sexta-feira, 8 de junho de 2018

Vinicius Torres Freire: Como fabricar uma nova recessão

- Folha de S. Paulo

Há pânico na finança, candidatos irresponsáveis, povo bestificado e ausência de governo

O resumo da ópera destes dias de pânico é que aumentou muito o risco de que a economia fique estagnada neste 2018: como em 2017.

Na prática, crescimento de 1%, como no ano passado, é estagnação, aumento quase nulo do PIB per capita.

As ações de empresas que dependem da venda de bens de consumo e serviços mais caros perderam mais sangue do que a média, no massacre quase geral da Bovespa desta quinta-feira (7). É uma espécie de pesquisa da opinião de quem tem dinheiro na Bolsa: o brasileiro vai comprar menos, viajar menos, pegar menos crédito. Então, pau nas ações de empresas que vivem disso.

O indicador da FGV que tenta antecipar o destino do mercado de trabalho recuou pela terceira vez consecutiva em maio. Não se via um trimestre de baixa no Indicador Antecedente de Emprego desde o início de 2015, quando desembestávamos para a recessão.

As taxas de juros na praça, no atacadão de dinheiro do mercado, continuaram a viajar no espaço sideral. Há mumunhas da finança, pânicos e investidor se virando para não perder mais dinheiro, mas o problema de fundo é que há muita gente tentando se livrar de títulos da dívida pública, grosso modo. Em outras palavras, espera-se alta ainda maior dos juros, portanto.

Juros mais altos já vinham deprimindo e devem deprimir parte dos ânimos restantes de quem ainda pensava em pegar algum dinheiro para investir, que não eram muitos, mas resistiam até abril.

Parte considerável deste pânico financeiro se deve ao súbito entendimento de que é a grande a possibilidade de que na eleição de outubro vença um programa de governo maluco ou repulsivo para os donos do dinheiro grosso. Parte menor deriva da tardia percepção de que não há governo, nem Congresso, nem ninguém com a cabeça no lugar no comando.

Não há nem ao menos alguém que faça pressão para que o tumulto não seja ainda maior. A sociedade, “empresariado”, “x”, assiste à derrocada bestificada, quando não colabora com a ruína, como tantas associações empresariais fizeram no caminhonaço, com oportunismo amador, jeca e burro.

Parlamentares federais e estaduais procuram saquear o resto que sobra e aprovam trens da alegria.

Quanto à eleição, pelo menos até agosto é improvável que um candidato dito de centro, reformista liberal, ganhe vida nas pesquisas. Quanto mais os favoritos de agora digam disparates ou apenas façam planos de governo que causem ojeriza aos donos do dinheiro, maior a propensão à persistência do tumulto.

O que é o disparate essencial? Dizer que a crise fiscal feia que virá em 2019, a falta de dinheiro crítica do governo, não é uma urgência nacional e que será tratada por meio de paliativos ou coisa pior. Quanto mais tempo um candidato favorito viajar na maionese com salmonela, dizendo irresponsabilidades sobre déficit e dívida públicos, mais o ambiente vai se deteriorar.

Caso vença a eleição com essa conversa, esse presidente terá condições reduzidas de governar. Dívida e juros estarão mais altos e a receita do governo será menor, pois o tumulto prejudicará ainda mais a nanoscópica recuperação econômica, se é que ainda haverá alguma.

O que se pode fazer? Um inviável acordo nacional partidário para ajustar as contas públicas e redistribuir perdas, antes de 2019. É puro delírio, sim.

Estamos entrando em um cenário 2002, eleição de Lula, mas com menos opções políticas e econômicas de sair do buraco.

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