O Estado de S. Paulo
Criminalizar a desinformação é uma péssima
ideia. Melhor seria aprovar o PL das Fake News
Jair Bolsonaro se elegeu em 2018 com a ajuda
de fake news e governou espraiando fake news – contra vacinas, contra as urnas
eletrônicas, contra adversários, contra o que fosse.
Em 2021, vetou a inclusão de um artigo no
Código Penal que tipificava “comunicação enganosa em massa” como crime que
poderia ser punido com um a cinco anos de reclusão e multa.
Parecia, com razão, que Bolsonaro estava
agindo em causa própria.
Na semana passada, o Congresso finalmente analisou esse veto, entre outros. Bolsonaro entrou em cena para convencer parlamentares a mantê-lo. O governo Lula orientou pela derrubada, ou seja, a favor de criminalizar a disseminação de fatos inverídicos que pudessem “comprometer a higidez do processo eleitoral”, como dizia o trecho cortado.
Venceu a posição de Bolsonaro, perdeu a de
Lula. A manutenção do veto à criminalização das fake news é um alívio para
muitos aliados e políticos imitadores de Bolsonaro, além de desinformadores de
outras vertentes partidárias, que de santas não têm nada. Ainda bem que isso
aconteceu.
Criminalizar as notícias fraudulentas é o
jeito errado de combatê-las. Em vez de proteger a busca pela verdade, essa
medida abriria brecha para ameaçá-la, sob a desculpa de blindar a democracia.
O trecho vetado definia o crime como
“promover ou financiar (...) campanha ou iniciativa para disseminar fatos que
sabe inverídicos”. Eis um problema sem solução: quem define o que são fatos
sabidamente inverídicos? Quem é sabido a esse ponto? O STF, que abriu de ofício
um inquérito para apurar o que chama de fake news em que tudo cabe, até
reportagens baseadas em fontes e documentos verificáveis?
O TSE, que em 2022 fez uma lista de palavras
que não podiam ser usadas para descrever determinado candidato? O governo
federal, que manda a PF investigar simples críticas à sua atuação durante as
enchentes no Rio Grande do Sul como se fossem notícias fraudulentas?
Criminalizar a desinformação é uma péssima
ideia.
Muito melhor seria aprovar o PL 2630/2020,
das Fake News, que não fala em crime, mas obriga as grandes empresas de
tecnologia a coibir o anonimato e a desinformação em escala industrial e a
promover a transparência nas suas redes. Claro que os aliados de Bolsonaro são
contra. Mas nesse projeto, sim, valeria a pena gastar a saliva dos
articuladores políticos do governo.
Um comentário:
Se os aliados de Bolsonaro são contra...
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