Juiz de Fora hospedou a primeira hidrelétrica da América Latina no final do século XIX. Até 1931, só havia uma estrada brasileira pavimentada, a União-Indústria, que ligava a capital, Rio de Janeiro, à Petrópolis e Juiz de Fora. As ferrovias dominavam. O boom da economia cafeeira, e não suas crises, gerou o excedente de capital para o nascimento pioneiro das indústrias têxteis, cervejeiras, metalúrgicas e da construção civil.
Terra de tradição cultural, tem um dos dez
mais importantes museus do país, o Museu Mariano Procópio, onde se hospedava
muitas vezes no verão Dom Pedro II. Lá está o “Manto da Coroação”, mas também o
“Tiradentes Esquartejado” de Pedro Américo, realçando as contradições do
período colonial e imperial brasileiro. Terra do Teatro Central, palco adorado
pelos artistas. Terra de Murilo Mendes, Pedro Nava e tantos outros. Juiz de
Fora gerou sua maior liderança política, Itamar Franco, presidente da
estabilização da democracia e da economia. Lá está seu Memorial. Mas de lá
também saíram os tanques e as tropas do Golpe de 1964.
Refletindo a dinâmica concentradora e
desigual do capitalismo brasileiro, a cidade perdeu o fio do desenvolvimento
exuberante. Mergulhou nas últimas décadas em processo de letargia econômica,
embora tenha recebido, de 1958 a 1998, empresas como Becton Dickinson, Facit,
Siderúrgica Mendes Júnior, Paraibuna Metais e Mercedes-Benz. Hoje temos uma
cidade de relativa baixa renda média e com dinamismo que em nada lembra a velha
“Manchester Mineira”.
Algumas hipóteses, que precisam ser melhor
estudadas, para o seu atual desalento econômico legado dos últimos anos, são:
(i) o deslocamento da cafeicultura do Vale do Paraíba para o Oeste Paulista e
outras regiões, deixando como herança uma agropecuária de baixíssima
produtividade; (ii) a mudança da capital do Rio de Janeiro para Brasília,
diminuindo os efeitos positivos da influência exercida; (iii) a queda da renda
regional ancorada no agronegócio de pequena escala e eficiência, com impactos
substantivos sobretudo na construção civil da cidade; (iv) a crise fiscal do
setor público para uma cidade com um contingente de servidores e empregados públicos
muito além da média nacional; (v) o debacle do setor têxtil e de confecção
submetido à competição externa; (vi) o esvaziamento de grandes empresas como a
BD, a Facit e Mercedes Benz e (vii) a perda da alma schumpeteriana de sua
elite.
Quem sabe a minha aldeia reage e se
incorpora aos novos ventos da economia verde, da inovação e do conhecimento!
*Economista
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