As energias são perdidas numa polarização política radical e bastante estéril, que gera efeito paralisante e dispersa nossa atenção. O Brasil poderia ter superado a armadilha da renda média e entrado no clube dos países desenvolvidos, a partir do período pós 2ª. Grande Guerra, como fizeram Portugal, Espanha, Austrália, Israel, Coréia do Sul e outros tigres asiáticos.
Logramos êxito no primeiro tempo do jogo, de
1945 a 1980, através do processo industrialização por substituição de
importações sob a liderança do Estado, com alto grau de fechamento da economia.
O Brasil era apontado como o país do futuro, a terra dos milagres econômicos.
Veio a globalização, a internet, a
digitalização da economia. O país ficou como a Carolina do Chico “o tempo
passou na janela e só Carolina não viu”. O Brasil mergulhou em sucessivas crises:
inflação fora de controle, estrangulamentos cambiais, impasses políticos.
Fizemos o Plano Real, domamos a hiperinflação, começamos a reformar o Estado,
mas não demos continuidade à necessária mudança de modelo de desenvolvimento.
Não fizemos a integração competitiva à economia globalizada, o recuo do Estado,
a preparação da economia do conhecimento e o salto de produtividade para a competição
global.
Agora temos um novo ciclo sendo inaugurado pela
revolução da inteligência artificial e a reversão da globalização a partir da
agressiva política nacionalista de Trump, tendo o avanço da China como
preocupação central.
O IBGE já nos avisou: a partir de 2041 –
daqui a 16 anos – a população brasileira começará a diminuir. Menos gente
produzindo numa terra onde os capitais nunca foram abundantes. Para sonhar com
um país desenvolvido apenas com um consistente, acelerado e abrangente ganho de
produtividade. O desafio repousa sobre um tripé: infraestrutura, educação e
capacidade de inovação. Depende de investimentos públicos e privados. O Brasil
nunca investiu tão pouco como nos últimos anos (16% a 17% do PIB). Assim não há
saída. A raiz é a crise fiscal.
A fantasia organizada brasileira precisa, no
plano fiscal, de: a) estancar o crescimento da dívida pública, gerando
superávits primários relevantes, permitindo que os juros caiam e o ambiente de
negócios seja mais atrativo; b) flexibilizar o orçamento, sem o que, já em
2027, teremos todas as receitas alocadas em despesas obrigatórias, deixando
espaço zero para investimentos e custeio de políticas públicas; e, c) recuperar
substancialmente o nível de investimento em infraestrutura e ciência e tecnologia.
Éramos mais ricos que a Coréia do Sul, em
1980, hoje a nossa renda per capita é mais do que três vezes menor. Construímos
a rede de proteção social e transferimos renda, no entanto, o Brasil vem caindo
no ranking internacional das rendas per capitas. Nossa geração de riqueza,
medida pelo PIB, parece uma montanha russa, desde 1980, desenhando, na média, o
famoso voo de galinha.
Pensar o futuro com ousadia pressupõe que as ideias estejam em ordem. Não há indícios que estejam.
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