sábado, 6 de setembro de 2025

Tarcisio anistiado. Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo.

Várias propostas de anistia estão na pista. Todas organizadas – orientação nova – em função da disputa eleitoral. Explicitamente. Com complemento. Não apenas o pós-Bolsonaro. O pós-Bolsonaro eleitoral.

Esse é o triunfo do movimento recente de Tarcísio de Freitas. Firmou o chão do qual ascende como candidato sem precisar se anunciar. Os outros – vide Ciro Nogueira – o anunciam. Os outros – vide Lula – o anunciam... O governador lidera uma blitz por anistia a Bolsonaro que consiste, na prática, em liberdade para Bolsonaro e candidatura para si; em pacificação – olha a pacificação aí – para que possa se candidatar com menos arestas.

Os maledicentes dirão ser tudo teatro; que Tarcísio atua por acreditar que as gestões pela anistia darão em nada; para sossegar (ganhar tempo com) o bolsonarismo eduardista. Fato é que age. Mexe-se, objetivamente. A articulação pela anistia pode dar em nada. O movimento de Tarcísio já resultou. Já estabeleceu novo eixo para a campanha por anistia.

Há um claro deslocamento de objeto. Não mais a liberdade de Bolsonaro. Mas a inelegibilidade de Bolsonaro. É isso que se pretende assegurar. É o que se negocia. Talvez mesmo se imponha. A liberdade do – condição fundamental – inelegível Bolsonaro. Liberdade com inelegibilidade. Liberdade em troca da inelegibilidade.

É a partir dessa posição que o futuro se projeta e que o governador bota a cara e toma riscos. E é como reação a esse jogo influente e acelerado que o bolsonarismo sediado nos EUA rearma o discurso: a anistia “ampla, geral e irrestrita”, vocalizada pelo líder do PL Sóstenes Cavalcante, agora vem endereçada – note-se – tendo por cabeça a exigência da elegibilidade. Bolsonaro livre e elegível. Indissociáveis: liberdade e elegibilidade. Não tem negócio. É como a turma responde.

Responde, por exemplo, à entrevista de Ciro Nogueira à Folha – sobre se Jair estaria ciente de que não concorrerá em 2026: “Está consciente de que não vão dar o direito a disputar eleição”. Restaria o mundo real – a salvação única: “O que credencia Tarcísio é a chance de vitória. A única pessoa que não pode perder essa próxima eleição é o Bolsonaro, e ele não vai arriscar. Tire as conclusões.” Está tudo aí.

A liberdade de Bolsonaro como concessão-consequência pelo cumprimento-aceitação do modo inelegível. Quase um contrato a ser assinado. A liberdade de Bolsonaro – “ele não vai arriscar” – como passagem para a superação político-eleitoral de Bolsonaro.

Essa é a anistia de Tarcísio, pela qual pôs o bloco na rua e expõe do que é capaz. Não estará de brincadeira – não explicará pouco sobre si – aquele que, uma vez presidente, baixaria por primeiro ato o perdão ao padrinho líder golpista. Essa é a anistia de Ciro. De Marcos Pereira. De Rueda. Até – no sapatinho – de Valdemar Costa Neto. Bolsonaro livre e encostado. Tarcísio presidente e solto.

 

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