terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

O mistério da morte de JK - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Tema de três livros de Carlos Heitor Cony, nova investigação busca um fato novo

Carlos Heitor Cony tinha uma caraminhola, uma ideia recorrente, uma quase obsessão na cabeça: a de que Juscelino KubitschekJoão Goulart e Carlos Lacerda, pela capacidade de aglutinar as forças de oposição, foram assinados durante a ditadura militar. "Somente um fato novo poderá descerrar o mistério", afirmava Cony, que abordou o tema em três livros: "Memorial do Exílio" (reeditado como "JK e a Ditadura"), "O Beijo da Morte" e "Operação Condor", os dois últimos com a jornalista Ana Lee.

É um fato novo que busca a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos —órgão que tem apoio técnico do Ministério dos Direitos Humanos do governo Lula— com a decisão de ouvir os familiares do ex-presidente Juscelino e do motorista Geraldo Ribeiro antes de reabrir as apurações sobre o acidente de 1976 que matou os dois no km 165 da Via Dutra. Passados quase 50 anos, desvendar a charada da morte acidental ou provocada é uma tarefa difícil, mas não impossível.

JK nunca deixou de ser uma pedra no coturno dos generais. Na letra fria, o Opala preto em que ele estava se desgovernou, atravessou o canteiro central, invadiu a pista oposta e bateu de frente com uma carreta.

Pouco antes da colisão, Cony esteve com Juscelino num hotel e contou ter ouvido do guardador do estacionamento que Geraldo estranhou o carro e perguntou se alguém havia mexido nele. Treze dias antes tinha circulado o boato da morte do ex-presidente.

A suspeita do atentado calou fundo em Cony. Sem conseguir uma confirmação, o escritor optou por romancear os acontecimentos históricos, narrando a trajetória do personagem-repórter que, em busca de depoimentos, documentos e sobretudo das circunstâncias da batida, mergulha numa espiral de impressões, hipóteses e dúvidas e na composição de indícios. Exatamente no ponto em que estamos hoje.

Nas redes há gente torcendo pelo fracasso da investigação, como torcem para que o filme "Ainda Estou Aqui" e Fernanda Torres fracassem na disputa do Oscar. Todos têm um bonezinho Maga na cabeça.

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