segunda-feira, 3 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lei é fraca para impedir campanha eleitoral antecipada

O Globo

Dispositivos vagos e punições leves funcionam como incentivo para que candidatos e partidos ignorem proibições

É patente a deficiência da legislação eleitoral para coibir a propaganda antecipada. Ao estabelecer como início oficial da campanha o dia 16 de agosto, logo depois de esgotado o prazo para registro das candidaturas, a intenção da Justiça Eleitoral é garantir um mínimo de equilíbrio de forças entre quem busca reeleição — e detém controle da máquina administrativa — e os opositores. Infelizmente, os termos da lei são inócuos e as punições, multas entre R$ 5 mil e R$ 25 mil, leves demais. Por isso a campanha antecipada se tornou tão frequente. Os processos para investigar propaganda antes do prazo legal já são mais que o dobro do registrado no último pleito municipal — passaram de 329 para 682, segundo levantamento feito pelo GLOBO em Tribunais Regionais Eleitorais.

No último 1º de Maio, a manifestação convocada pelas centrais sindicais em São Paulo foi um fracasso para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas não para Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL a prefeito do município, apoiado pelo PT. Lula aproveitou o discurso no estacionamento do estádio do Corinthians para pedir votos em Boulos — ato que viola explicitamente a legislação eleitoral. A campanha de Boulos entendeu que “valeu a pena” Lula ter corrido o “risco calculado”.

Afinal, mesmo que o presidente tenha de pagar multa, a referência a Boulos circulou intensamente. Quem não sabia que ele era candidato de Lula ficou sabendo. O governo transmitiu pela Empresa Brasileira de Comunicação o pedido de voto. O vídeo só foi retirado das redes sociais do governo depois da repercussão negativa, mas continuou no perfil pessoal de Lula até a Justiça Eleitoral determinar a remoção. MDB e Novo pediram que seja apurado se houve abuso de poder econômico e de autoridade, crime que pode levar à inelegibilidade do favorecido. Mas ninguém leva essa possibilidade a sério.

Os casos se repetem noutras capitais. No Pará, a Justiça Eleitoral determinou que o pré-candidato à prefeitura de Belém Igor Normando (MDB) suspenda a divulgação em canais de TV e redes sociais de vídeo em que o governador Helder Barbalho (MDB) declara apoio a ele. Mesmo se houver punição, terá valido a pena descumprir a legislação. Em Salvador, o MDB impetrou na Justiça Eleitoral uma reclamação contra o União Brasil, alegando que Bruno Reis, candidato do partido à reeleição, fez propaganda antecipada em vídeo que tratava da sua administração. Em medida liminar, a Justiça determinou a retirada do ar.

A profusão de casos resulta não apenas das punições leves, insuficientes para evitar que os pré-candidatos decidam correr o “risco calculado” da campanha antecipada. A própria lei é pouco objetiva e impõe restrições muitas vezes impossíveis de pôr em prática ou monitorar num tempo em que as redes sociais tornaram a comunicação instantânea. Ou o Congresso, com apoio da Justiça Eleitoral, elabora uma legislação com aderência à realidade e punições compatíveis em caso de violação, ou então, em todo pleito, partidos e candidatos se sentirão confortáveis para desrespeitar a lei. Hoje, a campanha antecipada é um delito que compensa.

Gastança de Lula dá mais ganhos a rentistas

Folha de S. Paulo

Desequilíbrio orçamentário e escalada da dívida pública, apontados pelo BC, dificultam queda da inflação e dos juros

Banco Central divulgou que, nos 12 meses encerrados em abril, a medida mais ampla do desequilíbrio fiscal do país mostrou um déficit exorbitante de R$ 1,043 trilhão, equivalentes a 9,41% do Produto Interno Bruto. Trata-se da pior marca desde abril de 2021, quando se vivia o impacto da pandemia.

Os números dizem respeito ao chamado déficit nominal, que considera as despesas primárias (pessoal, benefícios sociais, custeio administrativo e investimentos) e o pagamento de juros da dívida nos três níveis de governo. É preciso cuidado, todavia, ao comparar o resultado recente com as cifras atípicas da crise sanitária.

Há pouco mais de três anos, a maior parte do rombo de 10,25% do PIB decorria de gastos emergenciais para o enfrentamento da Covid-19, que levavam o saldo primário negativo a 6,75% do PIB. Naquele momento, o gasto total com juros chegava a 3,5% do produto.

Agora, o deficit primário está em 2,4% do PIB, ao passo que os encargos da dívida saltaram para 7%. Com o endividamento em alta (R$ 8,4 trilhões, ou 76% do PIB) e a taxa Selic em nível elevado para combater a inflação, resultante em parte do ritmo acelerado de crescimento de despesas públicas, o impacto dos custos financeiros subiu.

O fato de o deficit orçamentário ser menor hoje do que durante os piores momentos da pandemia está longe de ser tranquilizador. Ao contrário, a tendência recente é um motivo de alarme.

Com o impulso gastador irresponsável do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), voltou à estaca zero todo o esforço de saneamento das contas depois da calamidade causada por sua correligionária Dilma Rousseff. De fato, o déficit primário federal hoje é comparável ao de 2016.

O Planalto quer fazer crer, conforme a cartilha mistificadora petista, que o culpado pelo desequilíbrio é o Banco Central. O custo dos juros, segundo o credo intervencionista, poderia ser eliminado numa canetada, que só não ocorre porque a instituição não está ainda sob o mando do partido.

É falso. A Selic está em 10,5% ao ano porque Lula insiste em gastar como se não houvesse limites. Se o mandatário não acredita em responsabilidade fiscal, o risco de descontrole da dívida cresce na percepção da sociedade.

A desconfiança eleva as taxas de prazo mais longo, que determinam o custo de financiamento de toda a economia, como tem sido observado nos últimos meses.

Os alertas estão à vista de todos e deveriam suscitar a revisão da postura governista —que favorece o tão atacado rentismo dos credores da dívida pública.

Europa à direita

Folha de S. Paulo

Letargia econômica, imigração e Rússia favorecem conservadores em eleição da UE

Mais de 370 milhões de eleitores decidirão de 6 a 9 de junho o rumo a ser tomado por uma União Europeia hoje dividida sobre a inadiável transição energética, a imigração crescente e a economia titubeante —além de, acima de tudo, desafiada por uma ameaça militar.

Definir os 720 integrantes do Parlamento Europeu será o primeiro passo para a cidadania orientar as posições da UE, dentro e fora de suas fronteiras, nos próximos cinco anos. Da coalizão majoritária emergirá uma nova composição para a Comissão Europeia, o braço Executivo do bloco.

As mais recentes pesquisas de opinião antecipam a formação de um Parlamento Europeu mais conservador, incluindo setores mais radicais. Os argumentos das forças de esquerda e de centro, dominantes na UE nos últimos anos, parecem ter se esgotado.

Há amargor em parcelas relevantes do eleitorado sobre as políticas adotadas por Bruxelas desde 2019 —sobretudo as ambientais e as migratórias. O ritmo lento de expansão econômica e o desafio inflacionário desgastaram a atual comissão a ponto de ser esperada presença maior nas urnas.

O eleitor do continente emite desejo de mudança. Como nunca antes, 37% querem a adoção de política regional de defesa capaz de conter a ameaça de a Rússia expandir seu front além da Ucrânia, conforme recente consulta do Eurobarômetro. O risco de a Europa ver-se sozinha em um potencial conflito com Moscou reforça tal temor.

A declaração do candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, de que encorajaria a Rússia a fazer "o que diabos quiser" contra os aliados de Washington na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), foi devidamente anotada pelos europeus.

Não há certeza de que a futura formatação do Parlamento Europeu dará as respostas esperadas pelo eleitor nessa seara. Sabe-se, porém, que a atual governança da UE acordou atrasada para a agenda de defesa regional.

Mesmo que o novo Parlamento reconduza a alemã Ursula von der Leyen à presidência da Comissão Europeia, dificilmente ela encontrará entre seus pares e no Legislativo o aval para seguir na mesma linha dos últimos cinco anos.

A ‘paz’ de Lula é a submissão da Ucrânia

O Estado de S. Paulo

O pacto assinado pelo governo brasileiro com Pequim sobre a guerra de Putin é mais um passo no alinhamento do País aos governos autocráticos e sua geopolítica da lei do mais forte

Uma das assinaturas da grife Lula 3 para a política externa é a criação de uma espécie de “clube da paz” para a solução da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. O próprio Lula da Silva sempre foi vago a respeito do que seria exatamente essa iniciativa. A expressão mais concreta que chegou a oferecer foi a analogia com uma conversa de bar. Mas o acordo assinado pelo seu chanceler paralelo Celso Amorim com o governo chinês no dia 23 passado em Pequim deixa mais claro em que consistem esse “clube” e essa “paz”.

Ambos estão condicionados ao modo como Lula entende a guerra. Para as pessoas moralmente sadias, trata-se de uma guerra entre um agressor e um agredido, ou seja, a guerra de agressão da Rússia é injusta, a guerra de defesa da Ucrânia é justa. Já Lula equipara um e outro como igualmente responsáveis pela guerra. “A decisão da guerra foi tomada por dois países” disse o demiurgo petista no ano passado, em entrevista nos Emirados Árabes. “O presidente Putin não toma a iniciativa de parar, o Zelenski não toma a iniciativa de parar. A Europa e os Estados Unidos terminam dando a contribuição para a continuidade desta guerra.” Nas entrelinhas, Lula se inclina a legitimar a posição russa, como ilustram as sucessivas tratativas do governo com representantes russos e as sucessivas esquivas a tratar com representantes ucranianos.

O tal pacto com a China exemplifica esse estado de coisas. Sem condenar a invasão nem muito menos falar em retirada, ele apela para que as partes beligerantes observem três princípios: evitar a expansão do campo de batalha, impedir a escalada dos combates e evitar provocações. Que sentido há dizer a um país que luta para restabelecer a integridade de seu território e a autodeterminação de seu povo que ele não deve “expandir” o campo de batalha? Obviamente, o sentido que favorece o agressor.

“Estamos atrás de uma paz possível, não de uma paz ideal”, disse Amorim. Segundo ele, “há uma mudança” no governo russo, e Putin tem “falado mais de diálogo”. De fato, em entrevista recente, Putin declarou: “Mais uma vez, fala-se de um retorno às negociações. Que retornem!”. Mas, acrescentou, “que voltem não com base no que um lado quer, mas com base na situação atual do terreno”. Ou seja, para Putin os territórios ocupados são seus e qualquer negociação deve avançar a partir desse fato consumado.

Essa é a “paz possível” de Amorim. Não uma paz regida pelos princípios consagrados pela Constituição brasileira, como a independência nacional, a autodeterminação dos povos, a não intervenção; não a lei do direito internacional, mas a lei do mais forte.

Foi exatamente a complacência do Ocidente com essa lei após a ocupação da Crimeia pela Rússia em 2014 que incentivou Putin a invadir novamente a Ucrânia em 2022. O Brasil está se inclinando a favorecer a normalização da atual ocupação, e o corolário será o incentivo a novas agressões de Putin no futuro.

A China tem interesses nessa normalização. Ela está comprando mais barato as commodities russas, inundando a economia russa com seus produtos, abastecendo a máquina de guerra de Moscou, ampliando a dependência da Rússia e desgastando as nações ocidentais, enquanto prepara a sua invasão a Taiwan.

E o Brasil, ganha o quê? Sabujos lulopetistas podem pretextar pragmatismo, mas o País não precisa desse tipo de alinhamento geopolítico para sustentar e expandir o comércio com a China nem com a Rússia. Na verdade, o pragmatismo é apenas um pretexto para Lula e Amorim promoverem sua diplomacia “ativa e altiva”, um slogan para seu mal disfarçado ressentimento contra os países “ricos”, ou seja, as democracias liberais desenvolvidas.

A tradição diplomática brasileira e a Constituição arquitetaram a política externa brasileira com base nas vantagens comparativas que o Brasil tem para exercer um soft power na arena internacional. Mas isso só é possível num mundo em que existem regras. O que China e Rússia querem – e, aparentemente, Lula também – é um mundo determinado exclusivamente pelo hard power. Esse é um mundo para o qual o Brasil não está vocacionado nem, muito menos, preparado.

Só dinheiro e boa vontade não bastam

O Estado de S. Paulo

Falta de projetos é gargalo para a adaptação das cidades à crise climática, mas é preciso criar incentivos à prevenção e ajudar o País a conter o populismo de cifras e promessas

Entre as muitas lições deixadas pela tragédia sem precedentes que abate o Rio Grande do Sul, uma tem tudo a ver com a natureza da gestão pública, em qualquer área: não basta mais dinheiro para reagir a um desastre, é preciso que gestores públicos tenham capacidade de estruturar e apresentar projetos aptos a receberem os recursos. Também não basta fazer planos, é preciso implementar as ações previstas nos planos e ter capacidade de atualizá-las em tempo hábil e com eficácia. Essa soma de premissas e consequências beira o tautológico, mas é o tipo da obviedade que precisa ser reafirmada no Brasil. Especialmente diante de um desafio de proporções gigantescas como é a adaptação das cidades brasileiras às mudanças climáticas – o novo clima que, segundo sugere boa parte dos cientistas, tornará desastres como o que atingiu o Rio Grande do Sul ainda mais intensos e frequentes no futuro previsível.

Eis por que os brasileiros precisam estar atentos ao predomínio de cifras e promessas de planos futuros nas respostas políticas à crise. De um lado, há a tentação habitual dos populistas: anunciar projetos mirabolantes, que rendem manchetes na imprensa, dão como certo um sucesso incerto, expiam a culpa de maus gestores e, no fim das contas, acabam restritos ao papel. De outro, o desperdício de recursos assegurados, que não são usados pela simples falta de projetos que tornem Estados e municípios aptos a recebê-los. Entre um e outro, há também a reconhecida dificuldade da administração pública de implementação, análise de resultados e correção de rumos.

Eis um problema que atinge universalmente municípios em situação orçamentária já frágil, modesta estrutura qualificada de profissional e poucos recursos para atingir o olimpo das finanças prometidas. Essa é a realidade da esmagadora maioria das cidades – para não mencionar a necessidade de mudança da própria cultura de concepção dos projetos, que invariavelmente precisam incluir a adaptação climática como parte de suas condicionalidades. Uma tarefa nada trivial.

Um desses pontos foi sublinhado recentemente pela secretária nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ana Toni. Ela lembrou que falta ao País criar políticas que incentivem projetos de adaptação urbana antes dos desastres. E quem precisa apresentar esses projetos, disse a secretária, são as cidades. “Uma das áreas que temos de trabalhar é na estruturação de projetos junto com os prefeitos porque não adianta você ter o dinheiro se não tem os projetos chegando”, afirmou, durante participação num evento no Rio. A exigência se torna ainda mais complexa quando se sabe que é mais fácil reagir à crise do que preveni-la, problema que não se restringe ao Brasil, uma vez que a comunidade internacional ainda coloca menos ênfase na adaptação. Cerca de 90% do financiamento climático global, segundo estimativas do MMA, é para mitigação.

A boa notícia é que há tecnologia disponível na gestão pública brasileira para esses desafios. Se é verdade que ainda segue incipiente a consciência de que é preciso abraçar a adaptação climática, também é verdade que há experiências já desenvolvidas para a construção de projetos e uso de protocolos de adaptação a mudanças climáticas. Para citar um exemplo, em 2019, o Ministério da Infraestrutura, à época comandado pelo hoje governador Tarcísio de Freitas, trabalhou num acordo de cooperação com uma agência de fomento alemã para vincular obras a um protocolo de adaptação a mudanças climáticas. Há ainda experiências ligadas à capacitação de municípios para preparar seus planos, construindo cidades resilientes a potenciais consequências das mudanças climáticas – como o aumento do nível do mar e seus impactos em portos e rodovias litorâneas, ou ainda uma mudança no histórico de chuvas que torne uma região permanentemente mais seca ou mais úmida.

Tais experiências podem ajudar a enfrentar os gargalos de projetos, preparar a infraestrutura urbana para o novo clima e – não menos importante – construir diques de contenção dos populismos.

A presença do professor

O Estado de S. Paulo

Acertadamente o MEC impõe limites à formação de professores realizada hoje 100% a distância

O Ministério da Educação (MEC) homologou o parecer do Conselho Nacional de Educação e definiu que os cursos de formação para professores, como as licenciaturas, precisarão ser oferecidos com 50% da sua carga horária presencial. Com efeito, as instituições de ensino, apesar das queixas com as novas regras, terão dois anos para adaptar-se e, enfim, dar um freio no crescimento vertiginoso da chamada educação a distância (EAD) na formação de docentes no Brasil. As novas diretrizes do MEC providencialmente refazem uma tendência que se mostrava excessivamente preocupante.

Chega a ser um truísmo dizer que o ambiente digital é um instrumento poderoso para aprofundar a educação. O ensino será tanto melhor quanto conseguir incorporar novas e ricas soluções de aprendizagem, como a realidade virtual, a inteligência artificial, simulações 3D e interatividades, acréscimos relevantes à prerrogativa inquestionável do professor em sala de aula. O crescimento da educação a distância é parte dessa convicção, e não à toa algumas das melhores universidades do mundo, como Harvard, Oxford, Cambridge e MIT, adotam atividades online com excelência. Dito isto, convém distinguir o que é a adoção de tendências do mundo digital e o que é uma modalidade no ensino que cresceu de forma questionável no Brasil.

Há algo de perturbador na expansão de graduações não presenciais no País, que beirou os 700% em dez anos. Seu ritmo de crescimento se tornou especialmente veloz a partir de 2018, resultado de um decreto ainda do governo de Michel Temer. De início havia boa intenção, uma vez que a modalidade é vista como uma opção para alunos mais vulnerabilizados. Mas o que deveria ser exceção e complementar converteu-se em regra e, ao longo desses últimos anos, diversas avaliações nacionais demonstraram as disparidades de qualidade entre cursos EAD e presenciais. Nesse caso, o diabo mora num detalhe: a incompatibilidade entre a natureza da docência e uma formação 100% a distância.

A profissão docente é essencialmente prática e, como tal, um curso de formação de professores deve se articular em três tipos de conhecimento: sobre os alunos e como se desenvolvem em diferentes contextos, sobre o que deve ser ensinado e sobre como ensinar. Cursos centrados em aulas expositivas, como o são inevitavelmente nas modalidades a distância, na melhor das hipóteses podem comunicar o conteúdo a ser ensinado, mas não desenvolvem o elemento central: o ato de ensinar. Não por outra razão, a formação de professores precisa se dar em articulação com as escolas, tendo as vivências práticas como parte essencial.

É essa a premissa que acertadamente o ministro Camilo Santana e sua equipe reafirmam agora. A medida lhes impõe um desafio: garantir apoio às instituições de ensino superior na reformulação de seus cursos, fortalecer programas como o de bolsas à iniciação à docência e de residência pedagógica e por fim, mas não menos importante, aperfeiçoar mecanismos de regulação e avaliação. Tarefas imprescindíveis para dar sentido a uma melhor formação docente e assegurar uma mais racional conjugação entre ensino presencial e a distância.

Condenação não elimina chance de vitória de Trump

Valor Econômico

Condenação poderá provocar mudança crucial e pequena, talvez só perceptível quando os votos forem contados

Donald Trump vai para as urnas, disputar o cargo mais poderoso do mundo, estando condenado pela Justiça - é o primeiro ex-presidente americano considerado culpado por um crime na história da república dos Estados Unidos. O que seria uma sentença de morte eleitoral para outro candidato não o é claramente para Trump, no ambiente venenosamente polarizado da política doméstica. Ele continua competitivo. Levava, antes do veredito, a dianteira perto da margem de erro sobre o presidente Joe Biden - 41,3% a 39,3% na média das pesquisas do site FiveThirtyEight - e a disputa segue apertada. As chances de Trump são boas porque, entre outros motivos, ambos os candidatos têm rejeição alta pelos eleitores - 56,3% têm opiniões desfavoráveis sobre Biden, 53,7% sobre Trump.

O processo sobre a ocultação contábil do dinheiro por Trump corre há muito tempo, e seu peso eleitoral é relativo. A grande maioria dos republicanos acha que é uma jogada clara dos democratas para alijar seu líder das urnas. Os democratas acham que mesmo alguém poderoso como Trump tem de se submeter à Justiça e responder por nada menos do que uma tentativa de insurreição para manter-se no poder, algo inacreditável na segunda democracia mais antiga do mundo.

Pesquisa da Reuters/Ipsos feita logo após a decisão da Justiça de Nova York ratifica em parte essas impressões. Nela, 56% dos republicanos disseram que a condenação não mudará seu voto, e, o que é significativo, outros 35% afirmaram que ela lhes deu mais convicção em seu apoio ao candidato. Idêntica fatia de eleitores registrados como independentes (56%) afirmou que o resultado do julgamento não mudará sua decisão de voto.

Mesmo após ter se colocado na mira da Justiça por apropriação indevida de documentos altamente confidenciais do governo, de ter pressionado autoridades eleitorais da Georgia a fraudar os resultados em 2018 e insuflar multidões para impedir a posse de Biden, com a invasão do Congresso, Trump ainda arrasta atrás de si, como nunca antes, o Partido Republicano, cada vez mais radicalizado.

O presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, disse que a quinta-feira foi “um dia vergonhoso na história americana” e que o julgamento era “um exercício puramente político, não legal”. Idêntica posição foi manifestada pelo Kremlin, de Vladimir Putin, para quem a condenação “mostra que todos os meios legais e ilegais são usados nos EUA para se livrar de rivais políticos”. Ainda que tratando a pontapés seus rivais republicanos nas primárias, Trump viu um após outro se retirar da disputa e declarar-lhe apoio - Nikki Haley inclusive.

A condenação de Trump, porém, é um problema para republicanos e democratas. O presidente Joe Biden disse que a ameaça representada pelo milionário só pode ser afastada nas urnas. Os estrategistas democratas não podem explorar o evidente golpe sofrido pelo rival porque Trump, antes, conseguiu convencer grande parte dos americanos de que o julgamento era uma armação descarada do partido no poder.

O primeiro mandato de Trump pode ter sido uma experiência em moderação se comparado ao que Trump declara que pretende fazer se ganhar um segundo. Ele ameaça nomear um procurador especial para investigar Biden e família e realizar o mesmo contra rivais políticos, remover “marxistas” do Departamento de Educação, mobilizar a Guarda Nacional para intervir nas cidades contra o crime, fazer com que Estados republicanos levem à Justiça mulheres que realizem aborto, revogar ações afirmativas pela equidade de gênero e racial etc.

Com suas indicações, Trump deu à Suprema Corte uma maioria conservadora, que decidiu que o aborto não é mais um direito constitucional. Ela aceitou examinar, e não o fará antes da eleição, a alegação de Trump de que ele não pode ser julgado por atos realizados durante o mandato, um salvo conduto para cometer as ilegalidades que bem desejar.

A volta de Trump seria um pesadelo para aliados e adversários igualmente. Ele promete estabelecer tarifas de 10% sobre todas as importações e aumentá-las para 60% no caso dos produtos oriundos da China. Toda a legislação de proteção ambiental deve ser revista. O multilateralismo, já atacado em seu primeiro governo, sofrerá novos golpes.

Mesmo com propostas políticas e econômicos desvairadas, Trump mantém forte apoio eleitoral. Biden pilota uma economia sólida e de pleno emprego, embora a inflação lhe tire pontos entre os eleitores de todos os matizes. A franja esquerda dos democratas causa-lhe desgaste político por sua política pró-Israel. Seus programas protecionistas e pró-economia verde, com gastos bilionários, levam tempo para mostrar efeitos positivos palpáveis.

O que a condenação em Nova York pode causar é uma mudança crucial e talvez só perceptível quando os votos forem contados. Se a pesquisa Reuters/Ipsos indicou algumas ideias consolidadas, também mostrou que 10% dos republicanos e 25% dos independentes se declararam menos propensos a votar em Trump após o veredito. Em uma eleição que será decidida no olho mecânico, que uma parcela desses eleitores abandone Trump será suficiente para eleger Biden. A campanha eleitoral ainda se estenderá por cinco meses, com dois debates entre os candidatos. É uma eleição histórica e imprevisível.

Princípios éticos para IA na saúde

Correio Braziliense

A IA vem sendo cada vez mais adotada em hospitais, clínicas, consultórios, centros de estudos e laboratórios ao redor do mundo

O desenvolvimento das tecnologias que utilizam inteligência artificial (IA) tem provocado uma revolução em diversos setores e, também, criado a ideia de que ela é capaz de resolver qualquer problema. A saúde, entre as variadas áreas de serviços em transformação a partir do uso da ferramenta, acumula ganhos relevantes. A IA vem sendo cada vez mais adotada em hospitais, clínicas, consultórios, centros de estudos e laboratórios ao redor do mundo.

Mas ainda há desafios, limitações e questões a serem debatidas sobre o tema. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já avaliou que a IA representa uma grande promessa para melhorar a prestação de serviços, podendo ser utilizada para otimizar a velocidade e a precisão dos diagnósticos.

A entidade ainda destaca a capacidade de auxiliar no atendimento clínico e fortalecer a pesquisa no setor, bem como o desenvolvimento de medicamentos. Ainda para a OMS, a ferramenta pode apoiar ações na esfera pública, como vigilância de doenças e gestão de sistemas.

É fato que a aplicação de todas essas inovações na busca de diagnósticos mais rápidos e precisos, reduzindo custos e melhorando a experiência de pacientes e de profissionais, motiva uma recente e significativa mobilização.

O avanço da medicina é sempre uma esperança e um anseio da humanidade. Cura de doenças, medicamentos eficientes, tratamentos menos dolorosos e efeitos colaterais reduzidos são conquistas vinculadas à tecnologia.

A identificação de novos males e, especialmente, a prevenção são pontos essenciais na garantia da saúde e que podem ser diretamente beneficiados pela IA.

Mas é preciso pensar diretrizes quanto ao uso ético dessa tecnologia — o que a OMS também já sinalizou como primordial. Princípios devem nortear os trabalhos e os esforços para assegurar o uso correto e em condições de igualdade para todas as sociedades, priorizando os atendimentos públicos. A escalada das exigências nos cuidados de saúde exige cada vez mais dos pacientes e dos profissionais da área.00/00:00correiobrazilienseTruvid

A necessidade generalizada de serviços remotos também leva os cidadãos e as organizações a repensarem os processos clínicos e operacionais. No meio desse furação de novas possibilidades, a IA também atua na propagação de informações e de dados. E esse é um ponto sensível ao bem-estar das pessoas porque programas que disseminam fake news podem provocar enormes estragos.

O combate às práticas nocivas pode ficar ainda mais difícil se a tecnologia for usada sem responsabilidade. O fumo é um exemplo. Depois de ser apresentado como alternativa ao cigarro tradicional, o vape vem causando apreensão na comunidade médica.

O “objeto tecnológico”, divulgado em diversas plataformas, tem aumentado seu alcance, especialmente entre os jovens. Mesmo com os estudos que comprovam o perigo, muitos usuários se expõem ao risco diante da disseminação nas redes. Na última sexta-feira, Dia Mundial sem Tabaco, foi lançada a campanha “Proteção das crianças contra a interferência da indústria do tabaco”.

O objetivo é promover uma mudança de comportamento para coibir o uso. A revolução provocada pelo avanço das tecnologias e pela aplicação cada vez maior da IA precisa ser pensada com responsabilidade. Consciência e atitude correta são instrumentos eficientes de garantia da qualidade na saúde e que não podem ser descartados.

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