Folha de S. Paulo
Tema de três livros de
Carlos Heitor Cony, nova investigação busca um fato novo
Carlos Heitor Cony tinha uma caraminhola, uma ideia recorrente, uma quase obsessão na cabeça: a de que Juscelino Kubitschek, João Goulart e Carlos Lacerda, pela capacidade de aglutinar as forças de oposição, foram assinados durante a ditadura militar. "Somente um fato novo poderá descerrar o mistério", afirmava Cony, que abordou o tema em três livros: "Memorial do Exílio" (reeditado como "JK e a Ditadura"), "O Beijo da Morte" e "Operação Condor", os dois últimos com a jornalista Ana Lee.
É um fato novo que busca a
Comissão sobre Mortos e Desaparecidos —órgão que tem apoio técnico do
Ministério dos Direitos Humanos do governo Lula— com a decisão de ouvir os
familiares do ex-presidente Juscelino e do motorista Geraldo Ribeiro antes de
reabrir as apurações sobre o acidente de 1976 que matou os dois no km 165 da
Via Dutra. Passados quase 50 anos, desvendar a charada da morte acidental ou
provocada é uma tarefa difícil, mas não impossível.
JK nunca deixou de ser uma
pedra no coturno dos generais. Na letra fria, o Opala preto em que ele estava
se desgovernou, atravessou o canteiro central, invadiu a pista oposta e bateu
de frente com uma carreta.
Pouco antes da colisão, Cony
esteve com Juscelino num hotel e contou ter ouvido do guardador do
estacionamento que Geraldo estranhou o carro e perguntou se alguém havia mexido
nele. Treze dias antes tinha circulado o boato da morte do ex-presidente.
A suspeita do atentado calou
fundo em Cony. Sem conseguir uma confirmação, o escritor optou por romancear os
acontecimentos históricos, narrando a trajetória do personagem-repórter que, em
busca de depoimentos, documentos e sobretudo das circunstâncias da batida,
mergulha numa espiral de impressões, hipóteses e dúvidas e na composição de
indícios. Exatamente no ponto em que estamos hoje.
Nas redes há gente torcendo
pelo fracasso da investigação, como torcem para que o filme "Ainda
Estou Aqui" e Fernanda
Torres fracassem na disputa do Oscar. Todos têm
um bonezinho Maga na cabeça.
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