quarta-feira, 3 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Conta da incúria fiscal já chega para Lula

O Globo

Desaceleração da economia resulta da política de curto prazo, baseada no gasto público e no crédito fácil

Começa a chegar a conta do populismo econômico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o que mostra a desaceleração do crescimento exposta nos últimos números do Produto Interno Bruto (PIB). Alavancar a expansão econômica com incentivos ao consumo e aumento desenfreado do gasto público é uma fórmula que já se mostrou equivocada no passado. Infelizmente o PT insiste em cometer os mesmos erros. Invariavelmente ela resulta em pressão inflacionária, e o Banco Central (BC) precisa aumentar os juros para tentar conter a alta dos preços. Quando isso acontece, não demora para a economia frear. São evidentes as limitações dessa política de voo curto. O esgotamento do modelo de crescimento era questão de tempo. Faltando pouco mais de um ano para a eleição presidencial de 2026, o cenário econômico se desenha mais desafiador para Lula que o imaginado.

Defesas deixaram para a política, por Vera Magalhães

O Globo

No primeiro dia do julgamento da trama golpista, sustentações frágeis e apáticas mostram que advogados contam mais com anistia que com sucesso no STF

O primeiro dia do julgamento da trama golpista chamou a atenção, de um lado, pela veemência do relator Alexandre de Moraes e do procurador-geral da República, Paulo Gonet, em reiterar a gravidade da tentativa de golpe de Estado praticada por Jair Bolsonaro e seus subordinados e, de outro, por certo desleixo dos primeiros advogados a fazer sua sustentação oral. Parecem ter jogado a toalha e deixado para a política resolver a situação de seus clientes.

O movimento pela anistia ampla, geral e irrestrita é o sujeito oculto do julgamento histórico que se iniciou ontem no Supremo Tribunal Federal (STF). Enquanto a primeira sessão transcorria, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), convocava líderes para uma reunião. Pressionado de todos os lados para pautar a anistia, ele hesita entre ficar bem com os pares e com nomes como o governador Tarcísio de Freitas, que tomou a frente nessas articulações, e o temor de um embate com o STF e o achincalhe da opinião pública aqui e no exterior.

Bolsonaro pode voltar atrás sobre Tarcísio, por Thiago Bronzatto*

O Globo

Ex-presidente sabe que, para reverter eventual condenação no STF, terá de contar com apoio dos partidos do Centrão

Há alguns meses, um aliado de Jair Bolsonaro decidiu sondar discretamente o ex-presidente sobre a probabilidade de Tarcísio de Freitas ser o candidato da direita em 2026. Papo vai, papo vem, o interlocutor fez uma prospecção indireta: disse que queria saber se deveria aceitar um convite para trabalhar no governo de São Paulo, com a perspectiva de ascender com Tarcísio em 2026, ou se deveria partir para a iniciativa privada.

Sem responder diretamente, Bolsonaro relembrou que começou a carreira política distribuindo panfletos no Rio de Janeiro e que conseguiu construir sozinho o movimento que leva seu sobrenome, elegendo a maior leva de políticos da oposição no Congresso. Disse ainda que, pelo andar da carruagem, estima ter mais uma década de vida, porque seu estado de saúde não é dos melhores, e que Tarcísio “ainda é muito novo”.

Anistia é golpe, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Tarcísio e Centrão querem melar julgamento no STF para livrar ex-presidente da cadeia

No início do julgamento de Jair Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes lembrou que anistiar golpistas não costuma ser boa ideia. Os inimigos da democracia barganham o perdão, voltar a conspirar e esperam a chance de atacar novamente.

“A história nos ensina que a impunidade, a omissão e a covardia não são opções para a pacificação”, disse Moraes. “A pacificação do país depende do respeito à Constituição, da aplicação das leis e do fortalecimento das instituições”, acrescentou.

O Brasil tem uma longa lista de golpes e quarteladas. Quando dão certo, os vitoriosos repartem os cargos se proclamam revolucionários. Quando fracassam, os derrotados negociam um acordão e voltam para casa sem ser incomodados.

Defesas tentam desconstruir denúncia e invalidar delação de Mauro Cid, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Advogados reconhecem que a absolvição é improvável. Trabalham para reduzir as penas a condenações de 12 a 13 anos, contra a possibilidade máxima de 43 anos

No primeiro dia do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete réus acusados de tentativa de golpe de Estado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), entre os quais três generais de exército e um almirante de esquadra, os advogados de defesa dos réus atuaram com objetivo de desconstruir, desqualificar e enfraquecer as acusações do procurador-geral da República, Paulo Gonet. E invalidar a “delação premiada” do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência e peça-chave do inquérito da Polícia Federal (PF) que investigou a tentativa de golpe.

Uma nova Lusitânia, por Cristovam Buarque*

Correio Braziliense

O escritor Hélio Barros nos oferece um instigante romance que revela um aspecto pouco conhecido da nossa história colonial: a relação entre a metrópole lusitana e a vida no sertão nordestino

O professor Hélio Barros deu grande contribuição ao Brasil por ser um dos pioneiros na promoção das Olimpíadas do Conhecimento, que funcionam como estímulo ao estudo e à autoestima de centenas de milhares de estudantes. Agora, o escritor Hélio Barros nos oferece um instigante romance que revela um aspecto pouco conhecido da nossa história colonial: a relação entre a metrópole lusitana e a vida no sertão nordestino.

O livro O romance da Nova Lusitânia começa com um longo diálogo entre amigos, provavelmente em 1777, em uma cidade ao norte de Portugal. Ao longo do diálogo, um dos amigos conta o que viu durante os anos que viveu na colônia, provocando os companheiros quanto às dificuldades nas relações com a metrópole. Para eles, metrópole e colônia estavam unidas pelo rei e por Cristo, mas havia uma dúvida permanente sobre o que viria a acontecer e o que seria melhor para a relação entre Portugal e aquela terra imensa, estranha, habitada por indígenas, africanos e até por europeus cada vez menos portugueses: os brasilianos.

‘Efeito Felca’ contra crime organizado, por Lu Aiko Otta

Valor Econômico

A ver até onde o empurrão das megaoperações da semana passada levará a pauta legislativa

“De quantos votos você precisa?”, perguntou o rapaz educado e bem-vestido, a um parlamentar candidato à reeleição.

O moço havia marcado a reunião por intermédio de um amigo do congressista. Até sua chegada ao encontro, a equipe do candidato não sabia que se tratava do líder local de uma facção criminosa. Quando soube, era tarde para evitar a conversa.

“Como você vai conseguir os votos? Vai ameaçar as pessoas?”, quis saber o parlamentar. O rapaz sorriu e disse que não precisava ameaçar ninguém. Explicou que tinha uma relação com a comunidade construída à base de pequenos favores: um botijão de gás, um remédio, um emprego, ajuda para religar a energia cortada. Dificilmente as pessoas deixariam de atender um pedido de voto seu.

“E o que quer em troca dos votos?”, perguntou o congressista.

Nada em específico, informou o rapaz. Quando precisasse, entraria em contato para tratar de um ou outro assunto.

Julgamento de Bolsonaro representa momento de virada crucial, por Fernando Exman

Valor Econômico

Episódio capaz de desencadear decisões ou movimentações há tempos esperadas

Espécie em risco de extinção, um experiente político mais dedicado às articulações de bastidores do que às redes sociais costuma alertar que há de se estar sempre atento para os chamados “momentos de virada”. Em outras palavras, um episódio capaz de desencadear decisões ou movimentações há tempos esperadas, mas que não saíam do lugar e matavam todos de ansiedade ou tédio. Pode-se arriscar que o início do julgamento do núcleo crucial da trama golpista é um desses momentos.

O périplo pela capital federal feito pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é um exemplo.

Um julgamento que antecipa 2026, por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Lula tenta empurrar desgaste de Bolsonaro para Tarcísio e Centrão barganha anistia

Qualquer estrangeiro que desembarcasse em Brasília ontem – mesmo sem carregar a sirene do apocalipse de Donald Trump – teria certeza de que estamos em um ano eleitoral. Não estaria de todo errado: embora no calendário gregoriano ainda faltem 13 meses para a disputa que vai definir o novo inquilino do Palácio do Planalto, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) antecipou essa corrida.

No Congresso, o PP e o União Brasil – dois partidos do Centrão – articulam a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, à sucessão do presidente Lula e, no embalo do julgamento, anunciaram que seus ministros devem entregar os cargos em 30 dias.

Rompendo o ciclo de impunidade, por Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

O que mais surpreendeu não foram as palavras e os gestos, mas sim a própria existência desse julgamento

primeiro dia do julgamento do chamado núcleo essencial da trama golpista não trouxe nenhuma surpresa. O relatório apresentado pelo ministro Alexandre de Moraes foi um resumo técnico e objetivo de um processo complexo. O que chamou mais a atenção foi o preâmbulo do relatório, em que deixou claro que a busca de pacificação não passaria pela impunidade. Também deixou claro que as ameaças e tentativas de obstrução não afastariam o tribunal de cumprir sua missão.

O procurador-geral da República, por sua vez, fez uma leitura serena e pausada dos fatos. Paulo Gonet concentrou seus esforços, no entanto, em oferecer um enredo para a trama golpista, buscando demonstrar que em tentativas de golpe ou de abolição do Estado Democrático de Direito a conduta criminosa não depende do sucesso da empreitada, mas do conjunto de atos praticados ao longo do caminho que têm por objetivo colocar fim à ordem democrática.

Julgamento de Bolsonaro reforça polarização e desafia Tarcísio, por Igor Gielow

Folha de S. Paulo

Discurso político de Moraes e negação do bolsonarismo cumprem roteiro previsível

Para um país cuja República foi sacramentada em uma quartelada, deixa de ser vulgar empregar o termo histórico para o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e seu séquito militar.

Isso dito, a apreciação do caso do núcleo da trama golpista de 2022 apontada pela PGR (Procuradoria-Geral da República), aberto nesta terça (2), cumpre um roteiro de previsibilidade que apenas reitera a polarização vigente no país.

Ela se demonstra de formas diversas. Primeiro, na negação do juízo abraçada pelo bolsonarismo mais raiz, da família do ex-mandatário a Silas Malafaia.

Economia vai depender de Lula 4 ou Tarcísio, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

O assunto, economia, vai se tornar ainda mais político depois da prisão de Jair Bolsonaro

Setor externo evita que segundo trimestre fique no vermelho

A economia brasileira cresce a um ritmo menor, desacelera, como deveria ser previsível, dado o aumento brutal da taxa de juros, entre outros problemas. Andou mais devagar no segundo trimestre, mas em uma toada compatível com as previsões de redução de crescimento anual dos 3,4% de 2024 para os 2,3% deste 2025. Nos últimos quatro trimestres, ainda cresceu 3,2%.

O assunto, economia, vai se tornar ainda mais político depois da prisão de Jair Bolsonaro. Certamente assim será a partir de dezembro, com a eleição de 2026 tendo impactos econômicos mais diretos.

Lula 3 tomará alguma providência a fim de evitar desaceleração maior em 2026? Vai exagerar de modo a piorar ainda mais os problemas de 2027? A probabilidade maior ou menor de vitória de uma candidatura de direita, "fiscalista", terá efeito nos ativos financeiros (dólar, juros, ações) e em decisões de investimento produtivo e de contratações. Qual o impacto disso já na economia de 2026 e ainda mais na de 2027? Em 2027, a vida será dura para quem quer que venha a ser eleito.

Um Congresso sem limites republicanos, por Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Casa testou limites da decência ao tentar blindar parlamentares da responsabilização penal

Nos grandes movimentos de protesto de 2013 e 2014, havia uma convicção disseminada de que a classe política era o grande problema nacional. Era urgente renová-la. Foram os anos dos cartazes "desculpem o transtorno, estamos consertando o país", e o desprezo pela política institucional e pelos políticos "que estão aí" tornou-se critério na escolha eleitoral.

Precisávamos de uma política nova, de novos partidos e de renovar o Congresso nacional, segundo a fórmula corrente. E, de fato, vimos surgir novos partidos (inclusive um chamado Novo), as taxas de renovação nas casas legislativas aumentaram e o bolsonarismo apareceu, vejam só, para representar um novo modo de fazer política, desta vez sem corrupção, sem apadrinhamentos, sem velhos vícios —apenas um líder carismático e o povão que governaria com ele.

E se Bolsonaro fugisse? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Eventual exílio de Bolsonaro serviria para retirá-lo de circulação, mas reduziria efeito dissuasório de pena para tentativa de golpe

Já ouvi de mais de um interlocutor cujas opiniões respeito que o melhor para o Brasil seria que o ex-presidente Jair Bolsonaro lograsse escapar e se tornasse hóspede permanente de Donald Trump ou de Viktor Orbán. Nós nos livraríamos de um problema ao menor custo possível.

Eu até concordaria com essa tese, se o Brasil estivesse num estágio mais precário de desenvolvimento institucional, no qual a provável prisão de Bolsonaro encerrasse risco de comoção social ou mesmo guerra civil.

Ativamente constrangido, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Tarcísio de Freitas nega a pretensão de disputar a Presidência, mas alimenta com gestos a especulação

No folclore da política, corre uma história sobre um ex-presidente a respeito do qual havia boatos acerca de um namoro com bela senhora ocupante de alta função na República. Consultado, o mandatário negou, mas aconselhou: "Espalhem, fico lisonjeado".

É mais ou menos o que faz Tarcísio de Freitas (Republicanos) com as recentes andanças de cunho eleitoral. Refuta a pretensão de se candidatar à Presidência, mas alimenta a versão dando sinais de que se sente envaidecido com as especulações.

Campanha em Gaza está transformando Israel em um Estado pária, por Thomas L. Friedman

Folha de S. Paulo / The New York Times

Além de homicídio, governo promove suicídio e fratricídio, dilacerando a sociedade israelense e o judaísmo global

Mundo reconhece diferença entre lutar pela sobrevivência de um Estado e a sobrevivência de um líder

Deixarei para os historiadores o debate sobre se Israel está cometendo genocídio na Faixa de Gaza. Mas o que me parece absolutamente claro agora é que este governo israelense está cometendo suicídio, homicídio e fratricídio.

Está destruindo a posição de Israel no mundo, está matando civis em Gaza aparentemente sem qualquer consideração pela vida humana inocente e está dilacerando a sociedade israelense e o judaísmo global — entre aqueles judeus que ainda querem apoiar Israel a qualquer custo e aqueles que já não conseguem tolerar, explicar ou justificar o rumo para o qual este governo está levando o Estado judeu e agora querem se distanciar dele.

Cadafalso da democracia relativa, por Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Estamos em pleno mar... O mar bramia. Erguendo o dorso altivo sacudia a branca  espuma para o céu sereno. O verso é  parte do poema "Deus!", de Casimiro de Abreu (1839-1860). Retrata a emoção de uma criança ( geração) ao observar, assustado,  o mar, e questionar quem seria mais poderoso do que ele.  Em outro, "Meus oito anos", relembrava uma época de alegria, inocência e liberdade,  referindo-se a ausência das " mágoas de agora", cultivadas por dois  bárbaros na disputa para  representar 215 milhões de cidadãos crentes no regime democrático. 

O enredo dessa disputa iguala as pretensões de ambos. Mesmo que um deles tenha se livrado de uma condenação anterior,  os dois estão carimbados no meio político : um, como corrupto; e o outro  como golpista. Louco também. Os crimes que lhes são imputados, tem formas  diferenciadas mas, no fundo,  os  autores se assemelham nas intenções. 

Poesia | O Tejo, de Fernando Pessoa

 

Música | Mônica Salmaso - Noite Severina