sábado, 23 de agosto de 2025

É cedo para Lula comemorar, por Thaís Oyama

O Globo

Presidente se estabilizou num patamar perigoso, já que continua reprovado por mais da metade da população

Foram francamente exagerados os fogos e rojões disparados pela torcida lulista diante dos resultados da última pesquisa Quaest para as eleições de 2026. Analisados sob a fria lupa de pesquisadores, os números podem ser resumidos assim: Lula estancou a queda de popularidade iniciada no começo do mandato, e essa é a boa notícia para ele. A má é que se estabilizou num patamar perigoso, já que continua reprovado por mais da metade da população.

— Em qualquer democracia, alguém com 51% de desaprovação tem baixa probabilidade de se reeleger — diz o pesquisador Maurício Moura, professor da Universidade George Washington.

Da mesma forma, os 31% de “ótimo e bom” creditados a Lula na pesquisa o deixam bem abaixo da “nota de corte” de 40%, identificada em estudo de Moura como piso a partir do qual um incumbente passa a ter boas chances de vitória. Segundo esse estudo — feito a partir da análise do desempenho de governadores entre 1998 e 2018 —, a avaliação positiva do presidente lhe daria hoje apenas 36% de chance de reeleição.

Lula, porém, mantém uma vantagem sobre a oposição: sua candidatura está posta, ele está em campanha e, até o momento, não tem adversário. A protocandidatura do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), foi desautorizada pelo presidente do PPCiro Nogueira, no jantar de terça-feira que homologou o União Progressista, federação entre União Brasil e PP.

O jantar reuniu a licores e confeitos caciques da direita e centro-direita, no que era para ser uma bonita largada da oposição, unida em direção a 2026. As taças trincadas, porém, surgiram já no discurso em que Caiado defendeu que cada partido lançasse seu candidato e que só no segundo turno se unissem contra Lula. Ouviu de Ciro que o UP tem “grandes nomes”, mas que talvez não seja a hora de ninguém lá ser cabeça de chapa.

Ciro trabalha para lançar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como candidato único da oposição, mas os eventos da semana não ajudaram. Tarcísio sempre diz que, no caso de uma candidatura a presidente — que segue afirmando estar fora de seus planos —, a pedra no caminho seria menos o inconstante Bolsonaro que seu filho Eduardo, o incendiário. A troca de mensagens entre o deputado e o pai, reveladas na quarta-feira em inquérito da Polícia Federal, deu ao governador uma mostra do que poderia ser uma campanha presidencial com o Zero Três a atormentá-lo. Segundo a Quaest, Eduardo é apoiado por 65% da direita bolsonarista.

Assim, tem-se que Ronaldo Caiado quer ser candidato, mas Ciro Nogueira não topa. Ciro tenta lançar Tarcísio como nome único, mas Tarcísio não quer. Valdemar Costa Neto sonha emplacar Michelle Bolsonaro pelo seu PL, mas os Bolsonaros não aceitam. Gilberto Kassab diz ser Ratinho Jr. o nome do PSD, mas segura o pré-lançamento do governador do Paraná. Dessa forma, o campo da oposição segue vazio — sem candidato único nem avulso.

O nome da direita, ou a ausência dele, não foi a única questão a amargar o jantar do UP. Definida como adversária do governo, como poderia a federação ter lá quatro ministérios? — perguntaram-se alguns. Os ministros têm de sair, disseram dirigentes.

— Não vou sair — já disse o ministro André Fufuca (PP).

É o caso de perguntar: se ministros não querem sair, por que não são “saídos” pelo chefe, Lula? A resposta é elementar: porque, estando dentro, representam a ponte com mais de 120 votos de que dispõe a federação no Congresso — votos que podem definir a aprovação de projetos como a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil, de sumo interesse eleitoral do governo, cuja urgência a Câmara acaba de aprovar.

Lula, ao contrário do que deseja sua torcida, não está nadando de braçada. Mas, por enquanto, avança sozinho na raia.

 

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