PIB positivo não dá pretexto para complacência
O Globo
Análise de Lula sobre surpresa no resultado
da economia está errada. É hora de trabalhar, não de festejar
Foi surpreendente o crescimento da economia
brasileira no primeiro trimestre. O PIB subiu 4% em
relação ao mesmo período do ano passado. A expansão se deveu sobretudo à
agropecuária, cujo crescimento foi de 18,8%. Os serviços também registraram
alta de 2,9%. Comparada aos três últimos meses de 2022, a economia cresceu
1,9%, acima de Estados Unidos (0,3%), México (1%) e perto da China (2,2%).
Todos os dados divulgados pelo IBGE ficaram acima das previsões. O crescimento
de 3,3% acumulado em 12 meses levou analistas a refazer as estimativas para
2023.
A projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) feita em abril era de 0,9%. No último levantamento do Banco Central (BC), a previsão era de 1,26%. Mesmo levando em conta que o ritmo deverá desacelerar nos próximos meses, não será surpresa se for revisada para mais de 2%. É pouco para o potencial do Brasil e muito abaixo do necessário para recuperar a renda de trabalhadores e a confiança dos empresários. Mas, diante das incertezas que ainda cercam a política econômica, é sem dúvida motivo para celebrar.
Foi o que fez o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva em entrevista coletiva. Só que ele continua a errar na análise. Para
Lula, tudo se resume às políticas sociais do governo ou à visão de que o Estado
deve ter papel preponderante nos investimentos. Nada mais distante da
realidade. O Bolsa Família é crucial para aliviar a situação dos vulneráveis,
mas não basta para impulsionar o consumo como quer Lula. Quanto aos
investimentos estatais, continuam a corresponder a fração mínima do total
investido — e esse total está em queda.
No primeiro trimestre, a taxa de investimento
ficou em 17,7% do PIB, abaixo do registrado em 2022 (18,4%) — o patamar
necessário para garantir crescimento sustentado gira em torno de 25% e jamais
foi atingido no Brasil. Uma nota divulgada pelo BC na semana passada mostrou
que o investimento estrangeiro na compra, expansão ou criação de empresas
também caiu. Entre janeiro e abril ficou em US$ 24,3 bilhões. Um ano antes
somava US$ 33,8 bilhões. O investimento estrangeiro nem sempre espelha o ciclo
político. De qualquer forma, não são números de uma economia prestes a decolar.
Enquanto os dados foram positivos nos
serviços e na agropecuária, a indústria de transformação registrou queda de
0,9% devido a resultados negativos em segmentos como químicos, metalurgia ou
máquinas e equipamentos, este último indicador dos humores dos empresários
sobre o futuro. A tentativa de envolver o Estado em grandes projetos, aventada
pelos conselheiros econômicos de Lula, é a resposta errada para reerguer a
indústria ou a infraestrutura. Se ele continuar a enxergar o século XXI sob a
ótica do sindicalista dos anos 1970, será incapaz de pôr em marcha as políticas
necessárias para atrair investidores — e o crescimento registrado não passará
de um soluço.
O essencial é criar um ambiente acolhedor
para os negócios, a começar pela reforma no caos tributário. Em tese, essa é a
próxima prioridade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, depois da aprovação
do arcabouço fiscal. Ao comentar o PIB, Haddad foi mais cauteloso que Lula:
“Precisamos começar a pensar e ter cuidado com 2024 para manter a economia
gerando empregos”. Ele parece estar ciente de que o governo ainda precisa de
muito para convencer os empresários a investir. É hora de trabalho, não de
festa.
Teto da dívida dos Estados Unidos cria
incerteza para economia global
O Globo
Polarização transformou mecanismo fiscal em
arma a ser usada contra os oponentes políticos no poder
Os Estados
Unidos continuam sem arrecadar o necessário para arcar com suas
despesas, ainda mais depois que o presidente Joe Biden obteve
do Congresso US$ 100 bilhões anuais em subsídios para infraestrutura, energia
limpa e fábricas de semicondutores. A incerteza fiscal americana tem sido um
dos propulsores da inflação global. Nos Estados Unidos, vigora não um teto de
gastos, mas o teto da dívida. E volta e meia o Congresso tem de autorizar o
Tesouro a emitir mais títulos para captar dinheiro e pagar as contas. Nesta
semana, mais uma vez o mundo ficou diante da perspectiva inédita — e insondável
— de um calote da maior potência global.
É um absurdo a classe política americana
periodicamente colocar o próprio país e o mundo diante da possibilidade de uma
grave crise financeira. Mas foi o que aconteceu. A cinco dias de o governo
ficar sem dinheiro para honrar seus compromissos, a Câmara aprovou enfim um
Projeto de Lei que suspende o teto da dívida por dois anos. O Senado referendou
a decisão, que deverá ser sancionada por Biden. Por ora, o risco de calote foi
afastado.
Os US$ 25 trilhões em títulos do Tesouro
americano formam o maior mercado de dívida pública do mundo, mas tamanho não
explica tudo. Eles são considerados o investimento mais seguro que existe, pois
o dólar é, de longe, a principal moeda global. Por isso são comprados por
governos estrangeiros e empresas. Servem de parâmetro para diferentes classes
de ativos. Um eventual calote americano provocaria tremores inéditos nos
mercados planetários. Em crises de confiança anteriores, a configuração do
sistema financeiro mundial era outra, por isso não há precedente para o que
poderia acontecer. Nenhum país ficaria imune.
Leis que limitem despesas do governo são
necessárias. A dívida pública americana equivale a 98% do PIB e poderá chegar a
118% em dez anos. Mas as disputas em Washington não buscam entrar num acordo
sobre o nível de endividamento desejável e como atingi-lo. A dinâmica é a
oposição usar o perigo de apagão do governo ou do calote para extrair
concessões do presidente. E o resto do mundo que se vire.
Até hoje a catástrofe foi evitada. Ajustes
no teto da dívida foram por décadas questão corriqueira. Até que a polarização
o transformou em arma para atacar oponentes. Ficou célebre a obstrução do
senador republicano Ted Cruz num discurso de 21 horas para forçar o apagão no
governo Barack Obama. Depois um acordo permitiu a retomada de atividades sem
risco de calote. Mas claro que o pior não ter acontecido até agora nada garante
para o futuro.
A eterna ameaça de calote é um perigo
desnecessário, um mal provocado pelos políticos contra o próprio povo americano
que prejudica o mundo todo. A cada novo episódio, investimentos são congelados,
a angústia aumenta no mercado financeiro, e o mundo fica tenso, de olho em
Washington. Os congressistas americanos deveriam arcar não apenas com a
responsabilidade fiscal, mas também com a responsabilidade da única potência
que detém poder de emissão sobre a moeda global.
Esplanada de Pirro
Folha de S. Paulo
Governo Lula consegue aprovar no Congresso
MP dos ministérios, mas a alto custo
Após longa queda de braço com a Câmara dos
Deputados, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfim aprovou no
Congresso Nacional a medida
provisória que estabeleceu a organização básica dos órgãos da Presidência e dos
ministérios na gestão do petista.
Não era pouco o que estava em jogo.
Eventual derrota implicaria a reforma da estrutura ministerial cinco meses
depois de iniciado o mandato. Desapareceriam pastas oriundas da caneta de Lula
e ressurgiria na Esplanada o desenho que lhe dera Jair Bolsonaro (PL).
Para usar uma metáfora ao gosto do
presidente, seu governo venceu com um gol nos últimos minutos do segundo tempo
—de fato, quando o Senado aprovou a medida por 51 a 19, faltavam poucas horas
para que ela perdesse a validade.
O placar da votação, como às vezes também
se dá no futebol, esconde mais do que revela. Sobretudo durante a tramitação na
Câmara, o governo sofreu pressão incessante do presidente da Casa, Arthur Lira
(PP-AL). Conhecendo a tibieza na articulação política do Planalto, o deputado
aproveitou para colher o máximo de vantagens.
Conseguiu, por exemplo, que Lula lhe
telefonasse para ouvir queixas dos deputados. Obteve, além disso, a promessa de
que o governo aceleraria a nomeação de
cargos para o segundo e o terceiro escalão da máquina administrativa.
Acima de tudo, Lira conquistou a liberação
de R$ 1,7 bilhão em emendas, montante recorde para um único dia na gestão do
petista.
Não será estranho se alguém no governo
federal disser que se sentiu no meio de um sequestro: foi somente após o
pagamento dessa espécie de resgate que a medida provisória foi aprovada por 337
a 125 entre os deputados.
Pior para o Planalto, os custos não se
limitaram à dinheirama e à distribuição de cargos; ainda entrou na negociação o
conteúdo da medida provisória. Para regozijo de forças retrógradas e
adversárias de uma agenda verde, as pastas que mais sofreram foram a dos Povos
Indígenas e a do Meio Ambiente.
Saciar o apetite de Lira, contudo, não é
tarefa fácil. Sem ter a medida provisória como refém, o presidente da Câmara
buscou nova maneira de espicaçar o governo. Segundo consta, pretende barrar
projetos do interesse de Lula até que os deputados se sintam prestigiados.
Em meio a essa refrega, a Polícia Federal
realizou uma operação que mirou aliados de Lira. O deputado suspeitou da
coincidência e quis saber do governo se havia relação com os eventos políticos.
Ouviu resposta negativa, mas os efeitos do episódio
são incertos, sobretudo quando se tem um governo de base frágil e um presidente
da Câmara cada vez mais apaixonado pelo próprio poder.
Cruzada pela leitura
Folha de S. Paulo
MEC apura piora na alfabetização infantil
após pandemia, que exige ação urgente
Não há política pública que gere resultados
em cadeia tão abrangentes como a da educação, capaz de impulsionar o
crescimento econômico com redução da desigualdade social. Países ricos e com
alto patamar de desenvolvimento humano tratam esse setor como prioridade de
Estado.
O Brasil, como é notório, ainda não
aprendeu essa lição. No ultimo Pisa (avaliação internacional aplicada a
estudantes de 15 anos), em 2018, ficamos na 42ª posição em leitura entre 60
países, com 413 pontos —a média internacional é de 487.
É louvável, portanto, que o Ministério da
Educação tenha realizado um diagnóstico do letramento no início da vida escolar
para respaldar ações nessa etapa, que é base fundamental do ensino.
A partir de entrevistas com 251 professores
de 206 municípios de todos os estados do país, a pesquisa Alfabetiza Brasil
estabeleceu quais são as habilidades necessárias para que um aluno seja
considerado alfabetizado —ler pequenos textos de períodos curtos e escrever,
ainda que com erros ortográficos, textos simples de situações cotidianas, como
um convite ou recado.
Tais habilidades, segundo o MEC,
correspondem a 743 pontos no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Na
última prova, em 2021, apenas 43,6% dos alunos atingiram essa nota. Ou seja,
chega-se à constatação vergonhosa de que mais da
metade das crianças brasileiras no 2º ano letivo não estão alfabetizadas.
Em 2019, 60,3% dos estudantes haviam
alcançado a pontuação, comprovando que a pandemia de Covid-19 produziu estragos
na fase inicial do aprendizado da língua portuguesa. A situação é alarmante,
dado que o atraso na alfabetização gera reprovações também em outras
disciplinas e, por consequência, evasão escolar no futuro.
O levantamento do MEC dá suporte ao plano
de ação do governo federal para a alfabetização no país, que, conforme reportou
a Folha, deve ser lançado em breve.
Além de um aporte de R$
800 milhões, o projeto prevê alterações na distribuição de recursos
com base em resultados da alfabetização —procedimento similar teve sucesso no
Ceará, estado que ostenta os melhores indicadores em educação do país.
Deve-se conhecer melhor o programa para avaliá-lo, mas não há dúvida de que uma política com foco no letramento infantil é há muito tempo necessária e, com o impacto da pandemia, urgente.
‘Colocar amigo no STF é um atraso’
O Estado de S. Paulo
A frase do título foi dita por Lula na
campanha eleitoral de 2022. Agora presidente, o petista não hesitou em indicar
o amigão Zanin ao STF, o que ajuda a desmoralizar a Corte
“Estou
convencido que tentar mexer na Suprema Corte para colocar amigo, para colocar
companheiro, para colocar partidário, é um atraso”, disse Lula da Silva, então
candidato a presidente, durante um debate eleitoral em outubro do ano passado.
Pouco mais de sete meses depois, Lula, agora presidente, nomeou seu advogado
pessoal e amigo, Cristiano Zanin, para o Supremo Tribunal Federal (STF).
As pessoas mudam de ideia, claro.
Da campanha eleitoral para cá, Lula pode
ter tido uma revelação no caminho do Planalto, convertendo-se ao credo
bolsonarista segundo o qual é preciso lotar o Supremo de amigos com quem o
presidente “toma tubaína”, com a óbvia pretensão de domesticar a mais alta
Corte do País – seguindo o receituário de regimes iliberais como o da Hungria.
Não se sabe se Zanin “toma tubaína” com
Lula ou se prefere algo mais refinado, mas a amizade entre ambos é pública e
notória. Pudera: Zanin lutou de forma aguerrida na defesa de
Lula nos processos da Lava Jato, não raro
contra os próprios petistas. É isso, e nada além disso, o que definiu a escolha
de Lula, anunciada anteontem, para surpresa de ninguém. O “notório saber
jurídico” que Zanin demonstrou, conforme exigência constitucional para o
preenchimento do cargo de ministro do Supremo, foi ter usado todos os
instrumentos legais à sua disposição não para defender objetivamente seu
cliente das acusações de corrupção e lavagem de dinheiro que o levaram à
cadeia, e sim para fazer de Lula um mártir; e dos tribunais que o condenaram,
tribunais de exceção.
Trata-se de uma farsa essencial para os
propósitos de Lula, que pretende reescrever a história de modo a apagar os
muitos rastros de corrupção e imoralidade deixados pelo PT em sua passagem pelo
poder. Colocar Zanin no Supremo é, portanto, e com o perdão do trocadilho, a
suprema vingança de Lula contra aqueles que ele enxerga como seus algozes.
Tudo isso torna letra morta,
definitivamente, a “narrativa” de Lula – para empregar um termo de seu gosto –
de que sua candidatura presidencial servia ao propósito de liderar uma “frente
ampla” na salvação da democracia contra a marcha autoritária de Jair Bolsonaro.
Este, como testemunhamos ao longo de quatro penosos anos, empenhou-se dia e
noite em desmoralizar o Supremo, tratando-o como uma arena dividida entre
vassalos e inimigos, passo essencial para envenenar a democracia. Fosse Lula o
estadista que prometeu ser, reverteria essa lógica ruinosa com uma indicação
isenta e técnica ao STF, ajudando a reduzir a sensação de que as decisões do
Supremo têm sido cada vez mais políticas. Mas a natureza autoritária do chefão
petista, mesmo que a companheirada tente sofisticar a “narrativa”, sempre fala
mais alto, ainda mais depois dos mais de 500 dias de prisão.
Além disso, Lula deve ter percebido, na
semana que passou, que terá vida muito dura no Congresso e nem de longe
conseguirá amealhar votos suficientes para emplacar a agenda petista, o que
pode fazer do Supremo o plenário para reverter derrotas em votações relevantes
e, quem sabe, melhorar a governabilidade. Logo, graças à sua presumível
lealdade canina, Zanin certamente terá o papel de líder da “bancada” de Lula no
STF. Isso é muito diferente de nomear um ministro que seja alinhado às ideias
políticas do presidente, o que é absolutamente esperado e normal. Trata-se, na
verdade, de uma absurda subversão do papel do Supremo, acentuada de forma
desabrida por Bolsonaro e, como se vê, corroborada sem cerimônia agora por
Lula, aquele que venceu as eleições com a solene promessa de fazer diferente.
Ora, o Supremo Tribunal Federal não é
“poder moderador” e não deve servir nem como “terceiro turno” do Legislativo
nem, muito menos, como linha auxiliar do Executivo – para não falar de um
partido. Essa é a convicção do Poder Constituinte. Nunca foi a convicção do
presidente anterior, e a indicação de Zanin mostra com clareza meridiana que
também não é a do atual.
Covardia com a infância
O Estado de S. Paulo
Avaliação do Inep constata que mais da
metade das crianças escolarizadas ainda é analfabeta aos 7 anos, numa
confirmação do intolerável despreparo na base do ensino no País
Pelos novos critérios do Ministério da
Educação (MEC), 56,4% dos alunos do 2.º ano do ensino fundamental, crianças de
7 anos recém-saídas da alfabetização, não estavam, de fato, alfabetizados ao
final do período letivo de 2021. A metodologia padronizada, que passará a ser
adotada neste ano, consiste na avaliação da capacidade de ler textos simples,
tirinhas e histórias em quadrinhos e escrever bilhetes e convites, ainda que
com erros ortográficos. O ministro Camilo Santana sintetizou da seguinte forma
o saldo do MEC: “Essa realidade nos envergonha”.
Envergonha, entristece, assusta e revolta
constatar que o abismo educacional no Brasil é ainda mais profundo do que se
imaginava. O ensino básico é frequentemente usado como referência para ilustrar
o despreparo escolar no País. Ficou provado que essa “base” não está
relacionada apenas ao período intermediário ou final do ensino fundamental. Vem
dos primeiros passos, da pré-escola. É injusto com a infância, uma negação de
seu direito constitucional. É, para resumir, uma covardia do País em relação às
suas crianças.
Somente neste ano, com a padronização de
parâmetros e a fixação de uma linha de corte no exame do Sistema Nacional de
Avaliação Básica (Saeb), a verificação em toda a rede de ensino dará ao País a
noção exata do nível de alfabetização de suas crianças. Já não era sem tempo.
Mas não deixa de chamar a atenção o atraso do Brasil em adotar um monitoramento
minucioso tão essencial.
Não será surpresa se uma pormenorização do
exame – caso haja este tipo de detalhamento – evidenciar realidades ainda mais
dramáticas na separação por cor, raça e segmento social. No ano passado, um
estudo da ONG Todos Pela Educação revelou que os prejuízos deixados pela
pandemia de covid para crianças em fase de inserção no universo escolar foi
proporcionalmente maior para aquelas já penalizadas pelas desigualdades no
País.
Com base nos dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE, o levantamento da instituição
mostrou que, entre 2019 e 2021, o total de crianças de 6 e 7 anos que não
sabiam ler e escrever aumentou 66,3%. Entre as pretas e pardas, o déficit de
alfabetização aos 7 anos passou de 28,2% em 2019 para 44,5% em 2021, enquanto
nas brancas o aumento foi de 20,3% para 35,1%. O recorte por nível social
mostra o aumento de 33,6% para 51% de crianças pobres ainda não alfabetizadas;
dentre as crianças ricas, o aumento foi de 11,4% para 16,6%.
Se o desafio para elevar a qualidade de
ensino no Brasil já era grande antes da covid, depois da pandemia o fosso se
ampliou. É urgente que o sistema de alfabetização abandone de vez a velha
cartilha do bê-á-bá para se dedicar ao desenvolvimento da compreensão e da
autonomia já nos primeiros contatos do aluno com a escola. Assim é formada, ao
longo do tempo, a capacidade intelectual e o pensamento crítico tão necessários
à qualificação dos jovens.
A “escolinha”, “prezinho”, “jardim”, ou
qualquer outra denominação que se dê ao início da vida escolar, é a primeira abertura
orientada do pensamento. É esse poder de raciocínio que vai facilitar, nos anos
posteriores, o entendimento das diversas disciplinas, a compreensão dos textos.
Nos primeiros passos de desenvolvimento da criança formamos a massa crítica do
País.
“Precisamos educar os alunos para serem
pensadores autônomos e criativos”, resumiu a educadora Cláudia Costin no fórum
Reconstrução da Educação: o que o Brasil precisa para uma escola pública de
qualidade, promovido pelo Estadão. Isso significa que a escola deve atuar não
apenas como um veículo de transferência de conteúdo, mas, principalmente, como
um instrumento que ensina a pensar.
No mundo adulto nos acostumamos ao conceito
de analfabetismo funcional para descrever a incapacidade de alguns indivíduos
que, apesar de reconhecerem letras e números, não conseguem captar a mensagem
daquilo que leem. Decoraram os símbolos, mas têm dificuldade de interpretar a
ideia central do texto. Ocorre, inclusive, com pessoas que concluíram o ensino
fundamental, ou mesmo o nível médio, como um retrato trágico da baixa qualidade
que lhes foi ofertada. É essa a realidade de um terço dos brasileiros. Algo que
só mudará com uma revolução na base escolar – que já deveria ter começado.
Fora do mercado de trabalho
O Estado de S. Paulo
Desemprego cai porque menos brasileiros
buscam oportunidades, mesmo em atividades informais
O total de brasileiros fora da força de
trabalho aumentou no trimestre móvel de fevereiro a abril, conforme o resultado
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgado no
último dia 30. Esse universo cresceu 3,5%, em comparação ao mesmo período do
ano passado, e alcançou 67,2 milhões de trabalhadores. O dado significa que
mais 2,3 milhões de pessoas desistiram da busca por emprego, mesmo no mercado
informal, ou se consideraram indisponíveis para as jornadas nesses três meses.
Não haveria motivo para preocupação se esse
universo contemplasse uma parcela ínfima do total de pessoas em idade laboral.
Trata-se, porém, de uma parcela de 38,5% dos trabalhadores do País.
A Pnad Contínua não detalha as causas do
aumento do contingente dos que desistiram do mercado de trabalho. Pesquisadores
do IBGE afirmam, no entanto, que a opção pelos estudos, a aposentadoria, os
programas de transferência de renda e problemas de saúde estão entre as
explicações plausíveis. Muito provavelmente, a contabilidade de cada centavo do
orçamento familiar a ser desembolsado na busca de um trabalho e nos meios para
fazerse presente no serviço entre nessa lista.
Essa é a conta feita diariamente pelos
trabalhadores de baixa renda, em especial os que atuam na informalidade, e os
beneficiários do Bolsa Família. O quadro é grave porque indica que a
desistência da busca por um emprego tem sido motivada pelo seu próprio custo.
As alternativas são o corte de gastos básicos ou o endividamento. No limite, há
de considerar a relevância do programa governamental ao garantir, no mínimo, a
sobrevivência dessa população.
Fato é que o aumento de brasileiros fora do
mercado de trabalho baixou a pressão sobre a taxa de desemprego. Isso porque a
estatística de desocupação leva em conta quem procura emprego e descarta os que
desistiram ou não se mostraram disponíveis para o trabalho. O indicador fechou
em 8,5% de fevereiro a abril, o menor para o trimestre desde 2015. Surpreendeu
por mostrar-se estável em relação ao trimestre anterior e em queda na
comparação com igual período de 2022.
Esperava-se aumento do desemprego, mas não
há o que ser celebrado. A Pnad Contínua de abril constatou queda de 0,6% no
total de 98 milhões de trabalhadores empregados nos mercados formal e informal,
na comparação com o trimestre anterior. Isso significa que a melhoria no
indicador de desemprego não refletiu substancial aumento de contratações –
outra razão para desestimular a busca por trabalho.
A desistência por um lugar no mercado de trabalho há de ser considerada no contexto de baixo crescimento da atividade econômica e de mudanças nas exigências para contratação. Mas não deixa de impressionar pelo volume que alcançou no Brasil e pelas perspectivas pouco otimistas desenhadas para o futuro próximo.
Senado exalta a liberdade de imprensa
Correio Braziliense
Senadores homenageiam o diplomata,
jornalista e escritor José Hipólito da Costa, que lançou o primeiro jornal
brasileiro — Correio Braziliense — em 1808, em Londres
O Dia da Imprensa, definido como 1º de
junho, foi celebrado ontem em homenagem do Senado Federal ao diplomata,
jornalista e escritor José Hipólito da Costa (1774-1823), fundador do Correio
Braziliense, o primeiro jornal brasileiro, lançado nesse mesmo dia, em 1808, em
Londres. O império não permitiu que o periódico chegasse ao Brasil, mas nem por
isso, os desmandos da Coroa portuguesa deixaram de aportar em terras brasileiras.
Era o início de uma batalha para garantir aos cidadãos o acesso às decisões do
poder público, o lançamento da semente da liberdade de imprensa, que foi se
fortalecendo ao longo dos anos.
A liberdade de imprensa é um dos pilares do
Estado democrático de direito. Para muitos, ela é o quarto poder, após o
Executivo, o Judiciário e o Legislativo. Ela que garante aos cidadãos o acesso
a informações. A censura é o obscurantismo.
Ao longo da história, a imprensa brasileira
se viu pressionada por períodos autoritários. Censores do regime exceção agiram
para evitar que a população tomasse conhecimento dos verdadeiros atos do Estado
e suas consequências à vida de todos. Essa prática ficou no passado. A partir
de 1985, o Brasil voltou ao regime democrático.
Os veículos de comunicação fortaleceram-se
em meio à nova conjuntura sem mordaça e sem opressão. De lá para cá, o leque de
meios de comunicação cresceu exponencialmente. Além de jornais, revistas,
rádios e emissoras de televisão, a tecnologia desenvolveu a internet, os sites
de informações, redes sociais com múltiplas formas de interlocução individuais
e coletivas.
Ao lado dos avanços, os dirigentes de
empresas sérias e comprometidas com a ética e a informação verdadeira, amparada
nos fatos, sem retoques ou artificialismos, se colocam a favor de uma regulação
dos meios virtuais de informação. Esse entendimento vem sendo fortalecido, a
partir do uso distorcido das redes sociais, que foram transformadas em vetores
da disseminação de notícias falsas, caluniosas e abusivas.
A cerimônia foi presidida pela senadora Leila Barros (PDT-DF), autora do requerimento para celebrar a data. Ela afirmou que a imprensa é um setor vital. Reconheceu o papel dos jornalistas e dos meios de comunicação. Condenou a violência contra os profissionais e o uso das inovações para propagar as fake news. Defendeu ainda a liberdade de expressão como instrumento de combate às notícias falsas. No evento, houve uma homenagem especial ao Correio Braziliense, que nasceu junto com Brasília, em 21 de abril de 1960, e hoje é um dos mais reconhecidos jornais do grupo Diários Associados.
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