melhorar o ambiente de negócios em São Paulo e aumentar os investimentos. Uma das ações com maior potencial é a revisão de benefícios fiscais concedidos a empresas, que, segundo o governador, pode aumentar a arrecadação em R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões por ano”.
E mais: “As secretarias terão até 90 dias
para elaborar propostas e formatar um pacote que abrange gastos com pessoal,
renegociação da dívida com a União, extinção de órgãos públicos e economia com
passagens aéreas e aluguéis de carros, entre outras diretrizes”. Segundo o
governador, “é fôlego para investir em política pública, ferrovia, metrô,
hospital, educação, revisão da nossa infraestrutura, para a gente encarar mais
parceria público-privada”. Revela, assim, uma preocupação com a necessidade de
recuperar o investimento público, o que repetidas vezes tenho defendido neste
espaço, pois esse investimento, como proporção do Produto Interno Bruto (PIB),
caiu muito nas últimas quatro décadas, o que foi um ingrediente importante do
bem menor crescimento da economia nesse período, após um período de forte
crescimento nos anos 1960-1970.
No dia seguinte a esse anúncio de Tarcísio, o
jornal Valor Econômico publicou matéria de meia página com o título Reforma
paulista pressiona governo federal, para que este entre também na pauta de
enxugamento do setor público. Não sei se essa pressão foi um objetivo do plano,
mas de seu título pode ser entendido que, nas circunstâncias atuais, na direção
errada estaria o governo federal.
Quanto ao corte de gastos, a matéria deste
jornal também informa que ficará sob responsabilidade da Secretaria da Fazenda.
O secretário, numa entrevista à Coluna do Estadão no dia 25/5/2024, mostrou-se
bem sintonizado com o plano do governador, afirmando que “embora este ano traga
números positivos da atividade econômica, superando expectativas, o biênio de
2025 e 2026 – últimos dois do mandato de Tarcísio – reserva desafios que exigem
um Estado hígido do ponto de vista fiscal”. E acrescentou:
“(Por) um cenário de juros (...) elevados
para o padrão dos últimos 20 anos, riscos geopolíticos, alguma quebra da cadeia
de suprimentos... São Paulo precisa ficar robusto. A higidez fiscal é
absolutamente primordial nesse cenário internacional e nacional, que traz mais
incertezas que no passado recente”.
Pelo que foi dito até aqui parece-me que de
fato o plano proposto está na direção correta. Mas há um longo e penoso caminho
à frente, o de dar forma ao plano, definindo suas medidas com metas
quantificadas, prazos definidos, e executá-las eficazmente, o que muitas vezes
falha no setor público em face de dificuldades de gestão.
Vale lembrar também que Tarcísio é um
candidato potencial à Presidência em 2026, embora negue interesse pela disputa.
Mas se Jair Bolsonaro permanecer inelegível aumentará muito a pressão para que
ele mude de ideia. Pertenço a um grupo que, totalmente insatisfeito com
Bolsonaro, apoiou Lula da Silva na última eleição presidencial acreditando que
ele governaria em sintonia também com esse apoio mais ao centro. Mas ele
decepcionou quanto a esse aspecto, pois com seu partido revelam-se dominados
pelo velho ideário lulopetista, totalmente inadequado às dificuldades do
Executivo federal, em particular na área fiscal. Hoje acredito que esse grupo,
numa disputa entre Lula e Tarcísio, penderia mais para o segundo.
Vendo o quadro à frente, creio que haverá
como que uma competição política entre os planos de Tarcísio e Lula na área
fiscal. Depois das dificuldades no Congresso das propostas de aumento da
arrecadação pelo Executivo, e das críticas permanentes diante de sua
resistência em controlar gastos, Fernando Haddad, a ministra Simone Tebet,
membros da equipe econômica e outros ministros se reuniram na última
segunda-feira com o presidente Lula para discutir essa questão dos gastos. Mas
da reunião não veio nenhuma decisão sobre o assunto, e Lula pediu mais
informações sobre alguns itens abordados e a revisão de gastos, indicando que
haverá outros encontros sobre o assunto.
Também veio a informação de que Lula ficou
muito impressionado com o nível de subsídios fiscais que implicam em perda de
receita tributária para a União. Ou seja, permanece o foco na receita. Isso
sugere que poderá vir uma nova proposta de redução desses subsídios, mas ela
dependeria do Congresso, que já demonstrou não estar a fim de seguir nessa
linha, além de sofrer também as pressões dos setores hoje beneficiados.
Será interessante comparar os esforços de
Lula e de Tarcísio no enfrentamento da questão fiscal também via despesas, e
voltaremos a este espaço para tratar do assunto.
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