quinta-feira, 20 de junho de 2024

Celso Ming - Pressões de Lula não dobram o Copom

O Estado de S. Paulo

Esta foi a primeira vez que o resultado da reunião do Copom foi recebido em confronto direto com o feroz ataque do presidente da República ao presidente do Banco Central (BC) e aos “juros altos demais”.

Tão importante quanto a decisão desta quarta-feira, de manter os juros básicos (Selic) nos 10,5% ao ano, foi a unanimidade da decisão, o que inclui os quatro diretores conduzidos ao BC pelo presidente Lula, que lá estariam supostamente para quebrar a ortodoxia com que vem sendo executada a política de juros.

O recado implícito do Copom é o de que a decisão foi técnica, que dá mais importância à necessidade de garantir a credibilidade no BC e nas suas principais funções do que a aceitação das pressões de cunho populista do governo e dos políticos.

A confiança no BC na tarefa de ancorar as expectativas havia sido questionada a partir do racha manifestado na reunião de maio, quando os mesmos quatro dirigentes que agora acompanharam os votos dos outros cinco diretores votaram por um corte de 0,5 ponto porcentual e não pelo de 0,25 ponto, como ficara decidido. O placar de 5 a 4 levantara a suspeita de que o governo Lula começava a solapar a autonomia do BC.

De lá para cá, as expectativas dos que impõem preços nas mercadorias e serviços – e não apenas as do mercado financeiro – se deterioram principalmente porque o governo Lula vem permitindo o alargamento do rombo das contas públicas.

O maior foco das incertezas que recaem sobre a política econômica não está nas condições externas, mas nas internas. O governo Lula parece não dar importância ao exercício da responsabilidade fiscal. Esses problemas foram, como de hábito, tratados no comunicado divulgado após a reunião do Copom.

O déficit das contas públicas é relevante para a definição dos juros porque o governo trabalha contra o BC. Quando aumenta o preço do dinheiro (eleva os juros) para combater a inflação, o BC retira moeda da economia. Se aumenta a gastança, o governo faz o contrário: injeta moeda e contribui para aumentar a inflação e a dívida.

Essa é a principal razão pela qual aumentou a incerteza. Os agentes econômicos passaram a procurar refúgio em moedas estrangeiras. Essa é a razão da cavalgada do dólar em reais. Havia fechado nos R$ 5,09 por dólar na reunião do Copom do dia 8 de maio e avançou para R$ 5,44 nesta quarta-feira. Essa alta do câmbio, de 6,9%, se tornou foco de inflação na medida em que encarece os preços dos produtos importados e dos produtos internos cotados em moeda estrangeira, como os combustíveis e grande parte dos alimentos.

 

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