Ferrogrão precisa sair do papel
O Globo
Preocupação ambiental é pertinente, mas país não pode abrir mão de ampliar escoamento da produção
O Brasil deverá fechar o ano com nova safra
recorde de grãos. Confirmada a estimativa, a produção crescerá 16% e atingirá
340,5 milhões de toneladas. Maior produtor nacional, Mato Grosso é o dínamo do
setor. Se fosse um país, seria o quarto no ranking global de soja e algodão. Da
porteira para dentro, reinam empreendedorismo e tecnologia. Mas falta
transporte eficiente para escoar a produção. A maior parte dos grãos
mato-grossenses é exportada por portos do Sudeste e do Sul. Para mudar essa
situação, o governo federal deveria acelerar a concessão da Ferrogrão, ferrovia
com quase mil quilômetros entre Sinop (MT) e Itaituba (PA). A ideia é construir
a estrada de ferro ao lado da rodovia BR-163, já existente. Previsto no Novo
PAC, o projeto está parado.
Lançado em 2012, ele tem sido pródigo em atrasos. A primeira versão do estudo de viabilidade foi apresentada em 2015. Houve quatro atualizações até o material ser enviado para a análise do Tribunal de Contas da União (TCU) em 2020, ano em que teve início o processo de licenciamento ambiental. Depois de questionamento do PSOL sobre a destinação de parte do Parque Nacional do Jamanxim (PA) à obra, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu tudo em 2021, para em seguida autorizar a retomada de estudos. De forma didática, a Ferrogrão ilustra a dificuldade de tirar do papel obras de infraestrutura no Brasil.