sábado, 3 de junho de 2023

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

PIB positivo não dá pretexto para complacência

O Globo

Análise de Lula sobre surpresa no resultado da economia está errada. É hora de trabalhar, não de festejar

Foi surpreendente o crescimento da economia brasileira no primeiro trimestre. O PIB subiu 4% em relação ao mesmo período do ano passado. A expansão se deveu sobretudo à agropecuária, cujo crescimento foi de 18,8%. Os serviços também registraram alta de 2,9%. Comparada aos três últimos meses de 2022, a economia cresceu 1,9%, acima de Estados Unidos (0,3%), México (1%) e perto da China (2,2%). Todos os dados divulgados pelo IBGE ficaram acima das previsões. O crescimento de 3,3% acumulado em 12 meses levou analistas a refazer as estimativas para 2023.

A projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) feita em abril era de 0,9%. No último levantamento do Banco Central (BC), a previsão era de 1,26%. Mesmo levando em conta que o ritmo deverá desacelerar nos próximos meses, não será surpresa se for revisada para mais de 2%. É pouco para o potencial do Brasil e muito abaixo do necessário para recuperar a renda de trabalhadores e a confiança dos empresários. Mas, diante das incertezas que ainda cercam a política econômica, é sem dúvida motivo para celebrar.

Foi o que fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista coletiva. Só que ele continua a errar na análise. Para Lula, tudo se resume às políticas sociais do governo ou à visão de que o Estado deve ter papel preponderante nos investimentos. Nada mais distante da realidade. O Bolsa Família é crucial para aliviar a situação dos vulneráveis, mas não basta para impulsionar o consumo como quer Lula. Quanto aos investimentos estatais, continuam a corresponder a fração mínima do total investido — e esse total está em queda.

No primeiro trimestre, a taxa de investimento ficou em 17,7% do PIB, abaixo do registrado em 2022 (18,4%) — o patamar necessário para garantir crescimento sustentado gira em torno de 25% e jamais foi atingido no Brasil. Uma nota divulgada pelo BC na semana passada mostrou que o investimento estrangeiro na compra, expansão ou criação de empresas também caiu. Entre janeiro e abril ficou em US$ 24,3 bilhões. Um ano antes somava US$ 33,8 bilhões. O investimento estrangeiro nem sempre espelha o ciclo político. De qualquer forma, não são números de uma economia prestes a decolar.

Enquanto os dados foram positivos nos serviços e na agropecuária, a indústria de transformação registrou queda de 0,9% devido a resultados negativos em segmentos como químicos, metalurgia ou máquinas e equipamentos, este último indicador dos humores dos empresários sobre o futuro. A tentativa de envolver o Estado em grandes projetos, aventada pelos conselheiros econômicos de Lula, é a resposta errada para reerguer a indústria ou a infraestrutura. Se ele continuar a enxergar o século XXI sob a ótica do sindicalista dos anos 1970, será incapaz de pôr em marcha as políticas necessárias para atrair investidores — e o crescimento registrado não passará de um soluço.

O essencial é criar um ambiente acolhedor para os negócios, a começar pela reforma no caos tributário. Em tese, essa é a próxima prioridade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, depois da aprovação do arcabouço fiscal. Ao comentar o PIB, Haddad foi mais cauteloso que Lula: “Precisamos começar a pensar e ter cuidado com 2024 para manter a economia gerando empregos”. Ele parece estar ciente de que o governo ainda precisa de muito para convencer os empresários a investir. É hora de trabalho, não de festa.

Teto da dívida dos Estados Unidos cria incerteza para economia global

O Globo

Polarização transformou mecanismo fiscal em arma a ser usada contra os oponentes políticos no poder

Os Estados Unidos continuam sem arrecadar o necessário para arcar com suas despesas, ainda mais depois que o presidente Joe Biden obteve do Congresso US$ 100 bilhões anuais em subsídios para infraestrutura, energia limpa e fábricas de semicondutores. A incerteza fiscal americana tem sido um dos propulsores da inflação global. Nos Estados Unidos, vigora não um teto de gastos, mas o teto da dívida. E volta e meia o Congresso tem de autorizar o Tesouro a emitir mais títulos para captar dinheiro e pagar as contas. Nesta semana, mais uma vez o mundo ficou diante da perspectiva inédita — e insondável — de um calote da maior potência global.

É um absurdo a classe política americana periodicamente colocar o próprio país e o mundo diante da possibilidade de uma grave crise financeira. Mas foi o que aconteceu. A cinco dias de o governo ficar sem dinheiro para honrar seus compromissos, a Câmara aprovou enfim um Projeto de Lei que suspende o teto da dívida por dois anos. O Senado referendou a decisão, que deverá ser sancionada por Biden. Por ora, o risco de calote foi afastado.

Os US$ 25 trilhões em títulos do Tesouro americano formam o maior mercado de dívida pública do mundo, mas tamanho não explica tudo. Eles são considerados o investimento mais seguro que existe, pois o dólar é, de longe, a principal moeda global. Por isso são comprados por governos estrangeiros e empresas. Servem de parâmetro para diferentes classes de ativos. Um eventual calote americano provocaria tremores inéditos nos mercados planetários. Em crises de confiança anteriores, a configuração do sistema financeiro mundial era outra, por isso não há precedente para o que poderia acontecer. Nenhum país ficaria imune.

Leis que limitem despesas do governo são necessárias. A dívida pública americana equivale a 98% do PIB e poderá chegar a 118% em dez anos. Mas as disputas em Washington não buscam entrar num acordo sobre o nível de endividamento desejável e como atingi-lo. A dinâmica é a oposição usar o perigo de apagão do governo ou do calote para extrair concessões do presidente. E o resto do mundo que se vire.

Até hoje a catástrofe foi evitada. Ajustes no teto da dívida foram por décadas questão corriqueira. Até que a polarização o transformou em arma para atacar oponentes. Ficou célebre a obstrução do senador republicano Ted Cruz num discurso de 21 horas para forçar o apagão no governo Barack Obama. Depois um acordo permitiu a retomada de atividades sem risco de calote. Mas claro que o pior não ter acontecido até agora nada garante para o futuro.

A eterna ameaça de calote é um perigo desnecessário, um mal provocado pelos políticos contra o próprio povo americano que prejudica o mundo todo. A cada novo episódio, investimentos são congelados, a angústia aumenta no mercado financeiro, e o mundo fica tenso, de olho em Washington. Os congressistas americanos deveriam arcar não apenas com a responsabilidade fiscal, mas também com a responsabilidade da única potência que detém poder de emissão sobre a moeda global.

Esplanada de Pirro

Folha de S. Paulo

Governo Lula consegue aprovar no Congresso MP dos ministérios, mas a alto custo

Após longa queda de braço com a Câmara dos Deputados, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfim aprovou no Congresso Nacional a medida provisória que estabeleceu a organização básica dos órgãos da Presidência e dos ministérios na gestão do petista.

Não era pouco o que estava em jogo. Eventual derrota implicaria a reforma da estrutura ministerial cinco meses depois de iniciado o mandato. Desapareceriam pastas oriundas da caneta de Lula e ressurgiria na Esplanada o desenho que lhe dera Jair Bolsonaro (PL).

Para usar uma metáfora ao gosto do presidente, seu governo venceu com um gol nos últimos minutos do segundo tempo —de fato, quando o Senado aprovou a medida por 51 a 19, faltavam poucas horas para que ela perdesse a validade.

O placar da votação, como às vezes também se dá no futebol, esconde mais do que revela. Sobretudo durante a tramitação na Câmara, o governo sofreu pressão incessante do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Conhecendo a tibieza na articulação política do Planalto, o deputado aproveitou para colher o máximo de vantagens.

Conseguiu, por exemplo, que Lula lhe telefonasse para ouvir queixas dos deputados. Obteve, além disso, a promessa de que o governo aceleraria a nomeação de cargos para o segundo e o terceiro escalão da máquina administrativa.

Acima de tudo, Lira conquistou a liberação de R$ 1,7 bilhão em emendas, montante recorde para um único dia na gestão do petista.

Não será estranho se alguém no governo federal disser que se sentiu no meio de um sequestro: foi somente após o pagamento dessa espécie de resgate que a medida provisória foi aprovada por 337 a 125 entre os deputados.

Pior para o Planalto, os custos não se limitaram à dinheirama e à distribuição de cargos; ainda entrou na negociação o conteúdo da medida provisória. Para regozijo de forças retrógradas e adversárias de uma agenda verde, as pastas que mais sofreram foram a dos Povos Indígenas e a do Meio Ambiente.

Saciar o apetite de Lira, contudo, não é tarefa fácil. Sem ter a medida provisória como refém, o presidente da Câmara buscou nova maneira de espicaçar o governo. Segundo consta, pretende barrar projetos do interesse de Lula até que os deputados se sintam prestigiados.

Em meio a essa refrega, a Polícia Federal realizou uma operação que mirou aliados de Lira. O deputado suspeitou da coincidência e quis saber do governo se havia relação com os eventos políticos.

Ouviu resposta negativa, mas os efeitos do episódio são incertos, sobretudo quando se tem um governo de base frágil e um presidente da Câmara cada vez mais apaixonado pelo próprio poder.

Cruzada pela leitura

Folha de S. Paulo

MEC apura piora na alfabetização infantil após pandemia, que exige ação urgente

Não há política pública que gere resultados em cadeia tão abrangentes como a da educação, capaz de impulsionar o crescimento econômico com redução da desigualdade social. Países ricos e com alto patamar de desenvolvimento humano tratam esse setor como prioridade de Estado.

O Brasil, como é notório, ainda não aprendeu essa lição. No ultimo Pisa (avaliação internacional aplicada a estudantes de 15 anos), em 2018, ficamos na 42ª posição em leitura entre 60 países, com 413 pontos —a média internacional é de 487.

É louvável, portanto, que o Ministério da Educação tenha realizado um diagnóstico do letramento no início da vida escolar para respaldar ações nessa etapa, que é base fundamental do ensino.

A partir de entrevistas com 251 professores de 206 municípios de todos os estados do país, a pesquisa Alfabetiza Brasil estabeleceu quais são as habilidades necessárias para que um aluno seja considerado alfabetizado —ler pequenos textos de períodos curtos e escrever, ainda que com erros ortográficos, textos simples de situações cotidianas, como um convite ou recado.

Tais habilidades, segundo o MEC, correspondem a 743 pontos no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Na última prova, em 2021, apenas 43,6% dos alunos atingiram essa nota. Ou seja, chega-se à constatação vergonhosa de que mais da metade das crianças brasileiras no 2º ano letivo não estão alfabetizadas.

Em 2019, 60,3% dos estudantes haviam alcançado a pontuação, comprovando que a pandemia de Covid-19 produziu estragos na fase inicial do aprendizado da língua portuguesa. A situação é alarmante, dado que o atraso na alfabetização gera reprovações também em outras disciplinas e, por consequência, evasão escolar no futuro.

O levantamento do MEC dá suporte ao plano de ação do governo federal para a alfabetização no país, que, conforme reportou a Folha, deve ser lançado em breve.

Além de um aporte de R$ 800 milhões, o projeto prevê alterações na distribuição de recursos com base em resultados da alfabetização —procedimento similar teve sucesso no Ceará, estado que ostenta os melhores indicadores em educação do país.

Deve-se conhecer melhor o programa para avaliá-lo, mas não há dúvida de que uma política com foco no letramento infantil é há muito tempo necessária e, com o impacto da pandemia, urgente.

‘Colocar amigo no STF é um atraso’

O Estado de S. Paulo

A frase do título foi dita por Lula na campanha eleitoral de 2022. Agora presidente, o petista não hesitou em indicar o amigão Zanin ao STF, o que ajuda a desmoralizar a Corte

 “Estou convencido que tentar mexer na Suprema Corte para colocar amigo, para colocar companheiro, para colocar partidário, é um atraso”, disse Lula da Silva, então candidato a presidente, durante um debate eleitoral em outubro do ano passado. Pouco mais de sete meses depois, Lula, agora presidente, nomeou seu advogado pessoal e amigo, Cristiano Zanin, para o Supremo Tribunal Federal (STF).

As pessoas mudam de ideia, claro.

Da campanha eleitoral para cá, Lula pode ter tido uma revelação no caminho do Planalto, convertendo-se ao credo bolsonarista segundo o qual é preciso lotar o Supremo de amigos com quem o presidente “toma tubaína”, com a óbvia pretensão de domesticar a mais alta Corte do País – seguindo o receituário de regimes iliberais como o da Hungria.

Não se sabe se Zanin “toma tubaína” com Lula ou se prefere algo mais refinado, mas a amizade entre ambos é pública e notória. Pudera: Zanin lutou de forma aguerrida na defesa de

Lula nos processos da Lava Jato, não raro contra os próprios petistas. É isso, e nada além disso, o que definiu a escolha de Lula, anunciada anteontem, para surpresa de ninguém. O “notório saber jurídico” que Zanin demonstrou, conforme exigência constitucional para o preenchimento do cargo de ministro do Supremo, foi ter usado todos os instrumentos legais à sua disposição não para defender objetivamente seu cliente das acusações de corrupção e lavagem de dinheiro que o levaram à cadeia, e sim para fazer de Lula um mártir; e dos tribunais que o condenaram, tribunais de exceção.

Trata-se de uma farsa essencial para os propósitos de Lula, que pretende reescrever a história de modo a apagar os muitos rastros de corrupção e imoralidade deixados pelo PT em sua passagem pelo poder. Colocar Zanin no Supremo é, portanto, e com o perdão do trocadilho, a suprema vingança de Lula contra aqueles que ele enxerga como seus algozes.

Tudo isso torna letra morta, definitivamente, a “narrativa” de Lula – para empregar um termo de seu gosto – de que sua candidatura presidencial servia ao propósito de liderar uma “frente ampla” na salvação da democracia contra a marcha autoritária de Jair Bolsonaro. Este, como testemunhamos ao longo de quatro penosos anos, empenhou-se dia e noite em desmoralizar o Supremo, tratando-o como uma arena dividida entre vassalos e inimigos, passo essencial para envenenar a democracia. Fosse Lula o estadista que prometeu ser, reverteria essa lógica ruinosa com uma indicação isenta e técnica ao STF, ajudando a reduzir a sensação de que as decisões do Supremo têm sido cada vez mais políticas. Mas a natureza autoritária do chefão petista, mesmo que a companheirada tente sofisticar a “narrativa”, sempre fala mais alto, ainda mais depois dos mais de 500 dias de prisão.

Além disso, Lula deve ter percebido, na semana que passou, que terá vida muito dura no Congresso e nem de longe conseguirá amealhar votos suficientes para emplacar a agenda petista, o que pode fazer do Supremo o plenário para reverter derrotas em votações relevantes e, quem sabe, melhorar a governabilidade. Logo, graças à sua presumível lealdade canina, Zanin certamente terá o papel de líder da “bancada” de Lula no STF. Isso é muito diferente de nomear um ministro que seja alinhado às ideias políticas do presidente, o que é absolutamente esperado e normal. Trata-se, na verdade, de uma absurda subversão do papel do Supremo, acentuada de forma desabrida por Bolsonaro e, como se vê, corroborada sem cerimônia agora por Lula, aquele que venceu as eleições com a solene promessa de fazer diferente.

Ora, o Supremo Tribunal Federal não é “poder moderador” e não deve servir nem como “terceiro turno” do Legislativo nem, muito menos, como linha auxiliar do Executivo – para não falar de um partido. Essa é a convicção do Poder Constituinte. Nunca foi a convicção do presidente anterior, e a indicação de Zanin mostra com clareza meridiana que também não é a do atual.

Covardia com a infância

O Estado de S. Paulo

Avaliação do Inep constata que mais da metade das crianças escolarizadas ainda é analfabeta aos 7 anos, numa confirmação do intolerável despreparo na base do ensino no País

Pelos novos critérios do Ministério da Educação (MEC), 56,4% dos alunos do 2.º ano do ensino fundamental, crianças de 7 anos recém-saídas da alfabetização, não estavam, de fato, alfabetizados ao final do período letivo de 2021. A metodologia padronizada, que passará a ser adotada neste ano, consiste na avaliação da capacidade de ler textos simples, tirinhas e histórias em quadrinhos e escrever bilhetes e convites, ainda que com erros ortográficos. O ministro Camilo Santana sintetizou da seguinte forma o saldo do MEC: “Essa realidade nos envergonha”.

Envergonha, entristece, assusta e revolta constatar que o abismo educacional no Brasil é ainda mais profundo do que se imaginava. O ensino básico é frequentemente usado como referência para ilustrar o despreparo escolar no País. Ficou provado que essa “base” não está relacionada apenas ao período intermediário ou final do ensino fundamental. Vem dos primeiros passos, da pré-escola. É injusto com a infância, uma negação de seu direito constitucional. É, para resumir, uma covardia do País em relação às suas crianças.

Somente neste ano, com a padronização de parâmetros e a fixação de uma linha de corte no exame do Sistema Nacional de Avaliação Básica (Saeb), a verificação em toda a rede de ensino dará ao País a noção exata do nível de alfabetização de suas crianças. Já não era sem tempo. Mas não deixa de chamar a atenção o atraso do Brasil em adotar um monitoramento minucioso tão essencial.

Não será surpresa se uma pormenorização do exame – caso haja este tipo de detalhamento – evidenciar realidades ainda mais dramáticas na separação por cor, raça e segmento social. No ano passado, um estudo da ONG Todos Pela Educação revelou que os prejuízos deixados pela pandemia de covid para crianças em fase de inserção no universo escolar foi proporcionalmente maior para aquelas já penalizadas pelas desigualdades no País.

Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE, o levantamento da instituição mostrou que, entre 2019 e 2021, o total de crianças de 6 e 7 anos que não sabiam ler e escrever aumentou 66,3%. Entre as pretas e pardas, o déficit de alfabetização aos 7 anos passou de 28,2% em 2019 para 44,5% em 2021, enquanto nas brancas o aumento foi de 20,3% para 35,1%. O recorte por nível social mostra o aumento de 33,6% para 51% de crianças pobres ainda não alfabetizadas; dentre as crianças ricas, o aumento foi de 11,4% para 16,6%.

Se o desafio para elevar a qualidade de ensino no Brasil já era grande antes da covid, depois da pandemia o fosso se ampliou. É urgente que o sistema de alfabetização abandone de vez a velha cartilha do bê-á-bá para se dedicar ao desenvolvimento da compreensão e da autonomia já nos primeiros contatos do aluno com a escola. Assim é formada, ao longo do tempo, a capacidade intelectual e o pensamento crítico tão necessários à qualificação dos jovens.

A “escolinha”, “prezinho”, “jardim”, ou qualquer outra denominação que se dê ao início da vida escolar, é a primeira abertura orientada do pensamento. É esse poder de raciocínio que vai facilitar, nos anos posteriores, o entendimento das diversas disciplinas, a compreensão dos textos. Nos primeiros passos de desenvolvimento da criança formamos a massa crítica do País.

“Precisamos educar os alunos para serem pensadores autônomos e criativos”, resumiu a educadora Cláudia Costin no fórum Reconstrução da Educação: o que o Brasil precisa para uma escola pública de qualidade, promovido pelo Estadão. Isso significa que a escola deve atuar não apenas como um veículo de transferência de conteúdo, mas, principalmente, como um instrumento que ensina a pensar.

No mundo adulto nos acostumamos ao conceito de analfabetismo funcional para descrever a incapacidade de alguns indivíduos que, apesar de reconhecerem letras e números, não conseguem captar a mensagem daquilo que leem. Decoraram os símbolos, mas têm dificuldade de interpretar a ideia central do texto. Ocorre, inclusive, com pessoas que concluíram o ensino fundamental, ou mesmo o nível médio, como um retrato trágico da baixa qualidade que lhes foi ofertada. É essa a realidade de um terço dos brasileiros. Algo que só mudará com uma revolução na base escolar – que já deveria ter começado.

Fora do mercado de trabalho

O Estado de S. Paulo

Desemprego cai porque menos brasileiros buscam oportunidades, mesmo em atividades informais

O total de brasileiros fora da força de trabalho aumentou no trimestre móvel de fevereiro a abril, conforme o resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgado no último dia 30. Esse universo cresceu 3,5%, em comparação ao mesmo período do ano passado, e alcançou 67,2 milhões de trabalhadores. O dado significa que mais 2,3 milhões de pessoas desistiram da busca por emprego, mesmo no mercado informal, ou se consideraram indisponíveis para as jornadas nesses três meses.

Não haveria motivo para preocupação se esse universo contemplasse uma parcela ínfima do total de pessoas em idade laboral. Trata-se, porém, de uma parcela de 38,5% dos trabalhadores do País.

A Pnad Contínua não detalha as causas do aumento do contingente dos que desistiram do mercado de trabalho. Pesquisadores do IBGE afirmam, no entanto, que a opção pelos estudos, a aposentadoria, os programas de transferência de renda e problemas de saúde estão entre as explicações plausíveis. Muito provavelmente, a contabilidade de cada centavo do orçamento familiar a ser desembolsado na busca de um trabalho e nos meios para fazerse presente no serviço entre nessa lista.

Essa é a conta feita diariamente pelos trabalhadores de baixa renda, em especial os que atuam na informalidade, e os beneficiários do Bolsa Família. O quadro é grave porque indica que a desistência da busca por um emprego tem sido motivada pelo seu próprio custo. As alternativas são o corte de gastos básicos ou o endividamento. No limite, há de considerar a relevância do programa governamental ao garantir, no mínimo, a sobrevivência dessa população.

Fato é que o aumento de brasileiros fora do mercado de trabalho baixou a pressão sobre a taxa de desemprego. Isso porque a estatística de desocupação leva em conta quem procura emprego e descarta os que desistiram ou não se mostraram disponíveis para o trabalho. O indicador fechou em 8,5% de fevereiro a abril, o menor para o trimestre desde 2015. Surpreendeu por mostrar-se estável em relação ao trimestre anterior e em queda na comparação com igual período de 2022.

Esperava-se aumento do desemprego, mas não há o que ser celebrado. A Pnad Contínua de abril constatou queda de 0,6% no total de 98 milhões de trabalhadores empregados nos mercados formal e informal, na comparação com o trimestre anterior. Isso significa que a melhoria no indicador de desemprego não refletiu substancial aumento de contratações – outra razão para desestimular a busca por trabalho.

A desistência por um lugar no mercado de trabalho há de ser considerada no contexto de baixo crescimento da atividade econômica e de mudanças nas exigências para contratação. Mas não deixa de impressionar pelo volume que alcançou no Brasil e pelas perspectivas pouco otimistas desenhadas para o futuro próximo.

Senado exalta a liberdade de imprensa

Correio Braziliense

Senadores homenageiam o diplomata, jornalista e escritor José Hipólito da Costa, que lançou o primeiro jornal brasileiro — Correio Braziliense — em 1808, em Londres

O Dia da Imprensa, definido como 1º de junho, foi celebrado ontem em homenagem do Senado Federal ao diplomata, jornalista e escritor José Hipólito da Costa (1774-1823), fundador do Correio Braziliense, o primeiro jornal brasileiro, lançado nesse mesmo dia, em 1808, em Londres. O império não permitiu que o periódico chegasse ao Brasil, mas nem por isso, os desmandos da Coroa portuguesa deixaram de aportar em terras brasileiras. Era o início de uma batalha para garantir aos cidadãos o acesso às decisões do poder público, o lançamento da semente da liberdade de imprensa, que foi se fortalecendo ao longo dos anos.

A liberdade de imprensa é um dos pilares do Estado democrático de direito. Para muitos, ela é o quarto poder, após o Executivo, o Judiciário e o Legislativo. Ela que garante aos cidadãos o acesso a informações. A censura é o obscurantismo.

Ao longo da história, a imprensa brasileira se viu pressionada por períodos autoritários. Censores do regime exceção agiram para evitar que a população tomasse conhecimento dos verdadeiros atos do Estado e suas consequências à vida de todos. Essa prática ficou no passado. A partir de 1985, o Brasil voltou ao regime democrático.

Os veículos de comunicação fortaleceram-se em meio à nova conjuntura sem mordaça e sem opressão. De lá para cá, o leque de meios de comunicação cresceu exponencialmente. Além de jornais, revistas, rádios e emissoras de televisão, a tecnologia desenvolveu a internet, os sites de informações, redes sociais com múltiplas formas de interlocução individuais e coletivas.

Ao lado dos avanços, os dirigentes de empresas sérias e comprometidas com a ética e a informação verdadeira, amparada nos fatos, sem retoques ou artificialismos, se colocam a favor de uma regulação dos meios virtuais de informação. Esse entendimento vem sendo fortalecido, a partir do uso distorcido das redes sociais, que foram transformadas em vetores da disseminação de notícias falsas, caluniosas e abusivas.

A cerimônia foi presidida pela senadora Leila Barros (PDT-DF), autora do requerimento para celebrar a data. Ela afirmou que a imprensa é um setor vital. Reconheceu o papel dos jornalistas e dos meios de comunicação. Condenou a violência contra os profissionais e o uso das inovações para propagar as fake news. Defendeu ainda a liberdade de expressão como instrumento de combate às notícias falsas. No evento, houve uma homenagem especial ao Correio Braziliense, que nasceu junto com Brasília, em 21 de abril de 1960, e hoje é um dos mais reconhecidos jornais do grupo Diários Associados.

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