O Globo
Em entrevista à Rádio Clube do Pará, Lula
esboçou uma tese sobre os governos e a opinião pública. “No primeiro ano,
ninguém cobra, porque o pessoal sabe que você não teve tempo de fazer nada”,
disse. “No segundo ano, o povo já começa a ter uma expectativa”, prosseguiu. “O
terceiro ano é o melhor”, arrematou.
O presidente falou na manhã de sexta-feira. À tarde, foi atropelado pelo Datafolha. O instituto mostrou que sua popularidade desabou justamente no início do terceiro ano de governo. A fatia de eleitores que consideram a gestão boa ou ótima recuou para 24% — menor índice já registrado em seus três mandatos.
A pesquisa agravou o clima de desânimo no
governo. Um ministro petista descreve a situação como “horrível”. Outro cardeal
do partido define os números como “assustadores”. A queda da aprovação deve
dificultar a vida de Lula e lançar novas dúvidas sobre o projeto da reeleição.
O presidente martelou a ideia de que 2025
seria o “ano da colheita”. Às vésperas do carnaval, não conseguiu concretizar
nem as prometidas mudanças na Esplanada. O assunto gera excitação em Brasília,
mas não deve mexer no ponteiro das pesquisas. E ainda arrisca piorar o governo,
a depender do tamanho da mordida do Centrão.
As razões da queda na popularidade passam
longe das intrigas de gabinete. A mais inconteste é a alta no preço dos
alimentos, que corroeu a renda dos mais pobres e frustrou a promessa de carne
barata. O presidente não se ajudou ao dizer que os consumidores deveriam evitar
produtos caros. Quem vai ao mercado já faz o que pode para se defender da
inflação.
A crise do Pix também abalou a confiança no
governo. A extrema direita emplacou a mentira de que as transações seriam
tributadas, e o Planalto não soube defender a portaria editada pela Receita.
Por fim, o recuo foi lido como uma confissão de culpa. Se a medida era justa,
por que revogá-la?
A pesquisa trouxe outra notícia preocupante
para Lula. O tombo foi maior na base da pirâmide social, onde se concentram
seus eleitores mais fiéis. É ilusão pensar que a crise será resolvida na
fábrica de soluções mágicas, que aposta em truques de propaganda para convencer
a população de que o governo seria melhor do que parece.
No fim de janeiro, o presidente deixou
escapar um diagnóstico mais realista: “O povo tem razão, a gente não tá
entregando aquilo que prometeu. Então como o povo vai falar bem do governo se a
gente não tá entregando?”.
Ele não usa black tie
Lula embarca em março para Tóquio. Será
recebido em visita de Estado, horaria que o Japão só concede a um país por ano.
O presidente poderia ter sido recepcionado
com pompa em 2008, mas o convite esbarrou num impasse inusitado. Ele não
aceitou vestir black tie, como exigia o protocolo do imperador Akihito.
Na época, o governo japonês ouviu que Lula
representava a classe trabalhadora e se recusava a usar smoking. A saída foi
rebaixar a viagem ao status de visita oficial, sem o mesmo peso diplomático.
Ao assumir o trono que pertenceu ao pai, o
imperador Naruhito flexibilizou o código de vestimenta da corte. Graças à
mudança, o presidente poderá ir ao banquete de terno e gravata.
Terra estrangeira
O Itamaraty precisará ter cuidado ao
organizar a agenda de Lula no Japão. Antes de tomar posse, ele já estava em
baixa com a comunidade brasileira no país. No segundo turno de 2022, Jair
Bolsonaro recebeu 83,6% dos votos dos decasséguis. O petista teve míseros
16,4%.
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