Por Andrea Jubé e Carla Araújo | Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente Michel Temer aproveitou uma entrevista à TV Brasil concedida ontem para criticar indiretamente o pré-candidato do MDB à Presidência e ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que declarou rejeitar o "rótulo" de candidato do governo. Num dia de queda da Bolsa de Valores, ele negou risco de uma "crise cambial". Também afirmou que sofre "esquartejamento político e moral" e é vítima de "tratamento indigno".
"A área econômica caiu do céu, ou foi o presidente da República que colocou um grande ministro na Fazenda?", questionou. Temer relembrou que coube a ele a escalação dos integrantes de sua equipe, cinco dias depois de Meirelles declarar em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que sua candidatura "não representa especificamente" o governo Temer.
Temer afirmou que a área econômica produziu muitos resultados não porque as "coisas caíam do céu", mas porque havia um presidente preocupado com a economia. Ele citou outros nomes reconhecidos pela competência em suas áreas, como o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, e o ex-presidente da Petrobras Pedro Parente.
"O nome era sempre indicado por mim, depois de consultas", afirmou. "Quem trouxe esse pessoal para trabalhar com o governo? O presidente da República, claro", enfatizou.
Em outro trecho da entrevista, Temer ressaltou que Meirelles representa a "continuidade" de seu governo. "O Meirelles fará a tese de que tudo vai continuar". Ele admitiu que o quadro está "indefinido", mas assegurou que Meirelles tem "maioria" dentro do MDB. Lembrou, porém, que nas eleições de 1989, Ulysses Guimarães foi "abandonado" pelo partido no meio da campanha.
Em mais um dia alta do dólar e queda na Bolsa, Temer negou o risco de uma crise cambial. "Não há risco, é natural, o dólar varia muito". Ele enfatizou que o país tem "todas as condições para enfrentar a alta do dólar", a questão fiscal está inteiramente sob controle e o Brasil possui reserva externa acentuada. "Temos mais de US$ 380 bilhões em reservas", relembrou.
Ele acrescentou que há um rescaldo no mercado de reflexos da greve dos caminhoneiros, mas salientou que o comportamento dos mercados externos explica boa parte da situação atual da Bolsa. Afirmou, ainda, que os juros americanos cresceram muito e isso teve repercussão nas moedas de vários países, entre os quais o Brasil.
Ele também refutou riscos para a economia por causa da incerteza eleitoral. "O "eleitor brasileiro quer votar em projeto, não quer votar em pessoas". Mas admitiu que "pode ser que tenha dólar saindo do Brasil porque as pessoas ficam meio instáveis em relação aos pré-resultados que as pesquisas apontam".
Sobre as investigações em andamento contra ele no Supremo Tribunal Federal, o presidente afirmou que é vítima de um "certo esquartejamento político e moral", e que não há um "movimento investigativo", e sim politico.
Ele criticou, objetivamente, o inquérito em que é investigado por um decreto que prorrogou contratos de empresas que atuam no Porto de Santos. O ato teria favorecido a empresa Rodrimar em troca de propina. "O tratamento que me dão é indigno, vão buscar coisas de 1998 já arquivadas várias vezes porque não houve prova, não houve nada consequente", desabafou.
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