Uma guerra comercial envolvendo as maiores economias do mundo ainda não é uma certeza, mas o presidente Donald Trump tem se esforçado para que ela se concretize a curto prazo. O estilo errático enlouquecedor da política comercial americana, cujos objetivos talvez nem seus negociadores saibam ao certo, resultou em sanções que estão colocando União Europeia, China e Japão contra os Estados Unidos. Um capítulo à parte, ultrajante, é como Trump está tratando seus parceiros do Nafta, México e Canadá, que têm um acordo com os americanos que está sendo rasgado aos pedaços gradativamente.
O pretexto da escalada protecionista americana é o insustentável argumento da ameaça à segurança nacional, sob o qual foram alvejados seus maiores aliados na Segunda Guerra Mundial - europeus e canadenses. A Organização Mundial do Comércio dá certo espaço para que esse motivo possa ser alegado, mas Trump está claramente exagerando-o para obter vantagens. Agora vê no carro importado idêntica ameaça.
A incompetência e o delírio passaram a frequentar a Casa Branca. Para atingir quem considera seu maior adversário comercial e político, a China, os EUA erigiram tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio provenientes da Europa, Brasil, Japão e outros países. A China, um exportador marginal para o mercado americano, sentiu pouco os efeitos da medida. Exportadores de aço semi-acabado, como o Brasil, foram atingidos em primeiro lugar e, depois de um intervalo para averiguações, os parceiros do Nafta acabaram sendo igualmente taxados.
Queixas pertinentes contra a China, especialmente seu desrespeito ao direito de propriedade, poderiam unir os EUA a países dos quatro cantos do planeta, mas a tática de Trump foi a de também hostilizá-los com contenciosos comerciais. As mais recentes rodadas de negociação entre Estados Unidos e China terminaram em impasse e em breve expira o prazo dado para que tarifas que atinjam inicialmente US$ 50 bilhões de exportações provenientes da China entrem em vigor, com a retaliação simétrica por parte dos chineses, também já anunciada. A China aceitou fazer várias concessões e sinalizou com o aumento de importações vindas dos EUA, mas os objetivos de Trump são inaceitáveis para o PC chinês - impedir o novo salto tecnológico do país.
Na terça-feira foi a vez do México retaliar os bens americanos, colocando tarifas contra aço e uma série de produtos agrícolas. O Canadá segue a mesma linha, com outros produtos como alvo. Trump prometeu renegociar o Nafta, mas apresentou muitas exigências e pouca paciência para levar isso à frente. As discussões sobre um ajuste no acordo comercial entraram em um impasse logo de início, porque a maneira Trump de pedir o máximo de início e fazer ameaças adiantam pouco quando se trata de negociações complexas. De cara, os EUA propuseram rediscutir os termos do Nafta a cada cinco anos, ou seja, a cada quinquênio o acordo poderia ser rompido.
O México, alvo explícito de insultos e preconceitos de Trump durante a campanha eleitoral, viu sua moeda flertar com o menor valor em 15 meses, depois de os EUA anunciarem barreiras. Como a diplomacia tornou-se uma arma inútil para Trump, como o prova a vacância em embaixadas importantes ao redor do mundo, ou os desqualificados que o presidente nomeia, como Richard Grenell, na Alemanha, os atos da Casa Branca naturalmente desconsideram consequências políticas.
Trump tornou-se um dos maiores cabos eleitorais da esquerda mexicana que, com Andrés Lopez Obrador, caminha para vencer a eleição presidencial em 1 de julho. Obrador, em pesquisas recentes, tinha a preferência de cerca de metade dos entrevistados, a uma distância confortável, de mais de 20 pontos percentuais, de Ricardo Anaya, do centro-direitista Partido de Ação Nacional (PAN). Se Trump queria fazer do governo mexicano um inimigo e acabar com o Nafta, possivelmente conseguirá as duas coisas.
Além de prejudicar os americanos, os métodos suicidas de Trump não deixam a seus interlocutores outra alternativa a não ser retaliar os EUA. União Europeia, Japão e China avisaram que vão recorrer à OMC contra o protecionismo americano, no que serão seguidos pelos vizinhos americanos e outros países que se sintam vítimas da destrutiva orientação comercial do presidente americano.
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