O Estado de S. Paulo
Preocupado com índices de popularidade, Lula 3 vai para mais um difícil teste
Nascido em grande medida do repúdio do
eleitorado ao candidato adversário, o governo Lula 3 continua tendo grandes
dificuldades para entender a razão do que ele mesmo descreve como problema de
popularidade. É o próprio Lula.
O presidente tem desconcertado aliados históricos e velhos companheiros pela morosidade com que joga num campo onde sempre se considerou o maior craque, o da articulação e negociação políticas. Talvez ainda não consiga compreender o quanto esse campo mudou – além das regras do jogo.
Além disso, Lula 3 sofre de maneira cada vez
mais acentuada com um fenômeno clássico da política, o da percepção dos fatos.
Em grande parte do público ela não tem sido a que o governo esperava em relação
a dados da economia, emprego e, principalmente, preços e impostos.
Imperam os “sentimentos” de que está tudo
caro e a economia, parada. E não a leitura racional de números tidos como fatos
auspiciosos. O “agora vai” que pudesse ter motivado mais gente, além do
eleitorado fiel a Lula, foi substituído pelo “agora vai para onde?”, que é um
sentimento de dúvida sobre o futuro.
Vale o mesmo para a percepção da reação do
governo à catástrofe no Rio Grande do Sul. Não ajudam governo algum, muito
menos o de Brasília, emoções trazidas pela percepção de que “desamparo” é uma
sensação ligada a governos e órgãos públicos, enquanto a de “união e
solidariedade” surge exclusivamente do esforço de milhares de cidadãos
anônimos.
Tragédias não só expõem o despreparo do poder
público quando se trata de planejamento e esgarçam sua capacidade de reação
limitada por falta de recursos humanos e materiais. Escancaram
vulnerabilidades, incluindo as fiscais, ou seja, causa preocupação o esforço
suplementar imposto aos cofres públicos para enfrentar essa emergência – e o
socorro é imperativo, não importa o que custe.
A extensão da catástrofe é de tal ordem a
ponto de ter impedido até aqui o surgimento de um “comandante”, de instância
“central” capaz de avaliar, coordenar, dirigir – o próprio governo do Estado
fica pequeno diante do tamanho da destruição e das dificuldades que já se
antecipa por prazos bem longos.
Enquanto isso Brasília – de novo, uma questão
de percepção – parece tão distante, não importam as expressões compungidas de
figuras do mundo político (incluindo do STF) sobrevoando áreas alagadas.
Situações complexas, cuja essência está nas emoções e no subjetivo da política,
agravadas por uma tragédia, não são apenas um dificílimo teste de popularidade
para o personagem político Lula.
O verdadeiro teste é o da sua estatura.
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