Folha de S. Paulo
Neste governo, a situação é mais complexa
porque não quer repetir o estelionato eleitoral de Dilma pelos custos políticos
"Se um governo tentasse um ponto de
equilíbrio, procurando ser trabalhista no Ministério do Trabalho, liberal no
Ministério da Economia e
conservador no Ministério das Finanças, deixaria de ser governo para se transformar num conflito".
O prognóstico do ideólogo do trabalhismo
getulista, o senador Alberto Pasqualini, ilumina a dinâmica intragoverno
sob Lula 3.
Pasqualini recorre a uma falácia recorrente entre nós sobre a incompatibilidade dinâmica entre equilíbrio fiscal e gasto social: "Reconhecemos como justa a política social, mas praticamos uma política financeira, monetária e fiscal que lhe está em absoluta contradição" (idem).
A conjuntura em que ele fez sua análise era
marcada pela estabilização macroeconômica do segundo governo Vargas, comandada
pela dupla Lafer/Aranha; mas o que acabou prevalecendo foi o histórico aumento
do salário mínimo em 100% proposto pelo ministro do trabalho, João Goulart.
O remédio prescrito foi algo comum em nossa farmacopéia política, quando a
popularidade presidencial desaba: mais gasto. Em tempos de abundância —ex-boom
de commodities— não há conflito. Mas é na adversidade que o verdadeiro
estadista se revela.
Quando o fiscal deteriora, posições distintas
convivem de forma conflituosa no governo, e o presidente arbitra os conflitos.
Delegar amplos poderes a um posto Ypiranga transfere a culpa, como discuti aqui. Criticar o Banco Central também. O presidente pode
também —como Vargas, acuado— dobrar a aposta em medidas plebiscitárias.
Estudo clássico modelou o padrão na América Latina de
reversão de políticas no qual presidentes —Menem é o paradigma— são eleitos com uma plataforma mas implementam
outra inteiramente distinta. Medidas de ajustes fiscais e privatizações foram
implementados por presidentes que foram eleitos por criticá-las. Aconteceu com
Dilma, ao nomear Joaquim Levy como ministro da Fazenda, que implementou ajustes
duros e caiu sob o fogo amigo.
A pergunta crítica do ponto de vista da
accountability democrática é por que foram incapazes de defender este programa
antes como nas democracias avançadas?
(Uma notável exceção ao padrão é o caso de
Milei que foi eleito, prometendo sacrifícios).
Sob Lula 3, a situação é mais complexa. Por
que não quer repetir o estelionato eleitoral de Dilma pelos custos políticos.
Já começou com uma PEC da Transição que expandiu gastos.
O conflito previsto por Pasqualini definitivamente
se instalou.
Lula advertiu Haddad que deveria ler menos livros e negociar.
Tebet também recebeu advertências.
Lula dobrou a aposta na Petrobras. Sim,
empresas e bancos estatais são o mecanismo privilegiado de criar bonanças
insustentáveis.
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