O Globo
O grave é que a extrema direita obteve votação histórica na Alemanha. A tendência para o centro é crucial para frear esse avanço
A vitória da centro-direita na Alemanha é um ponto importante na onda conservadora que vai dominando os principais países do mundo. A centro-direita está tomando conta da política europeia. Há uma convergência de pensamento e objetivos com Donald Trump nos Estados Unidos que isola a esquerda, mesmo a não radical. A direita ganhou a Europa quase inteira. É um dos resultados mais acachapantes desde a fundação da União Europeia: Grécia — Nova Democracia (centro-direita); Bulgária — GERB (direita); Hungria — Fidesz (direita); Finlândia — KOK (direita); França — RN (direita); Áustria — FPO (direita); Alemanha — CDU (centro-direita). Anteriormente, já ganhara na Polônia, na Hungria e na Itália.
Venceu noutros países, como Nova Zelândia, e
na América do Sul, no Uruguai, no Paraguai, no Equador e na Argentina. A
social-democracia, que já teve momentos de domínio em toda a Europa, hoje está
em decadência. Centro-direita e direita são responsáveis pela nova visão
geopolítica do mundo.
O grave é que a extrema direita obteve
votação histórica na Alemanha. A tendência para o centro é crucial para frear
esse avanço. Principalmente se o governo eleito não precisar fazer coligação
com a extrema direita, isolando-a num nicho eleitoral. A União Democrata-Cristã
(CDU) terá de formar um governo mais amplo, que impeça o radicalismo de chegar
realmente ao poder. Do jeito como vai, a extrema direita prosseguirá com
vitórias eleitorais.
Com a ascensão da direita, o Ocidente está em
modo de sobrevivência e a Pax Americana, em dissolução, analisa um conhecedor
da cena internacional. As democracias parecem estar em busca de lideranças fora
do establishment da esquerda hegemônica. Isso pode ser definido como uma onda
conservadora contra o establishment social-democrata, que prevalecia tanto na
Europa quanto na América Latina. Os liberais-democratas e sociais-democratas
deveriam ter adensado o centro, evitando a polarização contra socialistas. A
geopolítica parece guiar a sociedade. Não é mais a política econômica, mas a
economia política que prevalece.
A vitória do candidato de ultradireita na
Argentina, Javier Milei, trouxe à tona a onda direitista que chega não apenas
na América do Sul, mas no mundo. Esse estado de espírito, que ameaça superar a
“onda vermelha”, ou pelo menos “cor de rosa”, que parecia ter se iniciado com a
vitória de Lula há dois anos, poderá influenciar os movimentos no Brasil —
apesar das inúmeras denúncias de que o ex-presidente Bolsonaro é o cabeça dos
movimentos golpistas do 8 de Janeiro, segundo a Procuradoria-Geral da República.
Na Alemanha, o avanço do Alternativa para a
Alemanha (AfD) na antiga Alemanha Oriental vai se ampliando pelo país, e o
partido de ultradireita ficou em segundo lugar, superando o Partido
Social-Democrata (SPD), do atual chanceler Olaf Scholz, com a CDU mantendo o
primeiro. Na Espanha, a direita venceu as recentes eleições, embora o PP não
tenha obtido maioria para formar um novo governo, mesmo se unindo ao Vox, que
se declara herdeiro do ditador Francisco Franco e dos Cavaleiros Templários da
Idade Média. Na Finlândia, a extrema direita passou a integrar o governo e, na
Suécia, dá apoio decisivo ao novo governo conservador. Na Grécia, os
conservadores conseguiram expressiva vitória, com três partidos de extrema
direita entrando no Parlamento Nacional.
A principal exceção à onda direitista é a
Inglaterra, onde o Partido Trabalhista voltou ao poder. A base desse movimento
parece ser o aparente declínio econômico do Ocidente, embora a China dê sinais
de esgotamento de seu modelo. Com a exaustão com o establishment, e os
prejudicados pela decadência econômica em busca de uma saída, a disputa volta a
ser entre uma base de precarizados e a elite. Forma-se um ambiente político
propício ao populismo de direita, caso os atuais governantes de esquerda não
mostrem resultados. O espírito do tempo parece ser conservador.
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