domingo, 7 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Julgamento terá lugar na história

Por Correio Braziliense

No momento em que as democracias liberais enfrentam a ação de inimigos em diversas partes do mundo, a resposta brasileira contra os desatinos autocráticos ganha relevância ainda maior

O Brasil acompanha, em meio às comemorações dos 203 anos de independência, um evento da maior importância para a nação. Desde o último dia 2, o Supremo Tribunal Federal se debruça sobre o julgamento dos réus acusados de exercer papel crucial na trama golpista engendrada contra o regime democrático entre 2022 e 2023. Até aqui, o rito processual tem sido irretocável. Falou o juiz relator do processo, ministro Alexandre de Moraes; em seguida o procurador-geral da República, Paulo Gonet; e os advogados de defesa dos acusados. Na terça-feira, começará a vir a público o voto dos integrantes da 1ª Turma, definindo-se assim a palavra da mais alta instância do Judiciário.

Que é a filosofia? Por Antonio Gramsci*

Uma atividade puramente receptiva ou quando muito ordenadora, ou uma atividade absolutamente criadora? Deve-se definir o que se entende por “receptivo”, “ordenador”, “criador”. “Receptivo” implica a certeza de um mundo exterior absolutamente imutável, que existe “em geral”, objetivamente, no sentido vulgar do termo. “Ordenador” aproxima-se de “receptivo”: se bem que implique uma atividade do pensamento, esta atividade é limitada e estreita. Mas o que significa “criador”? Significara que o mundo exterior é criado pelo pensamento? Mas por qual pensamento e de quem? Pode-se cair no solipsismo e, na realidade, toda forma de idealismo cai necessariamente no solipsismo. Para escapar ao solipsismo, e, ao mesmo tempo, as concepções mecanicistas que estão implícitas na concepção do pensamento como atividade receptiva e ordenadora, deve-se colocar o problema de modo “historicista” e, simultaneamente, colocar na base da filosofia a “vontade” (em última instancia, a atividade pratica ou política), mas uma vontade racional, não arbitrária, que se realiza na medida em que corresponde as necessidades objetivas históricas, isto é, em que é a própria história universal no momento da sua realização progressiva. Se esta vontade é inicialmente representada por um indivíduo singular, a sua racionalidade é atestada pelo fato de ser ela acolhida por um grande número, e acolhida permanentemente, isto é, de se tornar uma cultura, um “bom senso”, uma concepção do mundo, com uma ética conforme a sua estrutura. Até a filosofia clássica alemã, a filosofia foi concebida como atividade receptiva ou, no máximo, ordenadora; isto é, foi concebida como conhecimento de um mecanismo que funcionaria objetivamente fora do homem. A filosofia clássica alemã introduziu o conceito de “criatividade” do pensamento, mas num sentido idealista e especulativo.

Ao que parece, somente a filosofia da práxis realizou um passo à frente no pensamento, com base na filosofia clássicas alemã, evitando qualquer tendência para o solipsismo, historicizando o pensamento na medida em que o assume como concepção do mundo, como “bom senso” difuso no grande número (e esta difusão não seria concebível sem a racionalidade ou historicidade) e difuso de tal maneira que se converte em norma ativa de conduta. Deve-se entender criador, portanto, no sentido “relativo”: no sentido de pensamento que modifica a maneira de sentir do maior numero e, em consequência, da própria realidade, que não pode ser pensada sem a presença deste “maior numero”. Criador, também, no sentido em que ensina como não existe uma “realidade” em si mesma, em si e para si, mas em relação histórica com os homens que a modificam, etc.

*Antonio Gramsci (1891-1937) Cadernos do Cárcere, p.202, v.1 – Editora Civilização Brasileira, 2006.

Militares fora da política. Por Merval Pereira

O Globo

Não há indícios de que possa haver movimentação militar hoje, 7 de setembro, ou depois do resultado do julgamento, pois a tropa está aceitando como normal a condenação dos envolvidos na tentativa de golpe

Ao reunir os Comandantes militares atuais e alguns mais antigos em uma reunião de confraternização, o presidente Lula quis dar uma demonstração de que os militares estão ao seu lado neste momento em que caminha para o desfecho o mais importante julgamento da história do país, o primeiro que vai condenar um ex-presidente da República e outros militares de primeiro escalão por tentativa de golpe de Estado.

Temos uma história de golpes e contragolpes que parecia estar encerrada com a redemocratização, mas tivemos o infortúnio de nos depararmos com uma figura anacrônica como Bolsonaro, que despertou os mais abjetos instintos golpistas em um grupo militar que trouxe de volta ao cenário político a ambição de poder através das armas, e não do voto popular.

O país em disputa na semana crucial. Por Míriam Leitão

O Globo

As ameaças e falas antidemocráticas de cada dia 7 de setembro no governo Bolsonaro foram estímulos que levaram ao 8 de janeiro

Hoje é 7 de setembro e vivemos um momento decisivo da nossa história. Nesta semana, os ministros do Supremo Tribunal Federal vão condenar ou absolver os membros do núcleo crucial do golpe de Estado. Na semana passada, o Congresso reagiu ao início do julgamento com golpes legislativos. Enfraqueceu a Lei da Ficha Limpa, tentou encurralar o Banco Central, e tirou da gaveta a pior proposta de anistia aos golpistas. Do STF veio o alerta de Alexandre de Moraes: “Impunidade não é pacificação”.

Hoje é 7 de setembro e veja que boa notícia. Não ouviremos os urros antidemocráticos do presidente da República como ouvimos durante os anos de Jair Bolsonaro no Planalto. No governo dele, não fomos poupados de suas ameaças, nem no bicentenário. Em data que deveria ser de união, Bolsonaro aprofundou a fratura na sociedade, hostilizando quem não aderia ao seu projeto autoritário.

Diante da encruzilhada. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

País chega ao 7 de Setembro diante de encruzilhada histórica; democracia precisa responsabilizar quem tentou destruí-la

Num 7 de Setembro como hoje, o presidente da República chamou as eleições de “farsa”, anunciou que não cumpriria mais ordens da Justiça e disse que só sairia do poder “preso ou morto”. Aconteceu em 2021, quando Jair Bolsonaro usou a data cívica para atacar a democracia e o Supremo Tribunal Federal.

Quatro anos depois, o país se vê diante de uma encruzilhada histórica. Ou aplica a lei e pune os extremistas, em julgamento que será retomado na terça-feira, ou aceita ficar preso a um passado de golpes, autoritarismo e tutela militar.

Em 2021, Bolsonaro amargava uma queda na popularidade, agravada pela gestão caótica da pandemia e pelo aumento da inflação e do desemprego. Em vez de enfrentar os problemas, o chefe do governo escolheu afrontar a Constituição.

Manifestação de guerra nos EUA. Por Dorrit Harazim

O Globo

Dos 13 presidentes que sucederam a Truman, só Donald Trump cismou em mudar o nome do Departamento de Defesa

Até a semana passada, o Pentágono ainda atendia pela denominação com que fora rebatizado no mundo devastado pela Segunda Guerra Mundial: Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Naquele conflito, o planeta conhecera o poder da bomba atômica, e a corrida nuclear das superpotências recomendava adequar a agência à nova condição não binária de “guerra” ou “paz”. Algo que englobasse um conceito mais amplo de segurança e defesa nacional. Assim, em 1947, o presidente Harry Truman trocou o nome do Departamento de Guerra, que existia desde os idos da Revolução Americana, por Departamento de Defesa. Com aprovação do Congresso, como manda a lei.

De William Bonner a César Tralli: o fim de uma era na Globo. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O Jornal Nacional precisa se reinventar como o mediador da opinião pública na era das redes sociais. Ocorre que o leito de formação dessa opinião está oculto na nuvem de algoritmos

No livro A Globo – Hegemonia (1965-1984), primeiro volume da trilogia sobre a emissora, o jornalista Ernesto Rodrigues, um ex-profissional da casa, mostra que não haveria Rede Globo sem o Jornal Nacional. Walter Clark, chefão da Globo, convenceu um reticente Armando Nogueira, diretor de jornalismo, a colocá-lo no ar: “Vai ser o primeiro jornal nacional do país, um estouro”. Com aval de Roberto Marinho, a ideia era aproveitar a rede de micro-ondas da Embratel, financiada pelo regime militar, e atrair anunciantes.

O JN estreou em 1º de setembro de 1969, apresentado por Cid Moreira e Hilton Gomes, com censura e presença do SNI nos estúdios. A principal notícia, a posse da Junta Militar que substituiu Costa e Silva, teve apenas 46 segundos. O alargamento da Praia de Copacabana, a morte de Rocky Marciano e o gol de Pelé rumo à Copa de 1970 receberam maior cobertura. Era a regra do jogo da ditadura. Mas assim nasceu o mais importante programa da TV brasileira.

A volta do Império do Meio. Por Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

A liderança da China se torna mais fácil com as fraturas ocasionadas por Trump no Ocidente

A China celebrou esta semana a consolidação de seu poder sobre Eurásia e África, a massa de terra cujo domínio, segundo a geopolítica clássica, permite “governar o mundo”. Xi Jinping avançou na direção de combinar poderio militar e econômico, ao lançar mais um banco de desenvolvimento destinado a substituir o dólar.

Em ensaio de 1904, que prenunciou a 1.ª Guerra, Halford Mackinder escreveu: “Quem governa a Europa Oriental, domina o heartland; quem governa o heartland, domina a IlhaMundo; quem governa a IlhaMundo, domina o mundo.”

O heartland corresponde às vastas planícies da Rússia e Ásia Central. Com a Europa e a África, esse núcleo forma o que Mackinder chama de IlhaMundo – a maior massa continental do globo, detentora das maiores riquezas naturais.

Resiliente, mas sem brilho. Por José Roberto Mendonça de Barros

O Estado de S. Paulo

O crescimento do ano, mais uma vez, decorrerá da vitalidade do setor de recursos naturais

Este é o quadro da economia brasileira expresso nos dados do PIB, recentemente divulgados. Em relação a 2024, o País cresceu nos primeiros seis meses 2,5%, mas com uma clara desaceleração na ponta. Ao contrário dos dois anos anteriores, o desempenho do País será em linha com o que foi projetado no início do ano, algo entre 2% e 2,2%, e não maior.

Naturalmente, isto é o resultado de uma política monetária bastante restritiva que vem desde o ano passado e que se tornou necessária após uma relevante expansão da inflação.

A economia dos EUA perdendo fôlego. Por Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Quem não acompanha as manhas da economia pode não entender por que a estatística de crescimento de empregos nos Estados Unidos mexe tanto com as finanças globais e com o humor do presidente Donald Trump.

Nesta sexta-feira, saiu o chamado payroll, o barômetro do mercado de trabalho dos Estados Unidos. E veio um número baixíssimo: em agosto, foram criadas apenas 22 mil vagas fora do setor agropecuário. Volume bem abaixo das previsões.

Com arrocho, com tudo, Milei resiste. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Argentina renova parte do Congresso em outubro e tem teste eleitoral neste domingo

No final de outubro, ocorre a primeira eleição legislativa nacional na Argentina sob Javier Milei. A avaliação de "El Loco" é a mais baixa desde a posse, em dezembro de 2023. Pode ter baixado mais, por causa do escândalo de (suposta) corrupção que envolve sua irmã, Karina Milei, secretária geral da presidência, "a chefe".

Quem sabe o ambiente tenso por variações grandes de juros e câmbio e o crescimento quase zero nos últimos quatro meses também tenham prejudicado Milei. O espanto é que seu prestígio esteja em nível razoável depois de 20 meses de arrocho violento; que seu partido seja favorito nas eleições legislativas da província ("estado") de Buenos Aires, neste domingo, votação que não inclui a cidade de Buenos Aires. O eleitorado da província é de 37% do eleitorado nacional.

Montanha de provas contra Bolsonaro. Por Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Chefes das Forças Armadas foram à polícia e contaram que ex-presidente lhes propôs um golpe

Na semana passada, a defesa de Bolsonaro argumentou que a acusação contra seu cliente se baseava apenas na delação de Mauro Cid (o que é falso) e na reunião em que Jair propôs um golpe para os chefes das Forças Armadas (que a defesa diz que não foi bem assim).

O advogado e meu xará Celso Vilardi, claramente um sujeito talentoso, também afirmou que o que aconteceu além disso, da tentativa de assassinar Lula até o 8 de Janeiro, não teve nada a ver com Bolsonaro.

Desculpe aí, xará, mas não é isso não.

A delação de Mauro Cid é muito ruim para Braga Netto, mas não tem nenhuma relevância para a acusação contra Jair. Os chefes das Forças Armadas foram na polícia e contaram que Jair lhes propôs um golpe.

Veredito sobre o futuro. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Brasil precisa decidir se repete a história de golpes perdoados ou se põe ponto final nessa infeliz trajetória

Na trajetória de tentativas e de golpes executados que acossa o Brasil desde a inauguração da República, todos foram agraciados com o perdão. Por ato presidencial ou por negociação política avalizada pelo Congresso.

A hipótese de anistia agora ronda o julgamento de um ex-presidente e de parte da cúpula do governo de Jair Bolsonaro (PL), nela incluídos militares de altas e médias patentes.

O voto da barata no chinelo. Por Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

A idiotia permitiria a inclusão na política de indivíduos alienados da vida pública pelo elitismo de pensamento

Indaga um leitor: por que, na eleição de Donald Trump, a barata votou no chinelo? A pergunta resume a perplexidade de milhões com o fato de que latinos, negros, mulheres brancas (negras, não) ajudaram a instalar no poder a sua Nêmesis, entidade de vingança e ressentimento, fonte de terror e medo. E votaram cientes do paradoxo temerário, desde sempre transparente nas ameaças do autocrata-laranja.

O que é liberdade de expressão? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro traça a história do conceito sem romantização, mas acaba defendendo uma versão muito diluída desse direito fundamental

Comento hoje um livro de que não gostei tanto, o que não o torna menos interessante. Trata-se de "What Is Free Speech?", de Fara Dabhoiwala (Princeton). Comecemos pelas partes de que gostei.

Dabhoiwala faz uma história da liberdade de expressão que não cai em romantizações. Se o direito de dizer o que se deseja é indissociável da busca pela verdade, da ciência e está na base de importantes avanços sociais, ele também serve para perpetuar velhas injustiças, criar novas e cometer crimes.

Em busca de arcas do tesouro perdidas. Por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

A grande música é grande música em qualquer época, e a melhor é aquela que fica para sempre

No domingo (31/8), a respeito de uma lista que me pediram das 20 maiores canções brasileiras, escrevi que a grandeza de uma música popular não se faz de hit parades. É obra de gerações de compositores, letristas e intérpretes que, mesmo produzindo grande material, amam o que se fez antes deles. Foi assim no Brasil, durante boa parte do século 20, com músicos e cantores cujos discos alternavam as últimas novidades com os clássicos do passado, fixando o nosso sólido patrimônio musical.

Poesia | Mulher Proletária, de Jorge de Lima

 

Música | Mônica Salmaso | Aparição do Gonzaga