domingo, 9 de fevereiro de 2025

A bala de prata de Eremildo, o idiota – Elio Gaspari

O Globo

Eremildo é um idiota e pedirá uma audiência ao governador Tarcísio de Freitas e ao seu secretário de Segurança, o capitão da PM Guilherme Derrite. O cretino levará aos dois a sua ideia de criação do Sindicato dos Bandidos Autônomos do Estado de São Paulo. Seria um projeto piloto, capaz de ser estendido a outros estados.

O Sindicato dos Bandidos Autônomos só aceitaria a filiação de companheiros sem ligação com o crime organizado. De saída, combateria policiais que exercem ilegalmente a profissão de delinquentes, praticando uma flagrante concorrência desleal contra bandidos que trabalham regularmente no estado.

A instituição firmaria convênios para troca de informações com o Ministério Público e as Corregedorias das polícias civil e militar, pois a bandidagem tem muito a oferecer.

O cretino está habituado a receber críticas por ter ideias malucas. Ele levará a Tarcísio e Derrite fatos capazes de demonstrar que o idiota não é ele.

Um capitão da PM lotado na Casa Militar de Tarcísio tinha conexões com o Primeiro Comando da Capital. Pelo menos 15 policiais foram apanhados na execução e na escolta do empresário-bandido-delator Vinicius Gritzbach. Os tiros teriam sido disparados por três PMs e as balas haviam pertencido à corporação. Foi preso também um delegado da Polícia Civil.

Eremildo é um idiota razoável e reconhece que grandes corporações sempre terão maçãs podres, mas os fatos surpreenderam-no. Na semana passada, o Ministério Público foi ao presídio da Polícia Civil, atrás dos celulares que vinham sendo usados por dois detentos para montar videochamadas, pressionando parceiros. Até aí seria o jogo jogado: dois detentos conseguiram receber celulares numa prisão.

A operação do MP varreu todo o presídio e coletou 23 telefones, 26 fones de ouvido, 11 smartwatches e 14 carregadores.

O Sindicato dos Bandidos Autônomos assumiria o compromisso de assessorar a tropa do capitão Derrite em operações na Baixada Santista para baixar sua taxa de letalidade.

As contas da Previ

Os companheiros da direção da Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil, estão reclamando porque o Tribunal de Contas resolveu auditar suas transações.

Essas coisas assim acontecem quando um fundo teve R$ 14 bilhões de perdas e o governo entrou na segunda metade do mandato do presidente.

Na primeira metade, quando tudo eram rosas, o companheiro João Vaccari, ex-tesoureiro do PT, foi uma voz poderosa na instituição.

Itaipu Productions

A Itaipu Binacional adquiriu um estranho gosto por eventos. Em novembro passado, torrou R$ 83,4 milhões com iniciativas paralelas à reunião do G-20 no Rio. Agora, a repórter Andreza Matais conta que ela abriu uma licitação para contratar, por R$ 13,5 milhões anuais, uma empresa de eventos.

Vá lá que o seu atual presidente, o ex-deputado federal Enio Verri (PT-PR), queira lustrar sua gestão. Contudo, o valor do novo contrato será 187% superior ao custo anual do que esteve em vigor. Mais: ele durará cinco anos, indo até a segunda metade do mandato do próximo presidente da República.

Procurando qualificar os concorrentes, o edital exigia, por exemplo, que pelo menos um evento, tivesse a presença de chefes de Estado, ou autoridades do primeiro escalão de outros países.

Empresas do setor impugnaram o edital. Uma cláusula que exigia experiência em montagem de estandes, painéis luminosos e totens, foi retirada.

Continua de pé a oferta de uma viagem espacial a quem saiba de outra hidrelétrica que patrocina eventos com esse vigor.

Memória: o coronel da reserva e ex-deputado Costa Cavalcanti construiu Itaipu no século passado sem eventos, e assim a Binacional continuou por anos.

Trump ganhou uma

Donald Trump pode ter dito muita besteira nos últimos dias. A ideia de transformar a Faixa de Gaza numa Riviera foi exemplar.

Mesmo assim, ele emplacou uma. Rosnou e o Panamá desligou-se do projeto chinês da Nova Rota da Seda.

Fez bem o Brasil que nem entrou.

Lula 3.02

Em uma semana de exposição pública, Lula culpou quem compra comida cara pela carestia e descosturou a tessitura diplomática que sonhava com um astucioso silêncio diante de Donald Trump.

Chefe de Estado, subiu no palanque com a postura de um mestre-escola. O dólar subiu porque Roberto Campos Neto saiu do Banco Central deixando armada uma arapuca.

As próximas pesquisas medirão a eficácia dessa velha marquetagem.

Sem choro nem vela

O PSDB agoniza e caminha para um enterro de indigente. Não se pode dizer que fará falta porque, insepulto, perdeu qualquer relevância.

O partido de Fernando Henrique Cardoso, a quem se deve a restauração do valor da moeda, deu a São Paulo dois grandes governadores, Franco Montoro e Mário Covas.

Quem hoje reclama da polarização política, na verdade expressa uma certa saudade do PSDB. Elitistas e moderados, os tucanos foram a oportunidade perdida de uma social-democracia brasileira.

Civilizados, geralmente comprometidos com a moralidade pública, essa geração fugiu nos anos 80 e saiu (ou foi saída) de cena, substituída por variantes de coisa nenhuma.

O CFM teria mais o que fazer

O Conselho Federal de Medicina foi criado em 1951 para “fiscalizar e normatizar a prática médica no Brasil”. Noves fora algumas organizações sociais dirigidas por médicos ao estilo das milícias, proliferam bibocas oferecendo tratamentos milagrosos e convênios municipais para mutirões como os de catarata, que acabam cegando as vítimas. Na semana passada, um hospital de São Paulo foi apanhado usando furadeiras de pedreiro para perfurações ósseas em pacientes.

Um simples Conselho Federal não poderia ser bedel de 576 mil médicos. Daí o gastar energia processando uma médica e professora universitária por opiniões emitidas numa entrevista, vai enorme distância.

Desde agosto do ano passado o CFM processa a professora Ligia Bahia, da UFRJ, porque, entre outras coisas, criticou confraternizações de hierarcas do Conselho com o presidente Jair Bolsonaro durante a epidemia de Covid.

A relação de Bolsonaro com a medicina foi excêntrica. A forma como ele obteve seu atestado de vacina tornou-se questão policial e a papelada do caso está na Procuradoria-Geral da República.

Numa etapa preliminar e acessória, a iniciativa do CFM foi barrada pelo juízo com um simples argumento:

“As manifestações da ré Lígia Bahia em sua entrevista devem ser compreendidas como abarcadas pela liberdade de expressão e de crítica política, ainda que contundentes. Com efeito, o que se ventilou na mencionada entrevista também foi alvo de críticas à atuação do CFM em outros veículos de imprensa.”

O Conselho Federal de Medicina pode não ter percebido, mas teria mais o que fazer.

 

Nenhum comentário: