O Globo
Presidente se estabilizou num patamar
perigoso, já que continua reprovado por mais da metade da população
Foram francamente exagerados os fogos e
rojões disparados pela torcida lulista diante dos resultados da última
pesquisa Quaest para
as eleições de 2026. Analisados sob a fria lupa de pesquisadores, os números
podem ser resumidos assim: Lula estancou a queda de popularidade iniciada no
começo do mandato, e essa é a boa notícia para ele. A má é que se estabilizou
num patamar perigoso, já que continua reprovado por mais da metade da população.
— Em qualquer democracia, alguém com 51% de
desaprovação tem baixa probabilidade de se reeleger — diz o pesquisador
Maurício Moura, professor da Universidade George Washington.
Da mesma forma, os 31% de “ótimo e bom” creditados a Lula na pesquisa o deixam bem abaixo da “nota de corte” de 40%, identificada em estudo de Moura como piso a partir do qual um incumbente passa a ter boas chances de vitória. Segundo esse estudo — feito a partir da análise do desempenho de governadores entre 1998 e 2018 —, a avaliação positiva do presidente lhe daria hoje apenas 36% de chance de reeleição.
Lula, porém, mantém uma vantagem sobre a
oposição: sua candidatura está posta, ele está em campanha e, até o momento,
não tem adversário. A protocandidatura do governador de Goiás, Ronaldo
Caiado (União
Brasil), foi desautorizada pelo presidente do PP, Ciro Nogueira,
no jantar de terça-feira que homologou o União Progressista, federação entre
União Brasil e PP.
O jantar reuniu a licores e confeitos
caciques da direita e centro-direita, no que era para ser uma bonita largada da
oposição, unida em direção a 2026. As taças trincadas, porém, surgiram já no
discurso em que Caiado defendeu que cada partido lançasse seu candidato e que
só no segundo turno se unissem contra Lula. Ouviu de Ciro que o UP tem “grandes
nomes”, mas que talvez não seja a hora de ninguém lá ser cabeça de chapa.
Ciro trabalha para lançar o governador de São
Paulo, Tarcísio de Freitas, como candidato único da oposição, mas os eventos da
semana não ajudaram. Tarcísio sempre diz que, no caso de uma candidatura a
presidente — que segue afirmando estar fora de seus planos —, a pedra no
caminho seria menos o inconstante Bolsonaro que seu filho Eduardo, o incendiário.
A troca de mensagens entre o deputado e o pai, reveladas na quarta-feira em
inquérito da Polícia
Federal, deu ao governador uma mostra do que poderia ser uma campanha
presidencial com o Zero Três a atormentá-lo. Segundo a Quaest, Eduardo é
apoiado por 65% da direita bolsonarista.
Assim, tem-se que Ronaldo Caiado quer ser
candidato, mas Ciro Nogueira não topa. Ciro tenta lançar Tarcísio como nome
único, mas Tarcísio não quer. Valdemar
Costa Neto sonha emplacar Michelle
Bolsonaro pelo seu PL, mas os
Bolsonaros não aceitam. Gilberto
Kassab diz ser Ratinho Jr. o nome do PSD, mas
segura o pré-lançamento do governador do Paraná. Dessa forma, o campo da
oposição segue vazio — sem candidato único nem avulso.
O nome da direita, ou a ausência dele, não
foi a única questão a amargar o jantar do UP. Definida como adversária do
governo, como poderia a federação ter lá quatro ministérios? — perguntaram-se
alguns. Os ministros têm de sair, disseram dirigentes.
— Não vou sair — já disse o ministro André
Fufuca (PP).
É o caso de perguntar: se ministros não
querem sair, por que não são “saídos” pelo chefe, Lula? A resposta é elementar:
porque, estando dentro, representam a ponte com mais de 120 votos de que dispõe
a federação no Congresso — votos que podem definir a aprovação de projetos como
a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil, de sumo interesse eleitoral do
governo, cuja urgência a Câmara acaba de aprovar.
Lula, ao contrário do que deseja sua torcida,
não está nadando de braçada. Mas, por enquanto, avança sozinho na raia.
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