Siglas ao centro têm dificuldade extra para defender sua agenda
Estivesse em jogo apenas uma questão programática, seria menos difícil encontrar signatários para os principais pontos do manifesto“em defesa de uma candidatura única de centro”, lançado nesta semana em Brasília.
O evento não parece ter correspondido, ao menos por enquanto, ao objetivo de consolidar uma base interpartidária que se contraponha à esquerda, de um lado, e à pré-candidatura presidencial de Jair Bolsonaro (PSL).
Contando com maioria de deputados tucanos, a cerimônia não teria como agregar os diretos interessados na corrida ao Planalto. Os nomes que se enquadrariam em um figurino “de centro” —a começar pelo peessedebista Geraldo Alckmin— certamente não se entusiasmam pelo sacrifício de suas respectivas candidaturas.
O manifesto não é a primeira iniciativa de algumas lideranças do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a revelar seu desconforto com os baixos índices de popularidade enfrentados pelo ex-governador paulista.
Este, pelo que se noticia, reagiu entre aliados com inusitada veemência diante de tão nítidos sinais de desengajamento partidário à sua campanha. Reiterou, na quarta (6), que inexiste possibilidade de desistir de sua postulação.
Foram na mesma linha as declarações de Marina Silva (Rede), rejeitando a hipótese de se tornar vice na chapa do tucano.
Com efeito, para qualquer candidato há de ser mais razoável esperar o início do horário eleitoral gratuito e o desenrolar da disputa, para reavaliar suas chances.
Do ponto de vista dos signatários do manifesto, é também das pesquisas eleitorais que se está a depender. A se mostrar provável um confronto no segundo turno entre Bolsonaro e um nome à esquerda —um petista ou Ciro Gomes (PDT), por exemplo—, o apelo em prol de uma candidatura única pode se fazer mais convincente.
Embora frágil como estratégia, o texto apresenta contribuições positivas ao debate e permite antever alguns passos da campanha. É sintomática a opção de colocar, em primeiro lugar na lista dos 17 pontos, a defesa da democracia e dos direitos individuais.
O documento mira, pois, o presidenciável do PSL —cujo discurso autoritário e truculento parece, de fato, seduzir setores do eleitorado antilulista que, em outros tempos, se inclinavam ao centro. Entretanto a decepção com a política tradicional dificulta sobremaneira a tarefa de PSDB, MDB ou DEM.
Com uma linguagem enfática em favor da reforma tributária, do equilíbrio fiscal, de mudanças no SUS e na Previdência, entre outros itens, o texto procura, ao menos, indicar um caminho para discussões programáticas. Em meio à turbulência atual, é um começo.
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