O Estado de S. Paulo
Esta foi a primeira vez que o resultado da
reunião do Copom foi recebido em confronto direto com o feroz ataque do
presidente da República ao presidente do Banco Central (BC) e aos “juros altos
demais”.
Tão importante quanto a decisão desta quarta-feira, de manter os juros básicos (Selic) nos 10,5% ao ano, foi a unanimidade da decisão, o que inclui os quatro diretores conduzidos ao BC pelo presidente Lula, que lá estariam supostamente para quebrar a ortodoxia com que vem sendo executada a política de juros.
O recado implícito do Copom é o de que a
decisão foi técnica, que dá mais importância à necessidade de garantir a
credibilidade no BC e nas suas principais funções do que a aceitação das
pressões de cunho populista do governo e dos políticos.
A confiança no BC na tarefa de ancorar as
expectativas havia sido questionada a partir do racha manifestado na reunião de
maio, quando os mesmos quatro dirigentes que agora acompanharam os votos dos
outros cinco diretores votaram por um corte de 0,5 ponto porcentual e não pelo
de 0,25 ponto, como ficara decidido. O placar de 5 a 4 levantara a suspeita de
que o governo Lula começava a solapar a autonomia do BC.
De lá para cá, as expectativas dos que impõem
preços nas mercadorias e serviços – e não apenas as do mercado financeiro – se
deterioram principalmente porque o governo Lula vem permitindo o alargamento do
rombo das contas públicas.
O maior foco das incertezas que recaem sobre
a política econômica não está nas condições externas, mas nas internas. O
governo Lula parece não dar importância ao exercício da responsabilidade
fiscal. Esses problemas foram, como de hábito, tratados no comunicado divulgado
após a reunião do Copom.
O déficit das contas públicas é relevante
para a definição dos juros porque o governo trabalha contra o BC. Quando
aumenta o preço do dinheiro (eleva os juros) para combater a inflação, o BC
retira moeda da economia. Se aumenta a gastança, o governo faz o contrário:
injeta moeda e contribui para aumentar a inflação e a dívida.
Essa é a principal razão pela qual aumentou a
incerteza. Os agentes econômicos passaram a procurar refúgio em moedas
estrangeiras. Essa é a razão da cavalgada do dólar em reais. Havia fechado nos
R$ 5,09 por dólar na reunião do Copom do dia 8 de maio e avançou para R$ 5,44
nesta quarta-feira. Essa alta do câmbio, de 6,9%, se tornou foco de inflação na
medida em que encarece os preços dos produtos importados e dos produtos
internos cotados em moeda estrangeira, como os combustíveis e grande parte dos
alimentos.
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