sexta-feira, 8 de junho de 2018

Eleições: Em compasso de espera

Principais presidenciáveis não conseguem definir vices a 40 dias do início das convenções

Fernanda Krakovics, Maria Lima, Catarina Alencastro e Silvia Amorim | O Globo

-RIO, BRASÍLIA E SÃO PAULO- As eleições deste ano já estão marcadas pelo atraso na definição das chapas dos principais postulantes ao Palácio do Planalto. Diferentemente de outras disputas presidenciais, nenhum dos nomes mais fortes decidiu a indicação do vice ou mesmo o quadro de alianças. A cerca de 40 dias do início das convenções partidárias, o PSL, de Jair Bolsonaro; a Rede, de Marina Silva; o PDT, de Ciro Gomes; e o PSDB, de Geraldo Alckmin, tentam acelerar a formação de seus blocos para reverter esse quadro.

Nas últimas eleições presidenciais, as articulações estavam mais avançadas a esta altura do calendário. Marina havia anunciado que seria vice de Eduardo Campos (PSB) no dia 14 de abril, mas a chapa PSB/Rede já estava formada meses antes. Nas eleições de 2010, o MDB fez um acordo para apoiar Dilma Rousseff (PT) em outubro do ano anterior. Na ocasião, ficou acertado que o partido teria a vice. Já o tucano Aloysio Nunes Ferreira era cotado, pelo menos desde maio de 2014, para vice de Aécio Neves. E foi o que aconteceu nas urnas.

Apesar de liderar as pesquisas, Bolsonaro ainda está sem vice. O sonho já declarado do précandidato do PSL é ter o senador Magno Malta (PR-ES), mas a possibilidade é considerada pequena por aliados do deputado. O partido do senador é comandado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão, que tem negociado com diversos presidenciáveis. Ontem, ao GLOBO, Bolsonaro confirmou que achar difícil Malta estar na sua chapa.

Outra alternativa citada por aliados de Bolsoà naro é o general Augusto Heleno, que foi o primeiro comandante das tropas brasileiras no Haiti. Ele se filiou ao nanico PRP no Distrito Federal, atendendo a apelos de aliados do pré-candidato do PSL. O general é cotado também para disputar uma vaga no Senado no DF.

A BUSCA DE CIRO POR UM EMPRESÁRIO
Ciro já disse publicamente que gostaria de ter como vice um empresário. Nesse sentido, também foi considerado o nome do presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, recém-filiado ao PP. Ele se licenciou ontem do cargo de vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o que aumentou as especulações sobre sua entrada nas eleições. O PDT de Ciro também já sondou o presidente da Coteminas, Josué Alencar, do PR. Filho do ex-vice-presidente de Lula, José Alencar, ele também foi cortejado pelo próprio Lula e teve o passe elevado, passando a figurar até como possível cabeça de chapa do bloco formado recentemente por partidos de centro-direita.

Além disso, depois do fechamento da aliança entre PSB e PDT de Minas Gerais em torno da candidatura de Márcio Lacerda para o governo do estado, voltou a circular internamente a possibilidade de o ex-prefeito de Belo Horizonte abandonar a disputa local e aderir à chapa presidencial ao lado de Ciro Gomes. A relação entre Lacerda e Ciro é antiga. Quando comandou o Ministério da Integração, em 2003, o presidenciável convidou o mineiro para ser seu secretário-executivo.

A campanha de Ciro considera o apoio formal do PSB como peça estratégica. Além de dar musculatura à candidatura do presidenciável do PDT, com mais tempo de TV, a aliança é tida como puxadora de novos apoios, como o do PCdoB.

No caso de Marina, por ora, não há nome no radar, e as sondagens para escolha do vice da pré-candidata da Rede estão suspensas. O dilema da ex-ministra, que tem um recall de 20 milhões de votos da eleição de 2014, está diretamente ligado às dificuldades que ela vem encontrando para atrair um partido bem estruturado do seu campo político, que possa fortalecer sua candidatura. Lideranças da Rede dizem que ela ainda não desistiu de uma recomposição com PSB, que poderia lhe indicar um nome competitivo. Além de sequelas que ficaram da passagem de Marina pelo PSB em 2014, a última conversa que ela teve com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, aconteceu apenas três dias depois de a Rede romper com dois governadores do partido: Rodrigo Rollemberg, no Distrito Federal; e Paulo Câmara, de Pernambuco. Isso congelou as negociações.

— As conversas cessaram há meses. Podem voltar? Claro. Não há incompatibilidades insuperáveis — avalia o pré-candidato da Rede ao governo do Rio, deputado Miro Teixeira.

Diante da dificuldade de atrair um vice de fora, numa composição partidária que ampliasse a candidatura, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) diz que, no caso de uma solução caseira, um nome competitivo seria o do presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello. O dirigente de futebol assinou sua ficha de filiação na Rede recentemente e disse a Marina que seria candidato ao cargo que ela quisesse.

— Várias pessoas na Rede cogitaram o nome do Bandeira como o mais adequado se o vice vier de uma solução caseira. O Eduardo tirou o Flamengo, maior clube de futebol do país, do fundo do poço. Tem carisma, perfil de bom gestor, tem responsabilidade fiscal e uma imagem que agregaria chapa de Marina — defendeu Randolfe.

Bandeira de Mello, no entanto, disse ao GLOBO achar mais provável que o vice de Marina venha de uma composição partidária:

— De vez em quando me perguntam sobre isso, mas eu não sei de nada. Ainda tem muita água para passar debaixo dessa ponte.

ALCKMIN GOSTARIA DE UM OUTSIDER
No caso do tucano Geraldo Alckmin, diante da lista de adversidades que a pré-campanha precisa resolver, a escolha de um vice não está entre as prioridades imediatas. O próprio pré-candidato tem dito que essa será uma batalha a ser travada a partir de julho, quando as articulações de alianças deverão ganhar corpo.

Um perfil considerado positivo nas conversas, por enquanto, é o de alguém associado à nova política para amenizar a imagem do presidenciável. Se fosse do Nordeste, melhor ainda, dizem os aliados. É nessa região que o PSDB tem seu pior desempenho eleitoral. Mas a escolha é tida como pouco factível porque o prazo para as filiações se encerrou e seria preciso encontrar, nas siglas, alguém que não tenha perfil de político tradicional. Alckmin ainda inclui no cardápio uma mulher, mas não falou em nomes por enquanto.

O DEM teve a preferência do tucano para indicar um nome de vice até meses atrás. Mas a postura da sigla em manter Rodrigo Maia tem feito Alckmin dizer que está se sentindo com “liberdade” para uma escolha pessoal. Alckmin se diz convicto de que o DEM estará na sua coligação na última hora. Ele também conta com PPS, PSD, PV e PTB. 

Não está sendo descartada pela equipe nem mesmo uma chapa pura. Nessa configuração, o senador Tasso Jereissati (CE) é um dos lembrados. (Colaboraram Eduardo Bresciani e Sérgio Roxo).

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